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Mãe de eletrocutado em festival promete ir “até o fim” por justiça

João Vinícius Ferreira Simões, de 25 anos, morreu após sofrer choque elétrico I Wanna Be Tour, festival de música emo na zona oeste do Rio

atualizado

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Arquivo pessoal
Imagem colorida de João Vinícius Ferreira Simões - Metrópoles
1 de 1 Imagem colorida de João Vinícius Ferreira Simões - Metrópoles - Foto: Arquivo pessoal

A morte do estudante de educação física João Vinícius Ferreira Simões, de 25 anos, completará um mês na próxima terça-feira (9/4). O jovem morreu após encostar em um food truck em um festival de música e sofrer um choque elétrico. A família de João Vinícius segue em busca de respostas e da responsabilização dos organizadores do evento.

O jovem de 25 anos morreu em 9 de março, depois de sofrer uma descarga elétrica no I Wanna Be Tour, festival de música emo realizado no Riocentro, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro. Segundo relatos, ele tocou em um food truck energizado enquanto tentava se levantar do chão onde estava sentado.

Imagens que circulam nas redes sociais mostram que a fiação dos carrinhos de comida estava exposta. Além dos cabos elétricos expostos ao público, não havia espaço para as pessoas se abrigarem da chuva no festival.

imagem colorida fios de food truck dentro de poças d'agua em festival que jovem morreu com descarga eletrica
Fios estavam dentro de poças d’água e sem proteção contra a chuva

No momento do incidente, João Vinícius estava encharcado, o que pode potencializar a descarga elétrica. Ele foi socorrido no local após ter uma parada cardiorrespiratória, mas morreu a caminho do hospital.

“Uma sucessão de erros”, alega mãe

Em entrevista ao Metrópoles, a professora Roberta Isaac Ferreira, mãe de João Vinícius, diz que vai “até o fim” por justiça. “Eu preciso de uma punição para essas empresas [porque] foi uma coisa muito séria. Meu filho saiu para um show, para se divertir, e não voltou para casa”, desabafa.

Roberta informou que registrou uma denúncia coletiva, paralela à investigação da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro (PCERJ), no Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), com provas cedidas por testemunhas que estavam no festival.

No fim de março, ela abriu processo contra a 30e, produtora do evento, devido ao incidente no Riocentro — que é administrado pela multinacional francesa GL events, fruto de uma concessão de 2006. Na denúncia, Roberta narra supostas diversas irregularidades presentes no dia do festival I Wanna Be Tour.

“Eu busco respostas, punição e justiça para que outras mães passem pelo o que estou passando”. “Então, eu quero justiça, quero punição para eles [organizadores] de alguma forma. […] Nem preciso estudar para saber que foi uma sucessão de erros”, afirma.

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Conforme a professora, a empresa organizadora só entrou em contato após pressão da imprensa. Ela conta que não quer mais conversar com a 30e: “Não quero assunto, agora é só com advogado porque ninguém me prestou ajuda em nada. Pagamos o enterro dele sozinhos. Não houve ajuda da parte de ninguém”.

“Eu preciso de respostas e quero pelo menos uma punição. Alguma coisa essas empresas precisam receber. O meu filho pagou R$ 325 em uma meia-entrada na pista premium para não voltar para casa?”, questiona.

“Essas empresas trataram o público como um lixo. Nada foi correto no que eles fizeram. Praticamente fizeram um evento de qualquer jeito para lucrar, porque essas empresas só pensam no lucro, elas não pensam no bem-estar do público”, critica.

Roberta afirma que busca “respostas, punição e justiça” para que outras mães não passem pela mesma situação. Ela reclama que a 30e continua por trás de uma série de eventos e “nada está sendo feito” contra a empresa. “Quantas mães vão perder seus filhos? Quantos filhos vão precisar ir embora para alguém fazer alguma coisa?”, finaliza.

Pessoas relataram choques antes de morte de João Vinícius

Antes de João Vinícius sofrer a descarga elétrica que resultou na sua morte, pessoas no festival relataram ter sofrido choques na área próxima ao food truck. Em imagens que circulam nas redes sociais, é possível ver que a fiação elétrica dos carrinhos de comida estavam expostos e, devido à chuva torrencial, ficaram inundados em poças de água.

Um dos relatos é da estagiária Juliana Oliveira, de 23 anos, que foi ao mesmo food truck que João Vinícius, e tomou um leve choque ocorreu antes dele chegar. Ela conta que foi até o food truck para secar os óculos e tentar encontrar os amigos no festival.

Quando entregou o objeto ao funcionário, ambos sofreram um leve choque. Depois disso, João Vinícius se aproximou do food truck para tentar se abrigar da chuva e também chegou a levar um leve choque, que não teve impacto, ao encostar no carro.

“Antes dele por a mão, eu falei: ‘Cuidado que está dando choque’. Nesse meio tempo, ele encostou o braço e tirou porque tomou um choque”, lembrou Juliana.

Os dois ficaram abrigados no local, mas, em dado momento, João Vinícius cedeu o lugar para a jovem e se sentou no chão. Assim que tentou se levantar, ele se desequilibrou, encostou o braço no carro, e tomou uma descarga maior, que causou sua morte.

João Vinícius foi sepultado no dia seguinte, 10 de março, no Cemitério Municipal de Maricá, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro.

A paixão por rock e o sonho de ser professor

Desde cedo, João Vinícius era fascinado por bandas de rock e, devido a esse grande amor pela música, começou a frequentar vários shows e festivais que reuniam os artistas desse gênero musical. No sétimo semestre do curso de educação física, o jovem tinha o sonho de se tornar professor, de acordo com familiares.

Ele intercalava a graduação em educação física, o estágio de personal trainer em uma academia, com as idas a shows de rock. De acordo com a mãe, João Vinícius tinha o hábito de ir a shows acompanhado de amigos ou sozinho, mas sempre mantinha contato com ela.

O outro lado

Ao ser questionada sobre as irregularidades no local do evento apresentadas pela família de João Vinícius, a administração do Riocentro diz que “alugou uma área externa para a 30e, empresa responsável pelo Festival I Wanna Be Tour, e a mesma apresentou toda a documentação necessária para a realização do evento, inclusive o Alvará e o AVCB do Corpo de Bombeiros”.

Em nota enviada ao Metrópoles, o Riocentro ainda reforça que toda a produção e operação do festival era de “responsabilidade da 30e, incluindo alimentação, segurança, brigada de incêndio, serviços médicos e instalações elétricas”. Além disso, a administração do centro de convenções reitera que segue à disposição das autoridades que investigam o caso.

Em comunicado publicado nas redes sociais, logo depois do incidente, a 30e informou que os dados obtidos atestam para a conformidade de operação do food truck, onde o jovem recebeu a descarga elétrica. A produtora lamentou o ocorrido.

À época do caso, o Riocentro também lamentou a morte e informou que João Vinícius foi imediatamente socorrido pela equipe de socorro contratada pela organizadora do evento e responsável pela infraestrutura, que o encaminhou ao hospital.

Procurada pelo Metrópoles para obter mais informações sobre o inquérito que apura a morte de João Vinícius, a PCERJ respondeu que “a investigação está em andamento para esclarecimento e conclusão do caso” e não forneceu mais detalhes à reportagem.

O Metrópoles também entrou em contato com a 30e, responsável pela organização do festival I Wanna Be Tour, sobre as novas denúncias apresentadas e aguarda retorno. O espaço segue aberto para futuras manifestações.

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