metropoles.com

Tolerância zero: GDF quer endurecer regras em escolas públicas

Atrasos e faltas recorrentes, brigas e uso incorreto do uniforme não serão aceitos se nova portaria for aprovada pelo Conselho de Educação

atualizado

Compartilhar notícia

Lúcio Bernardo Jr / Agência Brasília
Centro Educacional 03 de Sobradinho
1 de 1 Centro Educacional 03 de Sobradinho - Foto: Lúcio Bernardo Jr / Agência Brasília

A Secretaria de Educação do Distrito Federal quer endurecer as medidas disciplinares dentro das unidades de ensino. O Metrópoles teve acesso a uma minuta de portaria elaborada pela pasta que altera o Regimento Escolar da Rede Pública. O texto pretende fortalecer o papel dos professores e diretores no ambiente de ensino e criar respaldo administrativo para imposição de regras de comportamento aos estudantes. A medida é parecida com as já adotadas nas escolas de gestão compartilhada com a Polícia Militar (PMDF).

Alguns pontos do novo texto são nota por comportamento, suspensão por atrasos recorrentes e proibição de campanhas político-partidárias ou religiosas. As alterações reforçam o combate à violência, ao bullying e a práticas que difamem integrantes da comunidade escolar. Embora esteja em fase avançada, o documento está em construção e ainda será submetido ao Conselho Escolar do Distrito Federal. A ideia é normatizar direitos e deveres de forma mais clara, além de prever consequências para quem descumprir as regras.

A proposta da Secretaria de Educação passa pelo uso correto do uniforme escolar, pela pontualidade e pelo comportamento dos alunos. Segundo o texto, o professor terá autoridade, por exemplo, para fazer “a revista individual dos bens de estudante matriculado e em contexto de aprendizagem, nos casos de fundados indícios de infrações penais ou de atos infracionais previstos na legislação, podendo, quando necessário, solicitar o apoio policial”.

O aluno que cometer ato que resulte na danificação do patrimônio público será penalizado, de acordo com o projeto. Os estudantes ficarão proibidos de fumar nas dependências escolares e de sair ou entrar nas salas de aula sem a autorização prévia do professor. O texto garante aos docentes “exercer o poder disciplinar com autonomia decisória sobre o contexto no ambiente escolar”.

Reprodução
A proposta autoriza que o professor reviste alunos em caso de suspeita de atitude ilícita


Investimentos em recursos

Embora tenha declarado não ter sido chamada para debater a proposta, a diretora do Sindicato dos Professores (Sinpro-DF), Rosilene Correa, afirmou que qualquer tipo de iniciativa para valorizar a atuação dos docentes em sala de aula é positiva. “É preciso empoderar o professor, no sentido do papel que desempenha na comunidade escolar. Mas a Secretaria [de Educação] precisa entender e melhorar outras situações, como a presença do Batalhão Escolar, as equipes disciplinares completas e as condições de atividades extraescolares”, disse.

A sindicalista defende a educação integral como forma de unir a comunidade escolar e despertar o respeito dos alunos de maneira natural. “O modelo facilita esse ambiente ideal. Os estudantes passam a ter outro nível de compreensão, além daquele ‘quadrado’ da sala de aula. É preciso investir mais em recursos para as escolas, em quadros para oferecer aos alunos outras ações que intensifiquem o respeito.”

Reprodução
Contra drogas, campanhas religiosas e politico-partidárias, novas regras querem disciplinar comportamentos

 

Doutora em psicologia social e do trabalho, a professora Leda Gonçalves, da Universidade Católica de Brasília, pondera o fato de o documento não ter sido construído por várias frentes. “A questão é: o ponto principal para que as escolas sejam boas de verdade, na convivência, no comportamento e na educação, é a construção democrática. Essa disciplina militar imposta não gera educação.”

Mesmo não tendo acesso ao documento, a pedagoga destacou depoimentos de estudantes matriculados nas escolas de gestão compartilhada com a PMDF. “Os alunos, quando tiram a camisa do uniforme de dentro da calça, recebem advertências e punições. Não é pelo autoritarismo que vamos melhorar as relações nas escolas. O regimento escolar foi criado de forma participativa. Agora, impor não é o melhor caminho”, opinou.

Em nota, a Secretaria de Educação confirmou a existência do documento e esclareceu que “estuda mudanças no regimento interno das escolas da Rede Distrital de Educação, mas as medidas ainda não foram fechadas”. Segundo a pasta, o novo regimento dará mais autonomia para os gestores lidarem com a violência “e mais deveres aos estudantes, que precisam assumir responsabilidades sobre o próprio comportamento”. “O novo regimento deverá ser lançado oficialmente pelo GDF até o final de maio”, pontuou.

Escolas de gestão compartilhada
Modelo inédito na capital, as escolas com gestão compartilhada passaram a ser denominadas de Colégio da Polícia Militar do Distrito Federal (CPMDF). Os PMs e bombeiros que atuam nos centros de ensino são responsáveis pelas atividades burocráticas e de segurança, como controle de entrada e saída, horários e filas, além de darem aulas de musicalização, ética e cidadania no contraturno. Orientadores, coordenadores e professores permanecem encarregados do conteúdo pedagógico.

Foram escolhidos, inicialmente, quatro colégios para implementar o projeto: Centro Educacional 1 da Estrutural, Centro Educacional 3 de Sobradinho, Centro Educacional 308 de Recanto das Emas e Centro Educacional 7 de Ceilândia.

Polêmica
Na última sexta-feira (26/04/2019), a ação de policiais militares derrubando e imobilizando alunos no Centro Educacional 7 de Ceilândia, após uma briga entre estudantes, reacendeu o debate sobre a gestão compartilhada na rede pública do DF. Vídeos feitos pelos alunos circulam nas redes sociais. As imagens mostram um estudante sendo derrubado e imobilizado por um policial militar. Também é possível ver um segundo aluno sendo controlado por outros agentes de segurança.

O caso foi registrado na Delegacia da Criança e do Adolescente de Ceilândia (DCA 2) e será encaminhado à Corregedoria da Polícia Militar do Distrito Federal. A situação também será alvo de apuração do Conselho Tutelar.

Compartilhar notícia

Quais assuntos você deseja receber?

sino

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

sino

Mais opções no Google Chrome

2.

sino

Configurações

3.

Configurações do site

4.

sino

Notificações

5.

sino

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comDistrito Federal

Você quer ficar por dentro das notícias do Distrito Federal e receber notificações em tempo real?