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Entrevista: “Todas as áreas do DF estão em crise”, diz Ibaneis Rocha

O governador eleito reafirmou promessas de campanha e disse que, apesar do diagnóstico, não adotará o discurso da “herança maldita”

atualizado

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Rafaela Felicciano/Metrópoles
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1 de 1 ibaneis - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Neste 1° de janeiro, Ibaneis Rocha (MDB) assume o controle do Distrito Federal com o desafio de conciliar déficit estimado pela equipe de transição da ordem de R$ 3 bilhões com a execução das promessas de sua campanha, igualmente hiperbólicas.

Segundo Ibaneis, em entrevista ao Metrópoles, seu governo assumirá terra arrasada, com problemas estruturais em todas as áreas de interesse do brasiliense: saúde, educação, segurança e economia. No entanto, o novo chefe do Executivo diz que não vai se valer da muleta da “herança maldita” para justificar dificuldades administrativas.

A contradição nos números entre o governo que entra e o que sai é significativa. A equipe do emedebista fala em um rombo bilionário, enquanto Rodrigo Rollemberg (PSB) enfatiza que as contas estão no azul, com saldo de R$ 600 milhões.

“Ele vai deixar os R$ 600 milhões em conta, realmente, mas fruto do não pagamento dos débitos que não foram inscritos. Em todas as áreas que você conversa, ele deve. Tem muitas despesas que não foram lançadas. Mas, essa questão de números pouco importa. A partir de 1º de janeiro, vamos lançar todos os débitos que existem, auditar todas as contas, fazer todos os pagamentos e colocar o DF em dia”, promete o emedebista.

Veja o vídeo completo da entrevista:

 

Durante a conversa, Ibaneis afirmou que vai olhar para a frente. Desde 28 de outubro, quando foi eleito com 69,79% dos votos, ele tem realizado reuniões com integrantes do governo federal, de bancos e entidades. Até o momento, diz ter captado para o DF R$ 2 bilhões em recursos da União – dinheiro que será usado para investimentos em infraestrutura.

“Consegui financiamentos da Caixa Econômica Federal e transferências da União. A Caixa está prestes a liberar ainda R$ 320 milhões para fazer o túnel de Taguatinga. Conseguimos o contrato para a construção de 12,4 mil casas no Itapoã Parque. Todos esses recursos que estão vindo do governo federal vão ser investidos em infraestrutura”, disse.

Entrave
Apesar das articulações, Ibaneis tem um empecilho para concretizar novos financiamentos: o Centro Administrativo (Centrad), em Taguatinga. O consórcio que construiu o prédio por meio de parceria público-privada (PPP), formado pela Via Engenharia e a Odebrecht, tomou um empréstimo de R$ 540 milhões e não pagou a dívida.

O valor corrigido soma R$ 900 milhões e representa entrave entre o banco e o GDF. “Temos R$ 3,2 bilhões para serem liberados na Caixa Econômica Federal travados, infelizmente, por conta do Centrad. Vamos resolver esse problema”, prevê.

Ibaneis acredita que conseguirá repetir, na gestão do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), a boa relação que tem com o atual governo federal, chefiado pelo correligionário Michel Temer. Sua ideia é fortalecer o DF entre os estados, usando como atrativo a posição estratégica ocupada por Brasília.

“Temos aqui uma cidade que centraliza o país, como era o sonho de JK [ex-presidente da República Juscelino Kubitschek]. Chegar em Brasília é muito fácil, de qualquer parte do Brasil, somos um hub“, reforçou.

Nessa perspectiva, Ibaneis reafirmou ainda a intenção de atrair empresas para a capital, oferecendo segurança jurídica para as companhias que queiram investir no DF: “Governo é para pobre. Empresário, rico, você só não precisa atrapalhar. Essa é a mentalidade do nosso governo”.

Na conversa com o Metrópoles, o governador eleito revelou também o que pretende fazer com o Instituto Hospital de Base, como será a relação com a Câmara Legislativa e em que condições concederá a terceira parcela do reajuste aos servidores. Comentou ainda a recente derrota que seu grupo político sofreu na disputa pela Ordem dos Advogados do Brasil Seccional DF, o berço de onde nasceu politicamente.

