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Seria um erro emitir agora um mandado de prisão contra Netanyahu

Israel teme que o Tribunal Penal Internacional (TPI) emita um mandado de prisão contra o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu

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Kena Betancur/Getty Images
Primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu -- Metrópoles
1 de 1 Primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu -- Metrópoles - Foto: Kena Betancur/Getty Images

Israel teme que o Tribunal Penal Internacional (TPI) emita um mandado de prisão contra o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu  e outros integrantes do governo do país por cometimento de crimes de guerra em Gaza.

A informação foi divulgada pelo New York Times, nesse fim de semana, e confirmada pelo jornal francês Le Monde. A imprensa israelense ventila que, além do primeiro-ministro, o ministro da Defesa, Yoav Gallant, e o chefe do estado-maior, Herzi Halevi, estejam na mira do TPI.

Uma fonte em Haia, sede do tribunal, confirmou ao jornal francês um “evento iminente”, no âmbito de um processo instaurado em 2021, antes da guerra, portanto, sobre violações do direito internacional cometidas por Israel, em 2014, tanto em Gaza quanto na Cisjordânia.

Na sexta-feira passada, Benjamin Netanyahu postou na rede social X que “Israel não aceitará jamais nenhuma tentativa do TPI de atentar contra o seu direito inerente à legítima defesa. Ainda que o tribunal não afete as ações de Israel, ele criará um precedente perigoso que ameaçará os soldados e os responsáveis por todas as democracias que lutam contra o terrorismo selvagem e as agressões gratuitas”.

Não se sabe se o Tribunal Penal Internacional também emitirá mandados contra chefões do Hamas. Israel acredita que sim.

Se tivesse alguma grandeza, Benjamin Netanyahu deveria sair do cargo por iniciativa própria. Ele fez vista grossa para o financiamento do Hamas, como se pudesse manter o grupo terrorista que dá as cartas em Gaza apenas como fantasma para justificar os assentamentos ilegais na Cisjordânia.

Sob Benjamin Netanyahu, o exército e a inteligência israelenses relaxaram a vigilância sobre o Hamas e, agora, depois do desastre que a negligência implicou, a manutenção da guerra funciona como motivo extra para ele apegar-se poder, sob a alegação de que se trata de um momento de união nacional.

A diplomacia israelense vem trabalhando freneticamente para que os juízes do Tribunal Penal Internacional não façam com Benjamin Netanyahu o que fizeram com Vladimir Putin, acusado de sequestrar milhares de crianças ucranianas depois de invadir o país vizinho.

Há diferenças abismais entre Benjamin Netanyahu e Vladimir Putin. A primeira é que o primeiro-israelense chegou ao poder por meio de eleições livres realizadas em um país democrático que lhe cobrará politicamente todas as faltas cometidas, não só durante o conflito com o Hamas.

A segunda diferença é que a Justiça em Israel é independente. Não se esqueça de que Benjamin Netanyahu também enfrenta há muito tempo um processo por corrupção, suborno, fraude e quebra de confiança que pode levá-lo para a cadeia. Por causa dessa encrenca, ele quis controlar a Suprema Corte do país, sem alcançar êxito.

Além disso, e não menos importante, Vladimir Putin invadiu a Ucrânia, uma democracia soberana, e mata deliberadamente civis, sem que haja nenhum alvo militar nas proximidades dos inocentes alvejados pelos russos. O Hamas, por sua vez, é um grupo terrorista que usa civis como escudos humanos e instalações civis como estruturas militares, em uma área densamente povoada.

O número de civis mortos em Gaza é um ponto a ser verificado. Os números divulgados pela imprensa e pelas entidades internacionais são apenas os fornecidos pelo Hamas, e é como se não houvesse nenhum terrorista entre as baixas. Há milhares deles, segundo o exército de Israel.

Se houve crimes de guerra cometidos por Netanyahu e integrantes do seu governo, isso deve ser apurado meticulosamente, separando atos intencionais dos que não o foram. Neste momento, não há verificação independente possível de ser feita.

Também é  um erro clamoroso igualar o governo de Israel, mesmo que o seu chefe seja um sujeito como Benjamin Netanyahu,  a um grupo terrorista como o Hamas, autor de um massacre sem precedentes em 7 de outubro de 2023, confessadamente genocida e que ataca ininterruptamente há anos território israelense com foguetes, sob patrocínio do Irã, assim como o grupo libanês Hezbollah. 

Ao tomar um decisão drástica, sem que tenha havido uma verificação verdadeiramente independente, o Tribunal Penal Internacional a) atiçará a onda antissemita que tomou conta  do Ocidente; b) fortalecerá politicamente o Hamas, como se o grupo terrorista tivesse matado 1.200 pessoas em Israel e sequestrado mais de duas centenas de cidadãos israelenses, metade deles ainda reféns, como reação, se não legítima, compreensível, a desmandos de Tel Aviv; c) ajudará a África do Sul no seu processo contra Israel, por prática de genocídio, uma acusação despropositada, na Corte Internacional de Justiça, vinculada à ONU e igualmente sedida em Haia.

É de se perguntar, ainda, se a emissão de mandados de prisão contra Benjamin Netanyahu e colegas de gabinete não terá efeito contrário ao pretendido — o de afastar qualquer possibilidade, mesmo mínima, de que ele seja afastado ou renuncie ao cargo antes das eleições de 2026. 

Israelenses de todos os matizes ideológicos sentem-se incompreendidos e perseguidos, e uma ação precipitada do Tribunal Penal Internacional poderá convencê-los de que é o seu próprio país o verdadeiro alvo.

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