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Mulher achada morta em caixa d’água já denunciou ex por espancá-la

Vítima denunciou tentativa de estupro e agressão brutal, mas polícia só começou a investigar mais de três anos depois. Caso ocorreu em Goiás

atualizado

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Arquivo pessoal
neurice torres neura assentamento feminicidio minaçu goias (1)
1 de 1 neurice torres neura assentamento feminicidio minaçu goias (1) - Foto: Arquivo pessoal

Goiânia – A agricultora Neurice Araújo Torres Lima, de 53 anos, encontrada seminua e morta em uma caixa d’água no último domingo (11/9), já denunciou o ex-marido por tê-la agredido e tentado estuprá-la. Ele é o principal suspeito do crime e está foragido, segundo a Polícia Civil.

Neurice, conhecida como Dona Neura, foi assassinada na casa dela, no assentamento Dom Roriz, zona rural de Minaçu, norte de Goiás. Ela foi encontrada seminua e com a cabeça mergulhada em uma caixa d’água, que estava sobre o chão.

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Nesse mesmo lugar, ela foi vítima de violência doméstica em 26 de dezembro de 2017, segundo denúncia feita por ela mesma. As agressões foram confirmadas em laudo médico feito dois dias depois.

À época, a trabalhadora rural relatou para a polícia que o então marido, Sidrônio Alves de Lima, chegou embriagado em casa e tirou a roupa, tentando violentá-la sexualmente. Em seguida, ele a teria agredido com murros na cabeça, socos, tentativa de enforcamento e mordida.

Essas agressões só teriam parado porque a energia elétrica da casa acabou e ele teria achado que Neurice estava morta. Ela então teria conseguido correr e fugir para a casa de uma vizinha, que a ajudou. Atualmente eles, que viveram juntos por 22 anos, estavam separados.

Demora para investigar

Acontece que o boletim de ocorrência que Neurice fez e o laudo atestando a violência ficaram praticamente esquecidos por mais de três anos.

Documentos no Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO) mostram que, após a denúncia, o inquérito só voltou a andar minimamente em outubro de 2020. O então delegado de Minaçu, Lucas Soares, fez um ofício explicando que tinha acabado de assumir a delegacia, e pedindo que fosse feito o interrogatório do suspeito, Sidrônio, no caso.

No entanto, a investigação só foi voltar a andar de fato em maio de 2021, mais de três anos depois do crime. O agora delegado da cidade, Járder Bruno de Sousa Vieira, determinou que o suspeito e uma testemunha fossem localizados para serem ouvidos.

O inquérito foi concluído em maio de 2021. Sidrônio foi indiciado por violência doméstica e ameaça de morte. Quase um ano depois, em janeiro de 2022, o promotor Renato Teatini de Carvalho ofereceu denúncia contra Sidrônio por violência doméstica. Ele pediu a extinção da punibilidade do crime de ameaça, porque o prazo prescreveu.

Não localizado

Ainda em janeiro deste ano, a juíza Hanna Lídia Rodrigues Paz Candido aceitou a denúncia e Sidrônio se tornou réu por violência doméstica. Tanto na fase da investigação, como no processo, Sidrônio não foi localizado pelos agentes de polícia e oficiais de justiça.

A última informação, de julho deste ano, é de que ele teria se mudado para Trombas (GO), cidade próxima a Minaçu. Nesses quase 5 anos desde a denúncia de 2017, a vítima se separou do suspeito. Agora, a Polícia Civil tenta localizar Sidrônio por suspeita de ter matado Neurice.

“As investigações apontam o ex-marido como sendo o suspeito do crime, o qual, após tomar conhecimento da localização do corpo pela polícia, está foragido até o momento. As investigações continuam em curso”, contou ao Metrópoles o delegado Járder, que investiga o femincídio.

A reportagem entrou em contato com a Polícia Civil e questionou a demora de mais de três anos para concluir o inquérito de violência doméstica, mas não obteve resposta até a publicação dessa matéria.

Gana de viver

Familiares e amigos de Dona Neura demonstraram indignação nas redes sociais. A Pastoral da Terra também se manifestou e disse que a agricultora foi vítima do machismo.

“Um ser humano incrível, mulher cheia de gana de viver. Lembro da sua alegria ao mostrar as fotos da conquista de sua filha, os inúmeros diálogos sobre os medos que assombravam a sua vida, as medidas protetivas que dizia ter acionado”, escreveu uma amiga identificada como Paula Pretinha nas redes sociais.

E Paula ainda completou: “O sistema falhou e a cada vez que uma morre e a justiça não detém o autor, mais pessoas podem sofrer”, escreveu.

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