Veja a íntegra da entrevista:

Metrópoles – Nas últimas semanas, a equipe de transição recolheu uma série de informações sobre o atual governo. O senhor tem noção exata de como estará o Distrito Federal em 1º de janeiro? Que DF é esse?

Ibaneis Rocha – Reunimos, dentro desta transição, as pessoas ligadas às áreas mais sensíveis. Tenho convicção de que vou receber um DF com muitos problemas, principalmente na área de saúde. Também há problemas na área de educação, na segurança e uma crise financeira que talvez não seja aquela que está sendo anunciada. Uma crise financeira que diz respeito à questão de investimentos e, principalmente, à dificuldade da resolução dos problemas.

Porém, a equipe trabalhou muito bem e eu não vou poder assumir dizendo “eu não sabia”. Tudo foi estudado, analisado, e nós vamos enfrentar os problemas com muita vontade de resolvê-los. É um quadro muito claro hoje, no DF, um quadro de muita dificuldade, no qual a situação da cidade está toda em crise. Não existe nenhuma situação boa, todas as áreas estão em crise.

Integrantes do governo de transição chegaram a falar em um rombo financeiro de R$ 3 bilhões. O governador em exercício, Rodrigo Rollemberg (PSB), disse que deixa para o senhor uma sobra de R$ 600 milhões. De onde vem o exagero?

Não tem exagero em nenhuma das partes. Ele vai deixar os R$ 600 milhões em conta, realmente, mas fruto do não pagamento dos débitos que não foram inscritos. Em todas as áreas que você conversa [há problemas], por exemplo, na saúde: ele deve para os hospitais particulares uma fábula de recursos que não estão contabilizados porque não foram lançados. Há muitas despesas que não foram lançadas. Mas estou com muita tranquilidade.

Com R$ 600 milhões a mais ou R$ 3 bilhões a menos, o governo vai acertar todas as contas. Quero deixar essa questão de passado. Quero olhar para a frente e desenvolver o Distrito Federal. Essa questão de números pouco importa. O que importa é o que vamos fazer a partir de 1º de janeiro. Nós vamos lançar todos os débitos que existem, auditar todas as contas, fazer todos os pagamentos e colocar o DF em dia

O senhor já anunciou quase 60 nomes das pessoas que vão lhe assessorar diretamente, entre secretários e presidentes de empresas. Várias vêm do governo federal, da gestão Temer. São personagens do partido ao qual o senhor é filiado, o MDB. O senhor escolheu basicamente um governo mais político do que técnico. Como isso vai lhe ajudar na condução do GDF?

Acho que essa é uma avaliação um pouco errada que está sendo feita. Eles são políticos porque estão vindo da política, tinham um cargo político, mas são nomes muito técnicos. O ministro Gustavo Rocha, por exemplo, é extremamente técnico e conhece muito a área em que trabalha. Ele é um excelente jurista e atuou no Ministério dos Direitos Humanos com muita categoria, colocando todas as questões ali em ordem. Gilberto Occhi, que será presidente da Terracap, foi presidente da Caixa Econômica Federal e ministro da Saúde: tem uma larga experiência.

São nomes da política testados profissionalmente. O nosso ministro dos Transportes é um dos profissionais mais qualificados do país. Foi superintendente do Dnit, conhece todas as áreas de infraestrutura e vem para assumir a Mobilidade Urbana no DF.

Então, eu tenho uma avaliação diferente. Poucos deles são políticos. Eles são técnicos que estavam na política, no governo Temer. Mas essa é a prova de que viemos para fazer diferente, porque deixei de trazer a fórmula convencional, que era a de agradar aos deputados distritais, agradar aos políticos da cidade.

Estou trazendo pessoas experimentadas na vida. Por exemplo, o próximo presidente do BRB, o Paulo Henrique Rodrigues Costa, é vice-presidente da Caixa Econômica Federal: conhece tudo da área econômica e virá para mudar o nosso banco. São nomes nacionais com muita experiência.

Rafaela Felicciano/Metrópoles

Quando o senhor falou em renovação, os brasilienses pensaram que haveria uma mudança no perfil dos escolhidos para cargos no GDF, que o grupo seria formado por pessoas fora do meio político. Ao escolher nomes que já estão circulando na política há algum tempo, o senhor frustra um pouco a expectativa de que haveria renovação. Não entende dessa forma?

