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Análise: caso Coaf enfraquece Bolsonaro na reforma da Previdência

Movimentações financeiras sem explicação do filho e do ex-assessor desgastam presidente na viagem a Davos e nas negociações com o Congresso

atualizado

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Rafaela Felicciano/Metrópoles
bolsonaro e flávio
1 de 1 bolsonaro e flávio - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Uma das razões apontadas pelo governo Michel Temer (MDB) para o fracasso da reforma da Previdência em 2017 foi o escândalo provocado pela divulgação de conversas comprometedoras entre o então presidente da República e o empresário Joesley Batista. Menos de um mês no Palácio do Planalto, Jair Bolsonaro (PSL) vive o risco de passar por situação semelhante por causa das descobertas do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).

A revelação de que em 2017 o atual senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente, recebeu R$ 96 mil em 48 depósitos sem origem declarada atrapalha o governo, de novo, quando são discutidas mudanças na Previdência. Sem explicações plausíveis, as movimentações financeiras do parlamentar e de seu ex-assessor Fabrício Queiroz desgastam os novos ocupantes do Palácio do Planalto.

Tornados públicos nas vésperas do Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça, os depósitos para Flávio maculam a primeira aparição do novo presidente em reuniões com líderes globais. Ao se apresentar a dirigentes com peso internacional, Jair Bolsonaro leva junto as suspeitas de envolvimento do filho com dinheiro sujo.

Entre as estrelas da economia mundial, paira a expectativa de que o presidente brasileiro se mostre capaz de conduzir reformas na economia do país. Nesse ponto, as dúvidas provocadas pelas movimentações financeiras suspeitas tornam mais difícil a missão de Jair Bolsonaro.

O escândalo em torno de Flávio teve início no dia 6 de dezembro do ano passado, quando o jornal O Estado de S. Paulo publicou reportagem sobre transações financeiras de R$1,2 milhão na conta de Fabrício Queiroz no período de um ano. Desde então, o caso com repercussão negativa divide o espaço com o noticiário de interesse da equipe do novo governo.

Por mais que tente ficar distante dos rolos do filho e de Queiroz, Bolsonaro permanece acuado pelos fatos produzidos pelos dois na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro: o senador eleito é deputado estadual no Rio de Janeiro. Na manhã deste sábado (19/1), quando as redes sociais repercutiam a descoberta dos depósitos em sua conta, Flávio esteve com o pai no Palácio da Alvorada.

Sob suspeita
O caso ficou mais grave na semana passada depois que o ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), acolheu um pedido de Flávio e suspendeu as investigações sobre o caso pelo Ministério Público do estado. Ao acionar o STF para se proteger, o filho do presidente deixou a impressão de que tinha algo a esconder. A descoberta dos depósitos em sua conta aumentou a suspeita.

Pressionado, praticamente todos os dias, a se manifestar sobre o escândalo, Bolsonaro perde capital político para negociar com o Congresso a aprovação dos projetos de interesse do governo. Principal ponto da pauta da equipe econômica, a reforma da Previdência desponta como a iniciativa mais afetada pela falta de explicação para os recursos nas contas de Flávio e Queiroz

Para aprovar mudanças na Constituição, Bolsonaro precisa de três quintos dos votos, em dois turnos, na Câmara e no Senado. O quórum alto para emendas na Carta Magna é um obstáculo para qualquer governo, mesmo em circunstâncias normais.

Pela tradição brasileira, presidentes em início de mandato gozam de mais prestígio para aprovar propostas no Congresso. A liderança legitimada pela eleição pesa em favor do governo entre os parlamentares. Em um cenário adverso, acossado pelos atos mal explicados do filho, Bolsonaro encontrará dificuldades para fazer prevalecer a força das urnas no convencimento de deputados e senadores.

A história recente do Brasil também ensina que, diante de presidentes atingidos por escândalos, os congressistas costumam aumentar o nível de exigências para votar projetos do governo. Será nesse contexto que Bolsonaro terá de negociar com o Parlamento.

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