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Preto e pobre. A morte de Maurício e a indignação seletiva na internet

Reparem bem no rosto deste menino. O nome dele é Maurício. Ele tinha 11 anos. Estava na 3a série do ensino fundamental. Até a noite de sábado (18/6), vivia sua vida humilde de morador da Estrutural, filho de catadores de lixo. Como tantas crianças, gostava de jogar futebol, mas sua paixão era o videogame. Foi […]

Autor Lilian Tahan

atualizado

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Arquivo pessoal
maurício costa souza
1 de 1 maurício costa souza - Foto: Arquivo pessoal

Reparem bem no rosto deste menino. O nome dele é Maurício. Ele tinha 11 anos. Estava na 3a série do ensino fundamental. Até a noite de sábado (18/6), vivia sua vida humilde de morador da Estrutural, filho de catadores de lixo.

Como tantas crianças, gostava de jogar futebol, mas sua paixão era o videogame. Foi por causa de um desses aparelhos que o menino acabou barbaramente morto nesta madrugada, ao que tudo indica. Machucado, amarrado com arame, queimado até desaparecer.

As informações ainda são precárias. O que se sabe até agora é que o principal suspeito de matar Maurício é um adolescente de 15 anos, vizinho da vítima. O próprio menor confessou o crime aos policias que investigam o caso.

O motivo? Repito. A disputa por um videogame. Triste demais. Em breve, teremos acesso a mais informações sobre o assassinato. O que não muda a realidade em nada, mas ajuda a corrigir os que não conseguem conviver em sociedade.

Rafaela Felicciano/Metrópoles
Roupas de Maurício no local onde o corpo foi encontrado

 

O que se pode constatar até agora é tão triste como a perda da vida deste pobre garoto. A morte dele não me incomoda, não lhe incomoda, não incomoda o governador desta cidade, nem aos ministros que circulam por aqui, aos deputados, cidadãos de bem como deveria incomodar.

Temos um termômetro bem calibrado para medir a reação das pessoas: as redes sociais. Quando um assunto emociona ou revolta, as pessoas reagem imediatamente. Indignam-se, comentam, compartilham. Por ali, marcam protestos, dão lições, xingam, demonstram solidariedade, se mobilizam para ajudar de alguma forma

Mas Maurício é preto, pobre, morador da Estrutural. O fato de ele morrer brutalmente por causa de um videogame não interessou tanto como o assassinato da estudante de biologia da UnB Louise Ribeiro, que, em março deste ano, foi vítima da crueldade de um colega de curso. Também não chocou tanto quanto o caso de Jéssica Leite, que, na semana passada, perdeu a vida numa facada. A polícia ainda investiga o motivo

Internet/ReproduçãoNeste domingo (19), estamos mais interessados no projeto que instala casinhas nas ruas para abrigar cachorros do frio (foto). Esse post teve muito mais repercussão na página do Metrópoles no Facebook que a morte de Maurício.

Segundo dados oficiais, a diferença na qualidade de vida (renda) de quem mora no Plano Piloto e alguém que vive na Estrutural é de 19 vezes. Um fosso que distancia não só estilos de vida, mas limita a nossa capacidade de ter empatia e compaixão pelos nossos vizinhos. Só dez minutos de carro nos separam.

Olhe bem para esse corpinho franzino. Pense que, dentro daquele peito protegido por uma camisa polo doada batia um coração infantil. Cheio de expectativas, de vontades, de frustrações e de medos. O que será que Maurício sentiu desde o momento em que saiu de casa até que seu corpo fosse consumido pelas chamas de uma vingança juvenil? O que estamos fazendo para evitar que nossos vizinhos cheguem a esse ponto?

Você já se indignou hoje? Já sentiu pena? Se revoltou? Teve vontade de chorar? A trágica história de Maurício, abreviada enquanto a Brasília rica dormia, pode lhe dar um bom motivo.

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