Captação de água do Lago Paranoá espera verba para sair do papel
Retirada para abastecer casas do DF foi aprovada há seis meses e deveria começar ainda este ano. Mas, por enquanto, não há prazo para o processo ser iniciado
atualizado
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Em dezembro de 2015, a Companhia de Saneamento Ambiental (Caesb) recebeu autorização para captar água do Lago Paranoá e ajudar no abastecimento no Distrito Federal. O plano aprovado previa o início da atividade ainda para este ano. Mas as previsões iniciais estão longe de sair do papel. Isso porque as obras permanecem em fase de licitação e a maior parte da verba, oriunda do governo federal, segue sob negociação. O maior problema para colocar em prática os planos está na falta de dinheiro.
“Tínhamos garantido o investimento federal no ano passado. Mas, com a crise financeira e o momento atribulado do país, buscamos novas negociações. Esperamos, agora, o andamento da licitação para termos o valor correto a ser investido”, explica o presidente da Caesb, Mauricio Ludovice.A previsão era de que a obra custasse R$ 465 milhões, sendo R$ 400 milhões provenientes do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Segundo Ludovice, as tratativas devem terminar no segundo semestre, mas não há prazo para o início da captação das águas do lago. O novo sistema deverá abastecer aproximadamente 600 mil pessoas em regiões como Sobradinho I e II, Planaltina, Itapoã, São Sebastião, Lago Norte e Grande Colorado
Com as dificuldades, o foco deve ser o sistema de Corumbá 4, que apresenta obras em andamento e trará água do manancial goiano para o DF. “O fornecimento será direcionado a Santa Maria, Gama, Recanto das Emas e outras localidades, deixando o sistema Descoberto para Taguatinga, Ceilândia e região”, destaca Ludovice. Mas a previsão da atividade também está atrasada. A estimativa era de que a captação fosse iniciada este ano, mas as instalações devem começar a funcionar somente em 2018, como informou o presidente da Caesb.
Preocupações
Desde 2005, o Governo do Distrito Federal busca projetos para novas fontes de captação e abastecimento. No ano passado, três projetos foram aprovados: Corumbá 4, Bananal e, o mais polêmico, o do Paranoá.
Segundo o presidente da ONG Amigos do Lago Paranoá, Guilherme Scartezini, dois pontos trazem preocupação. “A primeira é a qualidade da água. Como o fornecimento será destinado a residências, a fiscalização é uma questão de saúde pública. E a outra se dá pelo risco ambiental ao próprio lago. Há um certo receio de redução de volume do reservatório”, relata.
O presidente da Associação Amigos do Lago Paranoá (Alapa), Marconi Sousa, também teme a ação no reservatório. “É preciso cuidar da orla desde já para que a qualidade da água seja mantida. Mas o que vemos hoje é uma ocupação desordenada das margens, o que pode levar a poluição da fonte”, acredita.
O presidente da Caesb, no entanto, garante que serão tomadas medidas para evitar esses problemas. “A água será captada em um dos locais mais limpos do lago, próximo à barragem, e será tratada seguindo os critérios estabelecidos pelas leis e pelo controle da própria população, acostumada com um fornecimento de qualidade. Quanto ao volume do lago, ele não será alterado. Para isso, o limite de captação será de 2,8 mil litros por segundo”, explica.
O sistema prevê a construção de uma estação próxima à Barragem do Paranoá, outra no Parque Bernardo Sayão – no Lago Sul – e 44,5 quilômetros de tubulações de transporte de água.
População pode ajudar
A busca por alternativas não é uma novidade e a carência de água pode se tornar uma realidade, como afirma o especialista em recursos hídricos e professor da Universidade de Brasília (UnB) Demetrios Christofidis.
Um dos fatores da escolha do DF para ser a capital se deu pela riqueza de mananciais na região. Porém, o crescimento populacional acima do esperado e a ocupação irregular do solo levaram a uma situação limite na qual vivemos. Atualmente, temos o abastecimento garantido, mas novas formas da captação e aumento da eficiência da rede são fundamentais.
Demetrios Christofidis
Enquanto as obras para aumentar a rede de fornecimento de água no DF não são iniciadas, o especialista acredita que outras medidas podem evitar problemas futuros de escassez. “Um primeiro ponto é investir na eficiência dos sistemas atuais. A Caesb faz um trabalho de qualidade, com perdas na ordem de 25%. Mas esse valor pode ser ainda menor, perto de 15%.”
A população também é ponto chave, segundo Christofidis. “Falta conscientização dos cidadãos. As pessoas têm de entender que, ao comprar um imóvel irregular, atacam o meio ambiente e afetam o abastecimento de água. É o caso de regiões como Vicente Pires, ocupadas de forma irregular e que impossibilitam a exploração de mananciais”, alerta.