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Deputado deturpa Paulo Freire em voto contra prêmio: “Prega violência”

Bolsonarista Roosevelt leu informações distorcidas de Paulo Freire, de produtora condenada por fake news, para embasar voto contra prêmio

atualizado

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Gustavo Moreno/Metrópoles
homem de terno falando ao microfone
1 de 1 homem de terno falando ao microfone - Foto: Gustavo Moreno/Metrópoles

A Câmara Legislativa do DF (CLDF) vai homenagear professores em 28 de setembro, durante a 1º edição do Prêmio Paulo Freire de Educação, idealizado pelo deputado distrital Gabriel Magno (PT).

Mas a cerimônia vem rendendo polêmicas nos corredores da Casa e já gerou até a propagação de desinformação em discurso no plenário, como quando o deputado bolsonarista Roosevelt (PL) disse que Freire prega “a violência em âmbito escolar”.

Durante a última sessão legislativa do 1° semestre na Câmara, o distrital (foto em destaque) votou contra a proposta do prêmio. Na justificativa, Roosevelt leu quatro “pensamentos” que, segundo ele, Paulo Freire defendia. Esses pontos, porém, foram ideias distorcidas do educador, postados no site de uma produtora de conteúdo que já chegou a ser punida pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por espalhar desinformação.

“A gente vê aqui algumas pautas que Paulo Freire defende, como: ‘A educação deve formar revolucionários comunistas desde a infância’, ‘não deve existir hierarquia e diferença entre professores e alunos’. Deve ser por isso que a gente está vendo a violência no âmbito escolar”, comentou Roosevelt, no plenário.

Informações falsas

O site de onde o deputado tirou essas informações distorcidas aponta que o educador falava sobre formar revolucionários comunistas no livro Pedagogia do Oprimido. Porém, a obra só cita o comunismo em um trecho, que traz o relato de um estudante.

“Contou-nos um aluno nosso, de um país latino-americano, que, em certa comunidade camponesa indígena de seu país, bastou que um sacerdote fanático denunciasse a presença de dois ‘comunistas’ na comunidade, ‘pondo em risco a fé católica’, para que, na noite deste mesmo dia, os camponeses, unânimes, queimassem vivos aos dois simples professores primários que exerciam seu trabalho de educadores infantis”, traz o livro de Paulo Freire.

Sobre revolução, a obra defende, entre outros pontos, a “prática de uma pedagogia humanizadora, em que a liderança revolucionária, em lugar de se sobrepor aos oprimidos e continuar mantendo-os como quase ‘coisas’, com eles estabelece uma relação dialógica permanente”. 

Mas Roosevelt se embasou naquelas ideias falsas para travar luta contra o prêmio. “Sou de direita, sou conservador, não posso admitir que a gente aceite alguém que pregue a violência no âmbito escolar.”

O corte do vídeo da declaração de voto do distrital vem sendo compartilhado em redes bolsonaristas. Em post no Twitter na última semana, uma página chega a escrever que o educador buscava destruir “os valores cristãos”.

Procurado pelo Metrópoles, o deputado Roosevelt afirmou, em nota, defender “que as escolas tenham qualidade de ensino e também que possuam um ambiente digno, confortável e livre de doutrinação”.

No comunicado, ele voltou a atacar o livro “Pedagogia do Oprimido”, dizendo que a obra defende “um modelo de educação ideológico comunista e totalmente contra a hierarquia, o que não se encaixa em nossas escolas”.

“Em um ambiente escolar, defendo que a hierarquia entre professor e aluno deve ser plenamente definida, garantindo a ordem dentro das salas de aula. Ressalto que irei continuar defendendo na Câmara Legislativa os princípios da família”, completou.

Prêmio

O deputado não foi o único contra a premiação. Como o Metrópoles mostrou nessa terça-feira (5/9), o projeto da homenagem teve regulamentação travada na Mesa Diretora da Casa após o Primeiro Secretário, pastor Daniel de Castro (PP), dizer que Freire “contesta a autoridade do professor”.

A premiação que leva o nome do patrono da educação recebeu mais de 100 inscrições, com projetos de destaque na área. No último mês, a Comissão de Educação, Saúde e Cultura (Cesc) analisou os projetos concorrentes, que serão premiados no fim de setembro com bustos, medalhas e diplomas.

A homenagem traz o nome de um pensador reconhecido mundialmente, e que, por lei, é considerado patrono da educação do Brasil e do Distrito Federal. Em 2011, o Governo do DF (GDF) sancionou a legislação que “declara o educador Paulo Freire Patrono da Educação do Distrito Federal”.

Também há uma data oficial no calendário escolar da rede pública da capital do país, 19 de setembro, para celebrar o pedagogo. A Central Única dos Trabalhadores no DF (CUT-DF), que esteve em cerimônia na Câmara Legislativa na última segunda-feira (4/9), vai promover nesta quarta um ato para reinaugurar o painel que homenageia Paulo Freire na sede da organização, no Conic.

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