Não, não. Entendo de uma forma completamente diferente. Entendo que a hora de renovar é a hora de fazer as coisas diferentes. Veja você que, durante a montagem do secretariado, pouquíssimos nomes vieram da política do Distrito Federal. Eles vieram de uma origem muito técnica. O Sarney Filho, por exemplo, é talvez um dos maiores especialistas em meio ambiente do mundo. O fato de ser filho do [ex-senador José] Sarney não atrapalha a vida dele.

Isso é fazer política nova, inovar nas formas de escolher. Muitos secretários, por exemplo, eu mal conhecia. O Ruy Coutinho, por exemplo, secretário de Desenvolvimento Econômico, é uma das pessoas reconhecidas nacionalmente na área econômica. Eu nunca tinha visto na minha vida, mas é um técnico, uma pessoa que vai fazer o DF se desenvolver.

Qual será seu primeiro ato como governador?

Além daqueles atos normais de nomear e exonerar, a primeira coisa será cuidar da saúde. Vamos entrar com várias medidas na área da saúde, trazendo profissionais, reorganizando os hospitais e dando atendimento à população. Ninguém aguenta mais.

O secretário Osnei Okumoto, que eu também não conhecia, tem a determinação de resolver o problema da saúde no DF. Nós vamos fazer isso colocando recursos, organizando a gestão, fazendo todo tratamento emergencial para tirar o DF da fila da UTI em que ele está.

O senhor já tomou a decisão sobre o que será feito com o Instituto Hospital de Base?

Será totalmente remodelado, mas não extinto. O modelo, segundo o Osnei me passou, é muito bom, mas está sendo mal utilizado porque não tem instrumentos de controle, como eu já vinha apontando durante a campanha. Não tem forma de contratação com clareza, não tem transparência nas contratações nem nas compras. É tudo adquirido sem que haja nenhum modelo de licitação.

Vamos mudar esse instituto para transformá-lo em uma instituição bastante transparente. Vamos implementar o instituto em toda a base. O contrato de gestão do hospital, por exemplo, é muito bom. Tem todas as formas de cadastramento, de utilização de meios de compras. Vamos expandir esse sistema para toda a rede hospitalar.

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Em campanha, o senhor fez inúmeras promessas: diminuir impostos, como o IPVA e o IPTU, aumentar os salários das forças policiais, construir novos hospitais, reformar escolas, reabrir delegacias. Hoje o senhor é capaz de reafirmar esses compromissos?

Todos eles, com toda tranquilidade. Trabalhei, desde o dia em que fui eleito, para conseguir recursos para o DF e melhoramos o orçamento daqui, principalmente a transferência de verba da União. Vamos atrás de recursos de outras fontes de financiamento e tenho certeza que, com o aumento da arrecadação que vamos ter a partir de 2019, cumpriremos todas as nossas promessas de campanha.

Quanto dinheiro o senhor já captou para o DF?

Foram mais de R$ 2 bilhões, com certeza. Consegui financiamentos da Caixa Econômica Federal e transferências da União. E temos R$ 3,2 bilhões para serem liberados na Caixa Econômica Federal que estão travados, infelizmente, por conta do Centrad. Nós vamos resolver esse problema.

Onde essa verba será aplicada?

Infraestrutura. Por exemplo: há R$ 320 milhões prestes a serem liberados pela Caixa Econômica Federal para fazer o túnel de Taguatinga. Também temos a parte de infraestrutura, conseguimos o contrato para a construção de 12,4 mil casas no Itapoã Parque. Todos esses recursos que estão vindo do governo federal vão ser investidos quase todos em infraestrutura. Na parte de hospitais, nós conseguimos R$ 840 milhões na área da saúde, com o ministro Gilberto Occhi e com o presidente Temer.

O senhor vai pagar a terceira parcela do reajuste devida aos servidores? Quando?

O próprio governador já deixou isso previsto no orçamento de 2019. O que me preocupa não é o pagamento da terceira parcela, porque para isso tem recursos. O que me preocupa são os retroativos, que não foram pagos ao longo desses últimos anos e dão em torno de R$ 3 bilhões. Esse valor é devido e tem que ser pago.

