metropoles.com

Gabriel Thomaz e Érika Martins viajam pela estrada dos Autoramas

Atração do festival Porão do Rock deste sábado (5/12), a banda apresenta nova formação e prepara lançamento de disco para o ano que vem

atualizado

Compartilhar notícia

Daniel Ferreira/Metrópoles
1 de 1 Daniel Ferreira/Metrópoles - Foto: null

Gabriel Thomaz não foge da bronca. “Uma das coisas chatas de se mudar a formação de uma banda é ter que ficar explicando”, suspira, olhando fixamente para a mesa onde o telefone celular está a servir de gravador para esta conversa. “Não é agradável para mim, não foi uma situação agradável e ter que falar sobre isso me dá até uma certa raiva. Porque eles foram embora e agora fico eu aqui explicando.”

Este ano de 2015 começou complicado para os Autoramas que neste sábado (5/12) sobem ao palco do Porão do Rock. Flávia Couri e Bacalhau deixaram o grupo, em fevereiro, após trocas de e-mail. Gabriel Thomaz não entende como a baixista pôde se casar e mudar, do Rio de Janeiro para a Dinamarca, sem dar maiores explicações e sem demonstrar grandes preocupações com os compromissos da banda. Após sete anos de convívio e trabalho diário, Gabriel se sentiu traído por ela e pelo baterista Bacalhau, que sabia dos planos de Flávia e não interferiu em nada.

Na mesma tarde em que ficou decidida a saída de Bacalhau, Gabriel já entendeu o que precisava fazer para os Autoramas seguirem na pista, como têm feito desde 1998, e continuarem sua trajetória como uma das mais bem sucedidas bandas do alquebrado circuito brasileiro de rock independente.

Gabriel não queria perder o vocal feminino que sempre foi uma marca dos Autoramas. Antes de Flavinha, tinha sido Selma Vieira. Antes ainda, Simone do Vale. “P*ta que pariu, eu ia ter que arranjar uma quarta baixista?”, ele ri, de nervoso. “Na mesma hora, pensei em tudo que eu já quis fazer com a banda e não tinha tido a oportunidade.”

A solução para os problemas dos Autoramas nunca esteve tão perto de Gabriel Thomaz. Ela atende por Érika Martins, foi cantora e compositora da banda Penélope na década de 1990 e está casada com Gabriel há 13 anos. Érika tinha passado os últimos dois anos a divulgar seu disco solo “Modinhas” e sua agenda permitia mudanças imediatas.

Autoramas versão 3.0: Gabriel Thomaz, Érika Martins, Fred Castro e Melvin *Felipe Diniz/Divulgação*
Autoramas versão 3.0: Gabriel Thomaz, Érika Martins, Fred Castro e Melvin *Felipe Diniz/Divulgação*

 

Sessenta shows em um ano

Com o “sim” de Érika Martins, começava a se assentar a nova formação dos Autoramas. Érika não apenas garantia os vocais femininos para contraponto à voz de Gabriel Thomaz como ampliava horizontes. Sua presença possibilitava que uma segunda guitarra e os teclados, tocados por ela, passassem a fazer parte do novo arsenal ao vivo que o conjunto ganhava. Antes disso, os arranjos feitos em estúdio, muitas vezes com teclados e várias guitarras, precisavam ser modificados para o enxuto formato de trio nos shows.

Chapa de Gabriel de longa data, ex-baterista dos Raimundos, Fred Castro estava tocando com Érika na banda dela e topou entrar ele também nos Autoramas. Para o baixo, uma outra solução caseira: Melvin, que já tinha passado pelos conjuntos cariocas Acabou La Tequila e Carbona e que há dez anos faz parte de Lafayette & Os Tremendões, um projeto cover de Jovem Guarda montado por Gabriel.

A banda que agora se apresenta no Porão do Rock, portanto, é um quarteto formado por bons amigos e músicos escolados. Ainda bem. Eles tiveram que se entrosar já na corrida. Em fevereiro, os quatro se fecharam em estúdio para um trabalho braçal: tirar vinte e poucas canções em uma semana. Eles tinham uma data marcada para Brasília e, logo depois, um giro por México e Estados Unidos, inclusive uma apresentação no descolado festival South by Southwest, de Austin, Texas.

Roqueiros brasileiros que mais viajam para fora do país, os Autoramas emendaram 22 shows em 30 dias pela Europa, percorrendo seis países: Inglaterra, França, Alemanha, Espanha, Itália e Suíça. Foi ali, em algum ponto incerto da estrada, que Gabriel se permitiu relaxar. Ele percebeu que tudo se encaixava. “Lembro que, antes dessa viagem, tocamos em Barra Mansa, no Sul do Rio de Janeiro. Quando voltávamos para casa de carro, Érika e eu, fomos repassando uma lista de coisas que podiam melhorar. Essa lista foi diminuindo e hoje nem tenho mais o que falar para ela.”

