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Lula promove cúpula com presidentes da América do Sul em tentativa de reaproximação

Presidentes de todas as nações da América do Sul, exceto Peru, chegam a Brasília nesta terça para encontro em formato de “retiro”

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Hugo Barreto/Metrópoles
O presidente da Argentina, Alberto Fernández, posa com Lula para foto enquanto apertam as mãos. Ambos sorriem - Metrópoles
1 de 1 O presidente da Argentina, Alberto Fernández, posa com Lula para foto enquanto apertam as mãos. Ambos sorriem - Metrópoles - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

Presidentes de praticamente todos os países da América do Sul se reúnem em Brasília, nesta terça-feira (30/5), para reunião de cúpula a convite de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Sem previsão de assinatura de tratados e com formato de “retiro”, a proposta do mandatário brasileiro é investir na diplomacia para retomar a cooperação entre nações sul-americanas.

Pelo menos 11 chefes de Estado, incluindo Lula, estão confirmados no evento. A exceção é a presidente do Peru, Dina Boluarte, que não pode se ausentar do país em razão do clima de instabilidade política que se instaurou desde a deposição do antigo mandatário, Pedro Castillo. Ela será representada pelo presidente do Conselho de Ministros peruano, Alberto Otárola.

Encontros bilaterais também estão em negociação e, conforme adiantou o portal, o mandatário brasileiro abriu a programação ao receber o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, nessa segunda-feira (29/5).

Sem previsão de assinatura de grandes acordos, os assuntos que devem permear os debates são uma espécie de relançamento da União de Nações Sul-americanas (Unasul); medidas de proteção da Amazônia e ações voltadas para o fortalecimento da integração e do poder de negociação do continente, em âmbito global.

Durante o dia, o evento contará com duas sessões no Palácio do Itamaraty. Pela manhã, os líderes estrangeiros serão recebidos pelo presidente Lula e, na sequência, farão discursos de abertura. Na parte da tarde, está prevista uma conversa mais informal, em formato reduzido, em que cada mandatário será acompanhado pelo respectivo chanceler e apenas um ou dois assessores.

À noite, os chefes de Estado e as delegações participarão de um jantar oferecido pelo presidente Lula e pela primeira-dama do país, Janja da Silva, no Palácio da Alvorada.

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A estratégia do Itamaraty é retomar a agenda sul-americana – tradicionalmente uma prioridade na política externa do Brasil, porém abandonada por Jair Bolsonaro (PL) durante a passagem dele pelo Planalto.

No âmbito do encontro, a diplomacia brasileira divulgou ampla gama de assuntos, como saúde, mudanças climáticas, defesa, combate aos ilícitos transnacionais, infraestrutura e energia.

“Não é uma cúpula de onde devemos esperar saírem grandes divergências, grandes projetos específicos. A reconstrução da Unasul e o tratado Mercosul-União Europeia, sem dúvida, devem aparecer. A questão da dívida na Argentina e o poder de barganha do grupo como um todo, a nível global, também”, explica Pedro Feliú, professor de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP).

Abertura da agenda com Maduro

O presidente Lula teve uma agenda bilateral com o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, nessa segunda-feira (29/5). Esta é a primeira vez que Maduro vem ao Brasil desde a posse da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2015. O encontro ocorre após anos de hostilidades durante os governos de Michel Temer (MDB) e Jair Bolsonaro (PL).

Maduro desembarcou em Brasília um dia antes da cúpula. Na reunião, os dois presidentes conversaram sobre o restabelecimento das relações bilaterais, bem como as eleições venezuelanas a serem realizadas em 2024.

A imigração venezuelana para o Brasil e a proteção dos povos indígenas que residem nas fronteiras entre os dois países também estão na pauta dos dois chefes. “Atenção especial será atribuída aos temas fronteiriços, com destaque para a proteção das populações que residem nessa faixa, entre elas os povos Yanomami”, destaca comunicado do Itamaraty sobre a visita de Maduro.

Em 2020, Bolsonaro encerrou as relações diplomáticas com o país. Dias após a posse, em janeiro, Lula determinou a reabertura da embaixada em Caracas, ao enviar uma missão diplomática ao país. A movimentação avançou ainda em março, quando o ex-chanceler Celso Amorim – assessor especial de Lula para assuntos de política externa – fez uma visita ao líder venezuelano.

Segundo especialistas, é justificada a escolha de manter um tom mais brando em relação ao país vizinho – apesar de ser usada como “jargão político”.

“O Brasil é um país de médio para grande porte que tem de conversar com todo mundo e agir de acordo com seus interesses. Hoje, você tem no mundo mais países semidemocracias autoritárias e países autoritários do que países democráticos”, argumenta o cientista político Leonardo Paz, da Fundação Getulio Vargas.

Como explica o especialista, deixar de conversar com países autoritários não significa apenas cortar o canal de diálogo com o país vizinho.

“Significa também não conversar com cerca de 80 países no mundo. O Brasil é criticado por encontrar com Maduro, mas não há a mesma reclamação com lideranças da Arábia Saudita, da Hungria, da China ou do Vietnã. Se há algo que a Venezuela faz que não condiz com os valores do Brasil, o Brasil deve criticar, mas não deixar de interagir com ela”, reforça.

A questão da Argentina

No início de abril, o presidente Lula assinou o decreto de reintegração do Brasil à Unasul após quatro anos fora do grupo, arquitetado durante o segundo mandato dele como presidente. O organismo de cooperação é uma ferramenta importante também para a Argentina, que busca na integração do bloco uma ferramenta para fortalecer a capacidade de negociação da dívida interna.

Após receber o presidente Alberto Fernández em Brasília, no início do mês, Lula prometeu ajudar, “politicamente”, o país vizinho a negociar sua dívida com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a mudar o regulamento do Banco dos Brics, presidido atualmente pela ex-presidente brasileira Dilma Rousseff (PT), a fim de que seja criado um fundo para ajudar países parceiros do bloco, como a Argentina.

O governo brasileiro também deve tentar posicionar a diplomacia do país como um catalisador de propostas e investimentos globais de proteção à Floresta Amazônica.

“É muito importante para ele [presidente Lula], que quer lançar o Brasil como potência ambiental, coordenar essa agenda e ter aceitação dos demais países que abrigam o bioma de que o país é o melhor canal para as negociações e chances de conseguir financiamento para preservação ambiental”, adiciona Feliú.

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No âmbito das divergências, está, principalmente, a situação em território venezuelano e um possível retorno do país ao Mercosul, como projeta o professor da Universidade de Brasília (UnB) Antonio Jorge da Rocha. “A questão da Venezuela talvez seja a mais sensível, especialmente devido às migrações numerosas e às dificuldades que elas trazem para as sociedades dos países da região”, explica.

“Os problemas comuns, contudo, são muito maiores e mais relevantes. Cada país tem seu conjunto de dificuldades domésticas com que lidar e que talvez pudesse valer-se da cooperação regional para enfrentá-las”, pondera.

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