Agora, precisamos ver como vamos pagar. Espero que, com a regularização da economia, a gente possa fazer um parcelamento junto às categorias, solucionando esse passivo. Eu acho que não é preciso entrar em precatórios, porque foi um débito que o governo gerou, não existia questionamento judicial sobre isso.

Até agora, o governo de transição não se movimentou em relação à escolha dos administradores para as regiões administrativas. Como será esse processo? O senhor vai governar, por um período, com os administradores escolhidos por Rollemberg?

Já tenho um mapeamento de todas as regiões administrativas, com todos os nomes que serão indicados, mas deixei por último de propósito, para tirar as tensões políticas. Foi uma estratégia minha. No dia 1°, após a eleição da Câmara Legislativa, os nomes serão anunciados.

É de praxe que as regiões administrativas sejam entregues aos deputados distritais. Vai ser diferente no seu governo?

Vou ouvir todos eles. Se algum deles teve uma votação expressiva em uma cidade, é sinal de que fez um bom trabalho, como no Núcleo Bandeirante: o Hermeto (PHS) foi o mais votado lá. Não custa ouvi-los, mas não quer dizer que eles vão dominar essa região. Não tenho problemas com indicações, desde que o administrador execute suas funções. Garanto que terá um corpo técnico muito forte para ouvir e atender a população.

Sobre a questão do Centrad, existem pelo menos 60 processos embarreirando a transferência do GDF para o complexo. Hoje, o governo está impedido de fazer qualquer convênio em função das pendências. O que o senhor pretende fazer?

A primeira coisa que fiz foi conhecer o problema. Fui à Caixa Econômica Federal, peguei os dois melhores procuradores e fui tratar da questão. A partir do laudo que está sendo feito pela Polícia Federal, pelo governo federal e pela Caixa, chegamos ao valor de R$ 540 milhões gastos na obra. Atualizado pelo menor índice, a cifra chega a R$ 900 milhões. Eu disse para a Caixa que tenho interesse em comprar, porque quero “desenbarreirar” o Distrito Federal.

Não quero saber de consórcio e estou pouco me lixando para as empresas. Disse para resolver os problemas com as empresas e fazer um financiamento que o DF tenha condições de pagar, ou seja, pegar o que ele paga de aluguel hoje, que dá em torno de R$ 9 milhões por mês, e fazer com que isso caiba dentro do orçamento. A proposta que está sendo feita é essa: R$ 900 milhões para a compra, pagos em 24 anos, com dois anos de carência. A parcela será de R$ 8 milhões.

O Centrad não envolve só o interesse público – que está em primeiro lugar –, mas o interesse de Ceilândia, Taguatinga e Samambaia. Há terrenos da Terracap em torno do Centro Administrativo que tem uma valorização bilionária. Se aquilo for aberto, teremos os financiamentos da Caixa necessários para os investimentos. São R$ 3,2 bilhões que a Caixa tem para liberar para o DF. O Centrad não pode ser pensando só do ponto de vista da compra, mas do desenvolvimento da cidade.

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Quando o senhor foi eleito, disse que, se o governador atual não concluísse a obra do viaduto que caiu no Eixão, o senhor iria demolir o elevado e construir outro. Qual será a solução?

A minha vontade era essa. Se ainda não tivessem sido feitos a licitação e os investimentos, eu teria demolido para apagar esse episódio da história do Distrito Federal. Mas tenho responsabilidade com as coisas públicas. O dinheiro está investido. Vamos acelerar as obras para a estrutura ser devolvida para a população.

Técnicos do TCDF revisitaram várias obras nas quais havia problemas estruturais. Nada foi feito, mesmo depois de o viaduto ter caído. O senhor vai fazer investimentos nessas obras?

Brasília envelheceu muito rápido. Toda vez que chove, a gente vê isso com muita clareza. As obras de captação de águas pluviais já não aguentam mais. Temos um asfalto totalmente deficitário em toda a cidade. Brasília precisa ser revisitada e remodelada. Não existem recursos no orçamento para investimentos. Vamos ter que buscar novas formas. Por isso que fiz a modificação na Terracap.

Quais são as formas de investimentos? Há mais de 100 terrenos no Noroeste que podem servir de base para um fundo de investimentos. Eles capitalizam o fundo, fazemos as obras, os terrenos valorizam e capitalizam o fundo novamente. Aí você tem todo um bairro remodelado. Vamos ter que passar por alguns instrumentos de captação privada para essas obras. Brasília tem potencial para isso.

