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Festas infantis em Portugal: esqueçam o “é pique, é pique; é hora…”

Celebrações de mais um ano de vida “dos miúdos” são muito diferentes em terras tupiniquins e lusas: aqui, diversão é só para os pequenos

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Gui Pacheco/Metrópoles
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1 de 1 IMG_0004 - Foto: Gui Pacheco/Metrópoles

Outro dia – e em instantes você, leitor, entenderá o porquê -, estava me lembrando das festas infantis do meu tempo de criança. Sempre em casa, reunindo os amiguinhos da vizinhança e alguns parentes. A molecada correndo para lá e para cá, destruindo o apartamento. Não, não havia salão de festas naquele tempo. Salgadinhos e docinhos eram feitos em casa. Cachorro-quente, pão de queijo, bala de coco no papel crepom, canudinho de doce de leite, brigadeiro e até aquele espetinho com azeitona, queijo e salsicha, que alguns chamavam de biriba e outros de sacanagem.

O bolo era trazido por alguma tia com dotes culinários mais apurados, mas sem nenhum senso de estética. Tudo em cima de uma mesa, com jarras de ki-suco ou garrafinhas de guaraná caçulinha enfeitadas. Puro merchandising dos refrigerantes que sempre apareciam na clássica foto das crianças em volta do bolo.

Nada de super-heróis, princesas ou equipes de animação. No entanto, todos se divertiam do mesmo jeito.

Ao longo das décadas, as nossas festas infantis ganharam ares de superprodução. Ainda no Brasil, certa vez fui a uma festa em renomado buffet infantil que era uma verdadeira orgia (ops, no bom sentido) de super-heróis. Estavam lá, Hulk, Homem-Aranha, Capitão América, Batman e Super-Homem. Marvel e DC Comics juntas.

As lembrancinhas para as crianças eram melhores que o presente levado por mim. Sem falar nas inúmeras atrações dignas de um parque de diversões. Tenho de confessar: em muitas dessas festas, do ponto de vista gastronômico, aproveitei mais que os pequenos.

Em Portugal, esqueça todo esse glamour. Para começar, o convite não é para os pais, e, sim, para os miúdos. As celebrações normalmente são realizadas em grandes espaços reservados para festas infantis. Nos locais, rolam umas 10 comemorações ao mesmo tempo. Então, esqueça a possibilidade de você sentar numa mesa, tomar uma cervejinha e se empanturrar com coxinhas e empadas, pois simplesmente não há espaço para você. Deixe as crianças e volte mais tarde.

Em um determinado momento, todos os pequenos são chamados, lavam as mãos, fazem um lanchinho, cantam os parabéns para o aniversariante e tchau! Acabou a festa. Imagine isso multiplicado por 10, pois são várias saletas, uma ao lado da outra, onde acontece a celebração final.

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Uma curiosidade: a versão portuguesa do Parabéns pra você é um pouco diferente da nossa. A primeira parte é praticamente igual, mas na segunda entra:

 Hoje é dia de festa 
Cantam as nossas almas
 Para o(a) menino(a) <nome> 
Uma salva de palmas!”

Nada de É pique, é pique ou Com quem será?. Só arrisquei puxar esses coros no aniversário dos meus filhos, mas a turma local não animou muito.

Isso quando a festa não é em casa e lembra os bons tempos das festas infantis versão 1.0, década de 1960/70.

Muitas vezes, as festinhas acontecem nos inúmeros parques da cidade, onde as pessoas se reúnem num clima de verdadeiro piquenique. Sem ostentação, tudo muito simples e singelo, mas com diversão 100% garantida para as crianças

Na verdade, tenho a impressão de sermos nós, adultos, quem de fato quer essas festas megalomaníacas, até para impressionar os outros. E incutimos esse desejo nas crianças, que acabam sonhando com uma megafesta também. Outro dia, li uma matéria sobre os novos brasileiros ricos vindo morar em Portugal. Duas senhoras relataram o projeto de recriar aqui as festas mirabolantes às quais estamos acostumados no Brasil. Com todo o respeito, o público delas se restringirá aos brasileiros que estão se mudando para cá com a mesma mentalidade brazuca, mais orientada para o consumismo da América do Norte do que para a Europa.

As festas infantis foram um dos primeiros choques que eu tive em Portugal e me fizeram repensar uma série de conceitos sobre o que realmente é mais valioso na vida.

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