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Brasiliense tenta se matar, é salvo por PM e reconstrói a vida

Há nove meses, Valdenilson Gomes tentou tirar a própria vida, mas foi salvo por policial militar que hoje é um dos seus melhores amigos

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Rafaela Felicciano/Metrópoles
Valdenilson Gomes – um ano após a tentativa de suicidio
1 de 1 Valdenilson Gomes – um ano após a tentativa de suicidio - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

As lembranças são recorrentes. Todo santo dia, Valdenilson Gomes, 42 anos, recorda-se daquela sexta-feira, 20 de outubro de 2017. Naquele dia, há nove meses, ele tentou acabar com a própria vida, jogando-se de uma passarela de pedestres perto do Núcleo Bandeirante. O homem vivia um período difícil, à beira do desespero e desequilíbrio emocional, e não suportava as dores do cotidiano.

Em meio a uma crise de depressão potencializada pelo uso de drogas, Valdenilson chegou em casa e discutiu com mulher e filhos. Desesperado, tentou se enforcar. Não conseguiu. Depois, saiu andando a esmo, até chegar ao local onde decidira atentar novamente contra si mesmo.

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Por volta de 18h15, acordou do “transe”. Foi quando policiais militares conversaram com ele, na tentativa bem-sucedida de evitar que o homem se lançasse do alto da passarela. A PM havia sido acionada por uma testemunha. Do outro lado da linha, a pessoa disse que um homem tentava se matar. Era Valdenilson.

Sem dúvidas, aquele foi o pior dia de toda a minha vida. Na manhã seguinte, eu só conseguia pensar: ‘O que eu fiz, meu Deus?’. Não foi a primeira vez que eu havia tentado fazer uma coisa dessas, mas a sensação era diferente e algo despertou em mim um sentimento de que era a última. Tudo isso veio com a vontade de viver. Eu ganhei mais uma chance

Valdenilson Gomes

Valdenilson nasceu em Alvorada (TO), mas chegou em Brasília ainda criança. Ele conta que teve uma infância turbulenta e começou a trabalhar cedo, como aeroportuário. Com a dependência química, porém, precisou ser afastado do serviço e acabou se envolvendo com “pessoas erradas”.

“Passei alguns dias preso por porte ilegal de arma. Sofri muito na cadeia. Ao sair, tentei viver normalmente com a minha família, mas não sabia lidar com o problema das drogas. Fiquei depressivo e o uso de entorpecentes só aumentava o meu sofrimento. Decidi ir embora de casa e tentei tirar a minha vida, pela primeira vez, em 2013”, relata.

O aeroportuário fez tratamento contra a dependência química em uma clínica de reabilitação, mas, em 2017, sofreu uma recaída e voltou a usar substâncias ilícitas. Sem fazer alarde, decidiu não mais viver: “Foram várias decepções e traumas. Hoje, eu prefiro esquecer”.

Recomeço
Agora, em acompanhamento psicológico e psiquiátrico, Valdenilson decidiu contar sua história e mostrar que é possível superar traumas e seguir a vida com pensamentos otimistas.

Depois do salvamento, pensei na minha família. Eles poderiam estar destroçados com a perda. Faço uma reflexão sobre a oportunidade de vida que Jesus me deu, e digo: quem passa pelo que eu passei tem a necessidade de desabafar e dividir a dor com alguém

Valdenilson Gomes

E uma das pessoas que mais acreditam nessa recuperação é justamente quem o salvou naquele momento de pânico, o sargento da PM Henrique Luiz. Lotado no 28º Batalhão (Riacho Fundo), o policial não gosta de ser chamado de herói. Para ele, o que fez naquela noite foi fruto de preparo. “Qualquer policial militar que passasse por ali poderia ter feito o mesmo. O que contou para contornar a situação foi o treinamento e a capacitação”, afirma.

 

Veja imagens* e assista ao depoimento de Valdenilson:

 

Da dor, nasceu uma amizade
Os dois se reencontraram após a ocorrência e, hoje, têm uma relação de amizade próxima. “Visito a casa do Nilson [como a vítima é carinhosamente chamada pelo policial] quase semanalmente. Conversamos sobre a vida e sobre por que vale viver. A história dele me tocou muito e decidi acompanhá-lo. Viramos parceiros nessa luta”, conta o sargento Henrique.

“Atualmente, depois da minha esposa e dos meus filhos, o sargento Henrique é o meu maior incentivador. Agradeço a ele pela solidariedade, amizade e por me salvar, devolvendo a minha vontade de viver”, diz Valdenilson. Cheio de sonhos e planos, ele comemora a vida e fala que “devagar, devagar, a tristeza está dando lugar à alegria”.

“A força e o apoio da minha família na recuperação são essenciais. Estou me apegando às coisas que mais gosto de fazer, como cuidar dos bichos e das plantas, especialmente as orquídeas, e também cozinhar. Juntos, conseguiremos vencer”, diz, convicto. 

Dedicada ao estudo do suicídio há 10 anos, a psiquiatra Renata Viana diz que, após tentar se matar, o ideal é a pessoa ser encaminhada a um psiquiatra e medicada. E, além disso, também deve ter o acompanhamento de um terapeuta e o apoio da família.

A especialista mostra ainda que, no momento de dor, é preciso aconselhar, ajudar e, sobretudo, estar disposto a se aproximar de alguém que demonstra estar sofrendo ou apresentando mudanças acentuadas e bruscas de comportamento. “Se a pessoa não se sentir capaz de lidar com o problema, deve ir em busca de quem possa fazê-lo mais adequadamente”, ressalta.

(*) Imagens da vítima não serão divulgadas, para se preservar a família
Stela Woo/Metrópoles

Arte/Metrópoles

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