Maria Alice Vergueiro convida Dilma Rousseff para seu enterro cênico
Uma das maiores atrizes do teatro brasileiro, Maria Alice Vergueiro se prepara para vir a Brasília, onde vai encenar o seu próprio velório, na tragicomédia “Why the Horse?”, em cartaz dias 6 e 7 de julho, no Sesc Garagem. Na plateia, a dama da cena underground e uma das grandes intérpretes brechtianas do mundo quer […]
atualizado
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Uma das maiores atrizes do teatro brasileiro, Maria Alice Vergueiro se prepara para vir a Brasília, onde vai encenar o seu próprio velório, na tragicomédia “Why the Horse?”, em cartaz dias 6 e 7 de julho, no Sesc Garagem. Na plateia, a dama da cena underground e uma das grandes intérpretes brechtianas do mundo quer a presidenta afastada Dilma Rousseff e o seu fiel defensor José Eduardo Cardozo, que foi professor da neta da atriz, Isabel Fontana.
Vamos entregar pessoalmente a Dilma e a Cardozo orquídeas e o convite para que eles estejam com a gente. É o meu velório. A teatralização do meu enterro. É legal, é engraçado. Ela vai gostar
Maria Alice quer homenagear Dilma Rousseff. Acredita que ela é uma injustiçada deste jogo político que levou Michel Temer e uma dezena de ministros investigados por corrupção ao poder. Quando conversava ao telefone com o Metrópoles, ela tinha acabado de saber da notícia que o Senado não encontrou relação direta da presidenta afastada com as pedaladas.
Acredito na sua honestidade. Gosto do jeito dela, bonachona, que anda de moto e bicicleta por aí. Quero muito que ela esteja nesse meu velório cênico. Vamos rir juntas
Maria Alice Vergueiro
Maria Alice Vergueiro e sua trupe, o premiadíssimo ator Luciano Chirolli (28 anos de parceria), Carolina Splendore, Robson Catalunha e Sérvulo Augusto (pianista que esteve com atriz no antológico espetáculo “Mãe Coragem”), querem assim mostrar a legitimidade de estar na capital federal ao lado da presidenta numa forma clara de dizer que não acreditam o impeachment.
Preferimos chamá-lo de golpe
Teatro é a ponte
Há tempos, Maria Alice brinca com a morte. Vencendo o medo, encara o destino de frente e mostra que o teatro a vigora, mesmo diante do Parkinson e suas complicações, que a levaram da cadeira de roda à UTI. O palco tem sido a ponte para o gosto pela vida em montagens como a antológica “As 3 velhas”, que esteve em cartaz, em 2010, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). Em São Paulo, recentemente, ministrou concorrido curso livre para atores e não-atores na Escola de Teatro SP, que resultou num badalado happening.
“Why the Horse?” desemboca nessas inquietudes de Maria Alice, que, apesar da imobilidade, voa minuto a minuto em estudos diários da obra do cineasta e místico Alejandro Jodorowsky somadas a leituras constantes de obras variadas, como I Ching e a dramaturgia de Samuel Beckett.
A poesia de Gil
Nesse trajeto, um dos pontos cruciais foi o encontro da atriz com a canção “Não Tenho Medo da Morte”, de Gilberto Gil. Desde em que a descobriu, Maria Alice não cansa de ouvi-la. Diante da canção, palmilha cada palavra como se entendesse a sua finitude.
Não tenho medo da morte
mas sim medo de morrer
qual seria a diferença
você há de perguntar
é que a morte já é depois
que eu deixar de respirar
morrer ainda é aqui
na vida, no sol, no ar
ainda pode haver dor
ou vontade de mijar
Ao telefone, eu me despeço de Maria Alice Vergueiro às gargalhadas. Haja vida. Evoé!
Quando morrer, não vai ter enterro. Quero ser cremada e as cinzas jogadas num lugar lindo. Por isso, aproveitem esse caixão cênico
Maria Alice Vergueiro
Maria Alice Vergueiro é a grande homenageada do Sesc Palco Giratório, maior projeto de circulação teatral do Brasil.
