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IML usa programa semelhante ao Google Maps para identificar cadáveres no DF

A cada 10 corpos encontrados, sete estavam num raio de até 10 quilômetros de onde a vítima havia desaparecido

atualizado

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Myke Sena/Esp Metropoles
crânio
1 de 1 crânio - Foto: Myke Sena/Esp Metropoles

Responsável por um trabalho silencioso e distante dos holofotes, mas fundamental para ajudar a elucidar crimes de extrema violência, a equipe de peritos médicos-legistas do Instituto Médico Legal (IML) da Polícia Civil do DF (PCDF) desenvolveu um método inovador para localização e identificação de cadáveres no Distrito Federal. O software Atlas apontou que, a cada 10 corpos encontrados, sete estavam em um raio de até 10 quilômetros de onde a vítima havia desaparecido.

Em ocorrências de mortes brutais envolvendo casos de alta complexidade, as informações sobre a ligação entre os pontos de desaparecimento e a consequente localização podem ser essenciais para os investigadores das delegacias da área colherem indícios de autoria dos homicídios. Usando como base os dados do Atlas, os profissionais do IML auxiliaram na coleta de informações envolvendo 70 cadáveres localizados em diversos pontos do DF.

O trabalho desenvolvido na Seção de Antropologia Forense do IML não se restringe mais às salas de necropsia e se entrelaça a investigações de casos escabrosos onde vítimas foram esquartejadas, carbonizadas  e tiveram o reconhecimento dificultado. Os legistas atuaram em casos recentes nos quais partes de corpos humanos foram localizados em estações de tratamento de esgoto da Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal.

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Corpo na cisterna

Perverso e brutal, o caso do menino de 12 anos morto asfixiado e jogado em uma cisterna da Vila Estrutural contou com o apoio da Seção de Antropologia para identificar quem era a criança. Os legistas foram acionados em 25 de setembro, logo após o cadáver, irreconhecível, ser retirado do buraco em que estava. Luiz César Ferreira havia sido morto estrangulado com um fio de telefone.

O crime ocorreu em meados de fevereiro, mas só veio à tona sete meses depois, com a divulgação da prisão do suspeito, identificado como Everaldo Cordeiro de Neves, 21. Investigadores da 8ª Delegacia de Polícia (SIA) o prenderam no Recanto das Emas.

Segundo o chefe da Antropologia do IML, Cristofer Martins, o trabalho para identificar o corpo de Luiz foi concluído graças a pequenos detalhes. “Evitamos ao máximo usar o teste de DNA e, mesmo que quiséssemos, a mãe dele está desaparecida e o pai é desconhecido”, disse.

O menino não tinha sequer escova de dentes e havia apenas uma fotografia na qual sorria ao lado do tio. Os médicos-legistas decidiram usar a arcada dentária para comparar com as características do sorriso. “O corpo estava havia meses em estado de decomposição e foi preciso um trabalho minucioso identificando pequenos detalhes dos dentes que foram reproduzidos no computador. Chegamos à conclusão de que se tratava do Luiz, sem a ajuda de exames de DNA”, disse.

Crânio na macumba

Casos curiosos, até então sem autoria definida, também chegam até a equipe formada por Cristofer Martins, além do também médico-legista Alexandre Castro e técnico em autópsia Marcus Gonçalves. Uma das investigações mais escabrosas é a do crânio humano usado em um ritual de magia negra. O “trabalho” foi deixado às margens da BR-080, próximo a Brazlândia, em agosto de 2015. Durante cinco anos, a equipe aprofundou a análise para descobrir a quem pertencia o crânio usado na oferenda.

O crânio foi encontrado sob uma travessa de barro, com ideogramas e vários búzios cravejados na base do prato usado para amparar a caveira. Como em um jogo de quebra-cabeças, a equipe passou anos juntando peças que levassem à origem dos restos mortais. Com a intensificação das apurações, foi descoberto que um túmulo no cemitério de Sobradinho havia sido violado.

Os peritos foram até o local e abriram o caixão de Nivoni Pereira da Silva. “De fato, a ossada estava sem a cabeça e, com isso, conseguimos resolver o mistério”, explicou o médico-legista Alexandre Castro. Boa parte das análises também contou com a participação do médico-legista Malthus Galvão, aposentado.

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Entrevista antropológica

Além da análise feita nos corpos e ossadas, existem outras técnicas empregadas pelo IML para auxiliar na elucidação de crimes violentos. Detalhes da vida de supostas vítimas funcionam como fio da meada para chegar até a identidade de corpos ainda sem nome. “Fazemos a entrevista antropológica com possíveis parentes ou pessoas próximas. São levados em conta detalhes em prontuários médicos, chapas de raio-X, moldes dentários e outros exames que podem acabar batendo com as características do corpo analisado”, esclareceu Cristofer Martins.

O perfil biológico também se tornou ferramenta importante para juntar fragmentos de informações que completem o quebra-cabeças da investigação. O sexo, a estatura, a idade e outras informações importantes são levadas em consideração na tentativa de identificar cadáveres. “Passamos a trabalhar, inclusive, em casos de pedofilia fazendo a análise de características físicas de vítimas”, disse Martins.

Um dos casos apurados pelos peritos envolvia uma situação de vingança virtual, onde o namorado de uma adolescente compartilhou vídeos praticando sexo com a menina. As imagens foram disparadas em grupos de WhatsApp e se tornou alvo de inquérito policial. No entanto, o rapaz negava que o vídeo fosse da garota em questão.

Os peritos identificaram características únicas da menina, como sinais no rosto, pequenas imperfeições na pele e outros detalhes. O aspecto morfológico externo e até a pelificação, – detalhes dos pelos pubianos – são alvo de apuração para concluir que a adolescente foi, de fato, abusada.

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