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Dublagem de Wolverine por IA reacende debate no mercado audiovisual

Dois casos recentes chamaram a atenção para a disputa entre dubladores e a Inteligência Artificial (IA), que tem gerado debates constantes

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Isaac Bardavid wolverine
1 de 1 Isaac Bardavid wolverine - Foto: Reprodução

O uso da Inteligência Artificial (IA) na dublagem está marcando uma nova era no setor de entretenimento, principalmente no Brasil, um país com uma longa tradição na arte da dublagem. A tecnologia traz consigo uma série de desafios legais e éticos, redefinindo o papel dos dubladores e a natureza da propriedade intelectual, o que causa debates sobre a utilização do recurso.

Nesta semana, dois casos chamaram atenção para o assunto. Nessa terça-feira (21/5), Scarlett Johansson criticou diretamente o CEO da OpenAI, Sam Altman, por usar de uma voz copiada da sua em um novo sistema da IA ChatGPT.

Em um comunicado publicado em suas redes sociais, Johansson revelou os detalhes de um convite feito por Altman para a utilização de sua voz, que ela recusou – mas mesmo assim a empresa seguiu em frente, o que a deixou “chocada, irritada e sem acreditar que o Sr. Altman tinha usado uma voz tão estranhamente semelhante que nem os amigos próximos e meios de comunicação perceberam a diferença”.

O outro caso aconteceu no Brasil. João Bardavid, neto do ator e dublador Isaac Bardavid, dublador de Wolverine que morreu em fevereiro de 2022, fez um desabafo no Instagram oficial do artista a respeito do uso de Inteligência Artificial (IA) na dublagem. O rapaz se posicionou contra a substituição de humanos por robôs que imitam falas no cinema e na TV.

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Vale destacar que o pronunciamento ocorreu após um canal no YouTube recriar o trailer de Deadpool & Wolverine com a voz do Isaac Bardavid por IA, o que gerou revolta, especialmente entre os dubladores profissionais. O vídeo foi publicado e feito por um fã para mostrar como ficaria o resultado caso Logan fosse dublado pelo artista que dedicou sua carreira ao personagem.

Regulamentação da IA

Em entrevista recente ao canal Hall da Ideia, Guilherme Briggs, um dos maiores dubladores do país, deu sua opinião sobre o assunto e ressaltou a importância da regulamentação do uso da Inteligência Artificial.

“A IA tem que ter algum controle, porque se não ela vai tirar o trabalho de desenhistas, animadores, dubladores, cantores, de uma fatia enorme do mercado. Eu acho que a gente não vai querer ficar comendo só comida processada, e a Inteligência Artificial acaba sendo isso”, explicou.

Guilherme ainda ressalta que fica triste com a IA “roubando” o estilo dos artistas e usando sem descrição. “Tem que ter alguma forma de regular isso, se não vai virar bagunça”, afirma.

Vale destacar que, neste ano, dubladores brasileiros criaram um movimento para pedir a regulamentação do uso de inteligência artificial em filmes, séries, jogos de videogame e outras produções audiovisuais.

“Nosso interesse não é proibir nenhuma evolução tecnológica, queremos apenas garantir que o que é apenas uma ferramenta de criação não passe a ser entendido como o nosso criador”, diz um manifesto da campanha Dublagem Viva.

É ilegal?

Em entrevista ao Metrópoles, o professor de Direito do Centro Universitário de Brasília (UniCEUB), Leonardo Aquino, afirmou que usar a voz de qualquer pessoa sem o seu consentimento é ilegal e passível a processo e indenização.

“A voz de um indivíduo é um direito da personalidade, ou seja, é um direito da pessoa humana. A pessoa humana pode, segundo o Código Civil, autorizar o uso da sua voz ou não autorizar o uso da sua voz em qualquer mídia. Então, em relação à pessoa viva, cabe exatamente a ela essa autorização, se uma empresa poderá ou não explorar a sua voz. Estou tomando como ideia as músicas, as falas. Então, o primeiro ponto é um direito da personalidade. Quem a utilizar sem a sua autorização tem direito a uma indenização na forma do Código Civil”, afirma.

Quanto à pessoa que já morreu, como o caso de Isaac Bardavid, Leonardo explica: “Se for um morto, o uso da voz de alguém que já faleceu, ele pode deixar isso em testamento dizendo que não pode ou que pode, e em caso de não existência de previsão testamentária, terá a legitimidade para proteger o direito, essa medida de cessar a ameaça ou a lesão, o cônjuge sobrevivente ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau”.

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