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As Forças Armadas são golpistas? Depende das conveniências

Petistas mandam chumbo grosso nas Forças Armadas. Mas a esquerda também já quis apoio militar para estabelecer regimes excepcionais

atualizado

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Isac Nóbrega/PR
Jair Bolsonaro e comandantes militares Freire Gomes -- Metrópoles
1 de 1 Jair Bolsonaro e comandantes militares Freire Gomes -- Metrópoles - Foto: Isac Nóbrega/PR

Depois da operação da PF desta semana, os petistas da imprensa, com o perdão da redundância, voltaram a disparar chumbo grosso contra os militares. Acusam as Forças Armadas de serem golpistas, embora nenhum golpe militar tenha sido tentado ou dado no país.

Havia generais dispostos a embarcar em uma aventura, como fica claro pelas provas que embasaram a operação da PF, mas eles não tiveram influência suficiente para colocar tanques nas ruas.

Que importa? Para a esquerda, as Forças Armadas, como um todo, são culpadas, inclusive porque os seus comandantes não deram voz de prisão a Jair Bolsonaro quando ele lhes apresentou a tal minuta do golpe. O comandante do Exército se limitou a dizer que o então presidente poderia ser preso caso levasse aquilo adiante, enquanto o comandante da Aeronáutica ficou calado e o comandante da Marinha apoiou.

A explicação é que os comandantes, estou falando dos obedientes à Constituição, entenderam que o rascunho de um decreto para estabelecer o estado de sítio ainda não estava fora das atribuições presidenciais. Assim como não extrapolava a alçada presidencial fazer uma consulta aos militares sobre a possibilidade de determinar um regime excepcional previsto no texto constitucional, por mais alopradas que fossem as motivações de Jair Bolsonaro.

Tratou-se de repetição histórica, digamos assim. João Goulart, defenestrado pela ditadura militar, também tentou decretar estado de sítio. Ele consultou os então ministros de Exército, Marinha e Aeronáutica, além do seu ministro da Justiça, e obteve sinal positivo para enviar um ofício ao Congresso Nacional, em 4 de outubro de 1963, no qual solicitava a decretação do regime excepcional por um prazo de trinta dias. 

Para justificar o pedido, João Goulart escreveu que o país estava “ameaçado de grave comoção intestina, que põe em perigo as instituições democráticas e a ordem pública”. Ele voltaria atrás no pedido porque houve reações à esquerda e à direita, todos com medo de que o chamado dispositivo militar, uma vez acionado para garantir o estado de sítio, tomasse o poder. 

Verdade seja dita, Leonel Brizola foi clarividente sobre o que ocorreria no ano seguinte. Disse que, se a esquerda não desse um golpe, levaria um golpe. Leonel Brizola era o Olavo de Carvalho da esquerda. 

As Forças Armadas também não colocaram no xilindró os emissários de partidos de esquerda que consultaram o então comandante do Exército, o general Eduardo Villas Bôas, sobre a decretação do estado de defesa, nos dias que antecederam o impeachment da petista Dilma Rousseff. 

A ideia foi rechaçada, da mesma forma que ocorreu com Jair Bolsonaro, mas prevaleceu a interpretação de que a simples consulta não configurava — ainda — golpismo. 

Forças Armadas. Relendo o que já escrevi sobre elas, constato que já as defendi, já as exaltei e já as ataquei. Admiti até que os militares tinham o direito de participar da política, veja você como eu estava errado. O conjunto de artigos é dissonante, mas lembro, em meu favor, que os militares não formam um bloco monolítico — há de quase tudo dentro dos quartéis e os ânimos do generalato variam ao sabor das diversas situações. Brasileiros.

Em determinados momentos, as Forças Armadas baniram a democracia; em outros, elas garantiram a ordem constitucional; com Jair Bolsonaro, meteram os pés pelas mãos. 

Os militares acharam que controlariam o capitão encrenqueiro, não conseguiram e foram arrastados para o centro de um tremenda confusão que tem como ingrediente adicional os dois pesos e as duas medidas da esquerda. Quando é ela a querer um regime excepcional, não é golpe, mas defesa da democracia. Não é diferente com a direita. Só um pouco: o cinismo é menor.

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