Érika concorda que a turnê de van pela Europa foi o momento em que aqueles quatro amigos se tornaram uma banda de rock. “Eu me sinto em casa”, ela diz. “Para mim, foi fácil tirar as músicas porque já conhecia todas. Muitas delas, eu fui a primeira a ouvir, o Gabriel me mostrava assim que acabava de compor. A grande diferença é que antes eu dançava na plateia, e agora danço em cima do palco.”

Este show no Porão do Rock será o de número 60 nesta temporada.

 

0

 

O futuro dos Autoramas

A história de Érika Martins com a sua antiga banda, a Penélope, que surgiu do underground de Salvador em meados da década de 1990, já tinha muito a ver com o som dos Autoramas. A mesma inclinação para o chamado bubblegum, um pop docinho, sob influências de new wave equilibradas pelo peso e pela sujeira das guitar bands dos anos 1980 e 1990.

Natural que Érika e Gabriel, um dia, viessem a trabalhar juntos. Em dezembro do ano passado, na miúda, lançaram no Soundcloud uma coleção de cinco músicas sob o nome de “Érika & Gabriel”. Despretensiosa, a safra de canções acabou por se revelar o embrião deste novo Autoramas.

Quatro delas entrarão no disco que a banda lança após o próximo Carnaval, incluindo uma versão para o clássico pop “Be my Baby”, do grupo vocal The Ronettes. Outra faixa já conhecida, “Quando a Polícia Chegar”, foi composta na cachoeira, durante as férias de Érika e Gabriel na Chapada Diamantina, interior da Bahia, onde eles construíram uma casa perto de Lençóis.

O novo álbum já tem nome: “O Futuro dos Autoramas”. Sua gravação aconteceu toda no Rio de Janeiro, entre o escritório do produtor Lê Almeida e o estúdio Toca do Bandido, de Constança Scofield, ex-colega de Érika na Penélope. A mixagem ficou a cargo do produtor americano Jim Diamond, um especialista em rock de garagem, que trabalhou nos primeiros discos de The White Stripes e no mais recente álbum de The Sonics

O disco estará disponível para streaming e para download no site oficial da banda, claro, mas sairá também nos formatos de compact disc, disco de vinil e fita cassete. Sim, fita cassete.

Little Quail and The Mad Birds: Gabriel Thomaz, Bacalhau e Zé Ovo *Acervo pessoal*
Little Quail and The Mad Birds: Gabriel Thomaz, Bacalhau e Zé Ovo *Acervo pessoal*

 

O passado dos Autoramas

Érika Martins conta que Gabriel Thomaz até hoje mantém um armário cheio de fitas cassetes no apartamento do casal, no bairro carioca da Glória. São relíquias de tempos antigos. Material que recebeu na época em que despontava na cena brasiliense com o trio Little Quail and The Mad Birds, final dos anos 1980, início dos anos 1990.

“Esta geração do rock brasileiro não pode ser esquecida, não pode ser apagada da história como uma fita cassete que se deteriorou”, compara Gabriel Thomaz, ainda hoje alarmado com a vez em que jogou no Google o nome da banda brasiliense Animais dos Espelhos, contemporânea do Little Quail, e conseguiu como resposta pouquíssimos registros, apenas dois ou três.

Naquela época, ainda era muito caro para uma banda independente encomendar seus vinis nas fábricas, e CDs então era impossível. Os músicos, portanto, tiveram de fazer das fitas cassetes, mais prosaicas e baratinhas, um produto de divulgação quase profissional. Gabriel Thomaz lembra que ele pessoalmente gravou, em seu aparelho de som, duas mil cassetes do Little Quail. “Era um produto artesanal feito em escala industrial.”

Essas fitas eram vendidas em lojas como a Head Collection e a Berlin Discos, ambas no Conic, e eram executadas em programas de rádio como o “Cult 22”, então na Cultura FM. Essas fitas caíam no correio e alimentavam matérias em fanzines e jornais alternativos espalhados por todo o país, tecendo uma rede informal de fãs e de músicos.

Essa história e esses lugares, suas bandas e personagens, estão sendo resgatados por Gabriel no livro em quadrinhos “Magnéticos 90”. Ele escreveu a narrativa e Daniel Juca, cartunista carioca da revista “Tarja Preta”, fez os desenhos. O volume será lançado pela editora Ideal, no início de 2016, com orelha assinada pelo jornalista e radialista brasiliense Marcos Pinheiro, do “Cult 22”.

“Tive a sorte de começar muito novinho, eu tinha 14 anos quando formamos o Little Quail, basta ver uma foto minha dessa época para perceber o quanto eu era garoto”, sorri Gabriel. “Eu com 41 anos ainda estou por aí, ainda buscando meus sonhos, mas com o privilégio de agora poder contar uma história de 20 anos atrás.”

Compartilhar notícia

Quais assuntos você deseja receber?

sino

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

sino

Mais opções no Google Chrome

2.

sino

Configurações

3.

Configurações do site

4.

sino

Notificações

5.

sino

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comEntretenimento

Você quer ficar por dentro das notícias de entretenimento mais importantes e receber notificações em tempo real?