A Terracap é um banco imobiliário que, bem gerido, pode reformar a cidade toda. No momento que você revisita as obras que precisam ser realizadas, você valoriza os terrenos da cidade, os imóveis. Vamos precisar de uma parceria entre Terracap, BRB e fundo de investimento, como a Funcef [Fundação dos Economiários Federais].

Sobre o novo presidente da Terracap, Gilberto Occhi: foi presidente da Caixa e tem um contato muito firme no mercado financeiro. Quando você coloca ali dentro um bancário, você traz essa visão de que a cidade precisa captar recurso.

Esse é o contexto hoje, em um governo Temer. Mas, a partir de agora, a gente estará falando da gestão Bolsonaro. Acha que Occhi vai manter essa influência?

Talvez não na Caixa Econômica Federal, mas, dentro do mercado financeiro, não tenho dúvida. É uma pessoa que tem uma história no mercado financeiro, que entregou resultados enquanto presidente da Caixa, como é o caso do Paulo Henrique, do Nelson, que estão hoje lá dentro. Certamente, vão ajudar a captar.

O que traz crescimento para uma cidade é credibilidade. Eu sempre digo isso: o maior investimento de um governador é a credibilidade

Eu tenho ouvido muitos empresários dizendo: “Vou voltar a investir no Distrito Federal porque agora tenho segurança jurídica”. Eu tenho escutado isso de inúmeras pessoas. Acho que é isso que traz emprego, renda e arrecadação para a cidade: olhar para a frente, e não para o passado. Problemas têm em tudo quanto é lugar. Problemas têm em todos os estados deste país, inclusive em São Paulo, que é o maior da Federação. Agora, se você tem a visão do passado, do atraso, de que a cidade tem depressão, você joga a cidade ainda mais na depressão.

Qual é a expectativa do senhor em relação ao governo Bolsonaro? Na campanha, ele andou falando que era mais Brasil e menos Brasília. O senhor acha que vai, com jeitinho, conseguir reverter esse movimento e trazer mais investimentos para cá?

Tenho certeza de que o presidente Bolsonaro tem um olhar muito carinhoso por Brasília. Tive oportunidade de já estar com ele pessoalmente, com várias pessoas da equipe, e eu noto que essa frase diz que está na hora de descentralizar o Brasil, colocar a força dentro dos estados e municípios.

Isso é uma coisa muito boa, porque, a partir da Constituição, houve uma centralização de recursos muito grande do governo federal, o que fez com que todos os prefeitos e governadores vivessem com o pires na mão. O que se nota do governo Bolsonaro é que ele quer tirar esse pires da mão, quer tirar a força do Distrito Federal como capital e transferir para os estados. Noto uma boa vontade muito grande.

A nossa tradição é a da capital do funcionalismo público. Sempre tangenciamos vocação para indústria. O senhor acha que consegue criar um ambiente para atrair também as indústrias?

Não acredito que Brasília seja um local para indústrias em si. A EMS, da qual a planta em Hortolândia pegou fogo, escolheu o DF para se instalar. Em janeiro, estarão contratando 540 pessoas e vão gerar R$ 1 bilhão por ano de renda. Já compraram outro terreno da Terracap e vão ampliar essa planta. Pretendem, em um prazo muito próximo, faturar R$ 2,5 bilhões aqui no DF. Acho que esse tipo de indústria cabe aqui dentro.

Que tipo de subsídio o senhor pode, como governador, dar para essas empresas, para que elas voltem o olhar para o DF?

Acho que essa questão da guerra fiscal acabou, graças a Deus. Só de você estar roubando empresas de um estado para o outro diminuiu muito. Acho que o grande subsídio que o Distrito Federal tem hoje para dar é a logística. Brasília é muito fácil de se comunicar com qualquer lugar do país. Temos, hoje, um aeroporto que vai ser de cargas logo, já tenho conversado com o pessoal da Inframérica.

Essa questão da logística é o grande atrativo para o Distrito Federal. E o que faltava aqui? Segurança jurídica. Aqui nada conseguia andar porque a todo momento tinha um empecilho para o empresário.

