metropoles.com

Por que o lúpulo é tão adorado e qual é a sua relação com a maconha?

A planta só floresce quando muitas condições são favoráveis simultaneamente, o que infelizmente não temos aqui no Brasil

atualizado

Compartilhar notícia

iStock
Lúpulo plantação
1 de 1 Lúpulo plantação - Foto: iStock

Se você é daqueles que pensa que a cerveja sempre foi amarguinha, está muito enganado. Na verdade, relativizando a existência da nossa bebida preferida (e lá se vão mais de 6 mil anos), alguma das suas características mais marcantes, como a limpidez e o clássico trava-língua, são coisas que foram inventadas, tipo, ontem.

Até o século 16, os povos usavam ervas, algas marinhas, e tudo mais o que você possa imaginar para balancear o inevitável dulçor do malte de cevada. Hoje em dia, porém, não tem conversa: os lúpulos reinam absolutos e, na nossa humilde opinião, são os grandes responsáveis por conferir personalidade à maioria das receitas.

Mas o leitor deve estar pensando: “O que diabos é o lúpulo”? O lúpulo é uma planta trepadeira da espécie Humulus lupulus, que faz parte da família Cannabaceae. Se você leu com atenção, percebeu que a palavra lembra uma velha conhecida, a Cannabis sativa, planta rebatizada com centenas de nomes, incluindo “maconha”. De fato, as duas verdinhas fazem parte da mesma grande família. E, sim, o lúpulo também tem propriedade (muito leve) relaxante.

André Vasquez/MetrópolesConservante natural
Uma das razões que talvez explique a consolidação do lúpulo na receita básica da cerveja é o fato de ele ser um conservante natural. É por isso que a planta começou a ser adicionada em grandes quantidades a cervejas de exportação, que viajariam para terras distantes. Não por acaso, as India Pale Ales (que viajavam da Inglaterra até a Índia) e vários dos estilos Export são muito amargas.

Ao mesmo tempo que os lúpulos esbanjam popularidade nos quatro cantos do mundo, essa trepadeira tem seus caprichos e só floresce quando muitas condições forem favoráveis simultaneamente. A plantação deve estar entre os paralelos geográficos 30˚ e 50˚, sobre um solo rico em nutrientes específicos, com água frequente em pequenas quantidades e recebendo muitas horas de sol.

Por essas razões é tão difícil termos lúpulo no Brasil, ainda que alguns testes bem-sucedidos já tenham sido feitos em Santa Catarina e no pé da Serra da Mantiqueira, em São Paulo.

Com tanta dificuldade, os lugares onde se cultivam essas joias acabam se tornando determinantes para o tipo de lúpulo — e cada variedade da plantinha revela propriedades únicas. Não é exagero dizer que temos pelo menos quatro grandes áreas distintas de cultivo de lúpulo.

André Vasquez/Metrópoles

 

Alemanha e República Tcheca
Esta região pode ser considerada o berço do lúpulo e, até hoje, é de lá que saem 25% da produção mundial. Os lúpulos desses países dominam as receitas da escola alemã, tcheca, e aparecem com muita frequência em cervejas de outros cantinhos da Europa. São variedades com pouco alfa-ácidos, ou seja, com amargor moderado. Os aromas e sabores característicos trazem notas florais, terrosas e picantes. Os exemplos mais famosos são os Hallertauer, Tettnanger, Saphir, Spall, Magnum, Hersbrucker e Saaz.

Inglaterra
Com o cultivo introduzido somente no século 16, e apesar de serem plantados em pouca quantidade devido à pequena área e condições limítrofes, os lúpulos ingleses são cheios de personalidade. Geralmente trazem aromas de grama, de flor, de algo cítrico e de chá, e não adicionam uma carga agressiva de amargor. Sabe elegância? É disso que estamos falando. Seus representantes de peso são o Fuggle, Challenger, Goldings, First Gold, Target e Northern Brewer.

Austrália e Nova Zelândia
Alguns dos lúpulos mais frutados e incríveis do mundo crescem na longínqua Oceania. São plantinhas capazes de conferir aromas da uva Sauvignon Blanc, de maracujá, lichia, kiwi e outras tantas frutas intrigantes. São resinosos e se incorporam fortemente à cerveja. Absolutamente extravagantes e maravilhosos. Espécies incríveis: Motueka, Galaxy e Nelson Sauvin.

Estados Unidos
Na terra das cervejas mais extremas, florescem algumas das variações mais potentes em amargor e aroma. Pela extensa área plantada, os lúpulos americanos podem trazer características diferentes: florais, frutadas, de pinho e resinosas. É um mundo de possibilidades que só aumenta ano a ano, já que os produtores sempre criam novas variedades a partir de tipos clássicos. Alguns dos exemplos importantes são o Cascade, Centennial, Amarillo, Columbus, Chinook, Willamete e Citra.

Na verdade, a lista é longa demais. O mais incrível é que, todo ano, novas variedades são criadas a partir do cruzamento de espécies pré-existentes. Ou seja, há sempre uma novidade!

*André Vasquez e Marina Cavechia são sócios e curadores do clube de cerveja por assinatura Ohmybeer.com.br.

Compartilhar notícia

Quais assuntos você deseja receber?

sino

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

sino

Mais opções no Google Chrome

2.

sino

Configurações

3.

Configurações do site

4.

sino

Notificações

5.

sino

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?