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Enchentes no RS causaram impactos na fauna e flora da região

Desmatamento no Sul é um dos principais agravantes de enchentes como a que devastou o RS. No ano de 2022, foram 5.197 hectares

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Beautiful turtles enjoying a sunny day in the small lake of the Germânia park in Porto Alegre, Rio Grande do Sul.
1 de 1 Beautiful turtles enjoying a sunny day in the small lake of the Germânia park in Porto Alegre, Rio Grande do Sul. - Foto: Getty Images

As enchentes do Rio Grande do Sul (RS) já são consideradas umas das piores tragédias socioambientais do país. O estado vai precisar de investimento recorde e de muito tempo para se recuperar. Especialistas apontam que o desafio para a natureza também será sem precedentes. A fauna e a flora da região sofrerão impactos de médio a longo prazo.

Ambientalistas afirmam que houve um enfraquecimento de normas ambientais sob a gestão de Eduardo Leite (PSDB). Em entrevista para o programa Roda Viva, o governador negou que leis ambientais aprovadas em sua gestão tenham afrouxado o controle do desmatamento. Segundo dados da organização MapBiomas, em 2019, primeiro ano da gestão Leite, o estado perdeu 1.145 hectares de vegetação. Já em 2022, o desmatamento foi de 5.197 hectares.

A perda dessa vegetação pode ter contribuído para as inundações. Isso porque as plantações diminuem a velocidade com a qual a enxurrada chega aos leitos e aumentam a quantidade de água infiltrada no solo.

Fauna

Em Porto Alegre, moradores registraram piranhas-amarelas, tilápias, birus, lambaris, carás, tartarugas e jacarés nas ruas durante as enchentes. Matheus Silva Mesquita, conhecido como Biomesquita, é educador ambiental e ambientalista. Ele explica que muitos desse animais foram carregados para fora de seu habitat com a força das águas. Quando os rios sobem e se conectam com outros cursos d’água, os bichos “perdem” as barreiras e se espalham para todos os lados.

As piranhas-amarelas, por exemplo, são nativas do Uruguai, mas já estão no Guaíba desde 2021. Jacarés e outros peixes são advindos do Pampa. A aparição desses animais suscita preocupação, porque eles são predadores e ocupam novos rios. “Elas (piranhas) vão dominar o espaço, porque não têm predadores, então, conseguem se reproduzir com facilidade e dizimar as espécies que viviam ali”, afirma o especialista.

De acordo com o ambientalista, outra questão relacionada à chegada de novas espécies é a disputa por alimento. A escassez de comida pode causar um conflito, com potencial de se transformar em uma caça entre as espécies.

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Quando a água baixar, muitos desses bichos, como os peixes, vão conseguir voltar ao seu habitat natural, já que as cheias são algo natural. No entanto, outros animais vão ficar presos e morrer por ali.

Além disso, o estado já sofre com a falta de espaço em abrigos para espécies terrestres. “Quando o habitat é destruído, o animal migra para outro lugar onde ele possa se alimentar”, disse Biomesquita.

Segundo a Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema) do Rio Grande do Sul, mais de 11 mil bichos já foram resgatados. Entretanto, uma pesquisa feita pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima estima que 275 mil animais, silvestres e domésticos, tenham sido impactados pela emergência.

Flora

O desmatamento na Região Sul do país foi um dos maiores contribuintes para a gravidade das enchentes, pois a vegetação retém a água e funciona como uma camada protetora do solo. O outro bioma prevalente no estado é a Mata Atlântica.

Na última terça-feira (21/5), a Universidade Federal do Rio Grande (Furg) divulgou imagens de satélite que revelaram uma mancha de sedimentos, que sai do Guaíba em direção ao sul da Lagoa dos Patos.

“A mancha de sedimentos de coloração avermelhada corresponde basicamente a uma pluma (mancha de sedimentos em suspensão) oriunda do Lago Guaíba. Como todos sabem, houve episódios de bastante chuva na região norte do estado, o que atingiu grandes bacias hidrográficas que se comunicam com o Lago Guaíba e trazem todo esse sedimento da região interiorana para o corpo de água que se encontra conectado à Lagoa dos Patos, transferindo essa carga inteira”, diz Fabrício Sanguinetti, coordenador do Laboratório de Oceanografia Dinâmica e por Satélites (LODS) da Furg.

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No Rio Grande do Sul, é comum a plantação de florestas novas ou o manejo de florestas nativas para a exploração comercial. Recuperar a vegetação é necessário para evitar futuras enchentes.

O Instituto Escolhas, especializado em desenvolvimento sustentável, estimou, em um estudo do ano passado, que o Rio Grande do Sul deveria reflorestar 1,16 milhão de hectares de forma “urgente” para que a floresta desempenhe suas funções ambientais. A pesquisa, intitulada “Os bons frutos da recuperação de florestas: do investimento aos benefícios”, sugere que a criação de áreas de preservação permanente e reserva legal.

“Investir em recuperação de florestas, neste momento, é prioritário. Na verdade, sempre foi, e estamos vendo isso do pior jeito possível. Por isso mesmo, os planos de reconstrução do Rio Grande do Sul precisam incorporar a recuperação da vegetação nativa, que é uma infraestrutura natural para prevenir a repetição de tragédias como essa”, afirma Sergio Leitão, diretor-executivo do Escolhas.

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