Eu falei isso muito na campanha: pobre a gente tem que ajudar muito, governo é para pobre. Empresário, rico, você só não precisa atrapalhar. Essa é a mentalidade do nosso governo. Nós vamos facilitar a vida dos empresários, para que eles possam gerar emprego, renda e imposto, para investirmos na vida dos pobres.

O senhor acha que, se conseguir fazer um governo que seja vitrine para o resto do país, teria condições de pleitear cargos no governo federal, como a Presidência da República ou a vice-Presidência?

Tenho, dentro do meu escritório, uma cesta de ovos. Todo mundo me pergunta por quê. Tenho, na minha vida, uma seguinte memória: você precisa cuidar do que tem. Agora chegou a hora de eu cuidar da vida do povo do Distrito Federal. O que vai ser da minha vida depois desses quatro anos ainda não sei.

Durante esses quatro anos, vou cuidar da minha cesta de ovos, que é o meu povo. Posso alcançar tudo aquilo que quiser na minha vida. Tenho convicção disso. Tenho inteligência, família e uma vida extremamente correta. Posso ser o que eu quiser. Se eu disser amanhã que vou ser candidato à Presidência da República, ninguém me segura.

Existe uma articulação forte em torno da eleição do deputado distrital Rafael Prudente (MDB) para a presidência da Câmara Legislativa. É um nome que o senhor apoia?

Não tenho dúvida nenhuma. É um deputado do meu partido. Eu tratei essa questão da forma mais tranquila do mundo. Havia três candidatos, todos da minha base – Rafael Prudente, Rodrigo Delmasso (PRB) e Cláudio Abrantes (PDT). Os três estiveram comigo durante a campanha. E eu disse a eles para fazerem a campanha com tranquilidade, que eu não iria interferir.

Agora, no momento em que alguém atingisse 14 votos, para mim estava decidido. E o Rafael já alcançou 18. Para mim, essa questão da Câmara está resolvida, e foi feita sem a minha interferência. Foi feita na articulação. Primeiro, [Rafael Prudente] convenceu o Rodrigo Delmasso a apoiá-lo e fechou o grupo. Agora, vou convidar – e espero que ele aceite – o Cláudio Abrantes para ser meu líder de governo.

O senhor acredita que vai iniciar o governo com uma base confortável na CLDF?

Pelo menos 18 votos nós temos hoje na Câmara Legislativa. Com toda a tranquilidade, dá para aprovar qualquer tipo de projeto, matérias de interesse da cidade. E os outros que se dizem da oposição são amigos pessoais, como é o caso da Arlete Sampaio (PT) e do Chico Vigilante (PT).

São pessoas pelas quais tenho o maior carinho. Quanto aos demais, senti deles uma boa vontade muito grande, mesmo sendo de partidos da oposição. O que eu vejo é uma vontade muito grande de fazer política de forma diferente. O contato que tive com os deputados foi o mais salutar possível, com todos eles. Tenho certeza que eles vêm para fazer o bem para a cidade e uma política diferente. Eles sentiram que as urnas querem mudança.

Inegável que alguém que saiu de 2% das intenções de voto e alcançou 70% da aprovação da população se elegeu com uma vitória bastante expressiva. Um mês depois, o senhor amargou uma derrota justamente em sua casa: a OAB. Por quê?

Acho que a política da Ordem não interferiu muito na minha eleição. Tive votos de, praticamente, todos os advogados do Distrito Federal. Pouquíssimos não votaram em mim para governador. Nos últimos dias, apoiei o meu grupo, no qual fui criado dentro da política da OAB. Não considero isso uma derrota.

Acho que esse grupo que perdeu já vinha cansado dentro da Ordem. A gente vem desde a época da Estefânia Viveiros, só teve a interrupção do mandato do Francisco Caputo. Então, viemos há muito tempo, desde 2003, na política de Ordem. E o pessoal está querendo mudança. Esse que foi eleito, o Délio [Lins e Silva Júnior], é muito bom. Tenho certeza que vai ser um excelente presidente.

Agora, fica uma lição para essa turma que perdeu as eleições. Eles começaram me enfrentando, porque o meu candidato não era o Jacques [Veloso]. O meu candidato de início era o Cléber Lopes Oliveira. E eles fizeram eleição interna e derrotaram o Cléber. Naquele dia, perderam as eleições porque foram contra o meu candidato.

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