Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central (BC), questionado sobre as incertezas fiscais, afirmou que a ansiedade do mercado é em relação ao aumento de gastos global durante a pandemia.
“O mercado tem dado sinais de ansiedade para encontrar respostas sobre como vamos pagar a conta que cresceu durante a pandemia globalmente. Estamos na situação de como vamos converter a dívida no longo prazo”, disse nesta sexta-feira (18/11) durante o evento Leaders Circle da Bloomberg, em São Paulo.
De acordo com ele, o BC não faz política fiscal, mas reforça que deve haver coordenação entre políticas fiscal e monetária. “É díficil falar só em números quando temos questões humanitárias urgentes”, declarou.
Além dos gastos da pandemia, o novo governo quer aprovar a proposta de emenda à Constituição (PEC) da Transição que deverá abrir um novo “buraco” no teto de gastos no valor de R$ 175 bilhões anuais para o pagamento de benefícios sociais. O texto, já nas mãos do parlamento, não diz de onde virá o dinheiro.
O BC projeta que a PEC que o déficit primário do governo central em 2023 deve ir de 0,8% para cerca de 1,5% do produto interno bruto (PIB). Além disso, a dívida pública entre 2022 e 2023 irá de 77,7% para 81,9% do PIB – ou mais ainda.
“Quando olhamos a reação do Reino Unido, isso mostra que o mercado agora está pedindo soluções para a convergência da dívida e tentando entender como cuidamos do social com responsabilidade fiscal ao mesmo tempo”, disse.
Campos Neto fala de inflação
Em 11 de novembro, Campos Neto demonstrou a necessidade do equilíbrio entre o social e o fiscal. “A gente precisa ter, de um lado, olho para social, a gente entende que a pandemia deixou muitas cicatrizes, mas precisa ter também um olho para o equilíbrio fiscal”, afirmou em um evento da CFA Society Brazil, em São Paulo.
“Não é verdade que o Brasil gastou mais para baixar a inflação artificialmente. O Brasil mostra cenário melhor que o resto do mundo e foi rápido em subir juros”, declarou. “Agora a precificação é de alta no curto prazo em função de incertezas fiscais. De acordo com as expectativas do mercado, ainda há trabalho a ser feito no curto prazo”, completou.

Inflação é o termo da economia utilizado para indicar o aumento generalizado ou contínuo dos preços de produtos ou serviços. Com isso, a inflação representa o aumento do custo de vida e a consequente redução no poder de compra da moeda de um paísKTSDESIGN/SCIENCE PHOTO LIBRARY / Getty Images

Em outras palavras, se há aumento da inflação, o dinheiro passa a valer menos. A principal consequência é a perda do poder de compra ao longo do tempo, com o aumento dos preços das mercadorias e a desvalorização da moedaOlga Shumytskaya/ Getty Images

Existem várias formas de medir a inflação, contudo, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) é o mais comum delesJavier Ghersi/ Getty Images

No Brasil, quem realiza a previsão da inflação e comunica a situação dela é o Banco Central. No entanto, para garantir a idoneidade das informações, a pesquisa dos preços de produtos, serviços e o cálculo é realizado pelo IBGE, que faz monitoramento nas principais regiões brasileirasboonchai wedmakawand/ Getty Images

De uma forma geral, a inflação pode apresentar causas de curto a longo prazo, uma vez que tem variações cíclicas e que também pode ser determinada por consequências externasEoneren/ Getty Images

No entanto, o que influencia diretamente a inflação é: o aumento da demanda; aumento ou pressão nos custos de produção (oferta e demanda); inércia inflacionária e expectativas de inflação; e aumento de emissão de moedaselimaksan/ Getty Images

No bolso do consumidor, a inflação é sentida de formas diferentes, já que ela não costuma agir de maneira uniforme e alguns serviços aumentam bem mais do que outrosAdam Gault/ Getty Images

Isso pode ser explicado pela forma de consumo dos brasileiros. Famílias que possuem uma renda menor são afetadas, principalmente, por aumento no preço de transporte e alimento. Por outro lado, alterações nas áreas de educação e vestuário são mais sentidas por famílias mais ricasJavier Zayas Photography/ Getty Images

Ao contrário do que parece, a inflação não é de todo mal. Quando controlada, é sinal de que a economia está bem e crescendo da forma esperada. No Brasil, por exemplo, temos uma meta anual de inflação para garantir que os preços fiquem controlados. O que não pode deixar, na verdade, é chegar na hiperinflação - quando o controle de todos os preços é perdidocoldsnowstormv/ Getty Images
“Ainda não há razão para celebrar a melhora da inflação. Vemos bons sinais nos núcleos, mas temos que persistir”, reiterou. Os juros básicos do país estão travados em 13,75% ao ano.
“O Comitê [Copom] seguirá atento, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa Selic por um período suficientemente longo será suficiente para garantir a convergência da inflação”, diz a apresentação de Campos Neto.
“O Comitê reforça que os passos futuros da política monetária podem ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de aperto caso o processo desinflacionário não ocorra conforme o esperado”, completou a apresentação.