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Quem vê muito pornô tem mais dificuldade de fazer sexo na vida real

Jovens de 20 e poucos anos aprenderam tudo o que sabem sobre sexo assistindo pornografia na web. Só se esqueceram de verificar se as lições se aplicavam ao mundo real. Decepcionados, desenvolveram problemas para ir para a cama com suas parceiras. Agora, defendem uma educação sexual que fale ampla e abertamente sobre o pornô virtual

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Sad man in bed with laptop
1 de 1 Sad man in bed with laptop - Foto: iStock

Todo mundo que você conhece assiste pornô. Provavelmente, na internet. A indústria on-line do sexo bate recordes de tráfego e buscas em sites como o Google e movimenta milhões de dólares todos os anos. A banda larga ajudou a distribuir pornografia gratuita, abundante e a um clique de esforço. Só não avisou que a espiadinha poderia virar vício. E o vício virtual, problemas no sexo da vida real.

Duas décadas depois da World Wide Web e de quase 80 milhões de sites dedicados ao pornô, jovens de 20 e poucos anos, frequentadores assíduos dessas páginas desde que descobriram o que é sexo, começam a se movimentar para contar ao mundo como o hábito afetou sua saúde sexual. Não é moralismo nem religião. É disfunção erétil mesmo. E os médicos dizem que o alerta faz, sim, sentido.

Por enquanto, a movimentação é nos EUA. Uma dessas vozes é Gabe Deem, um jovem de 28 anos que consome pornô pela internet desde os 12 e diz ter desenvolvido “disfunção erétil pornô-induzida” aos 23. Na prática, significa que Gabe não conseguia ir para a cama com sua namorada, porque o seu cérebro já estava condicionado a um nível de estímulo muito maior do que o que se vê na prática.

Pane no sistema
Ele conta que a disfunção o deprimiu, o que atrapalhou ainda mais seu relacionamento. A bola de neve fez com que ele tomasse uma decisão radical: fazer o log off de todos os sites que frequentava e começar o que chama de “reboot”, ou, em bom português, a “reinicialização” do seu “sistema” sexual. Não porque assistir a pornô fosse errado, mas porque era a causa de só conseguir manter uma ereção diante das estripulias mirabolantes das atrizes.

Hoje ele defende não a proibição da pornografia na internet, mas uma educação sexual que aborde os riscos que o vício pode trazer à saúde mental e sexual. Da mesma forma que quem fuma sabe exatamente o mal que o cigarro faz, ele diz, ou que quem bebe sabe o que pode acontecer.

Hoje eu vejo a pornografia como algo completamente contra o meu prazer. Quando penso em pornografia, penso em uma coisa não saudável, que vai contra o meu prazer sexual e que vai destruir minha capacidade de curtir o sexo com alguém que eu amo. Porque pornô nunca vai ser uma coisa que eu realmente amo. 

Gabe Deem, em entrevista a Noah B. E. Church, do site AddictedToInternetPorn.com

Reprodução/Instagram
Gabe Deem, fundador do RebootNation, diz que se curou de uma disfunção erétil depois de abandonar o pornô

Embora Deem seja a voz mais forte do movimento, no seu site, RebootNation, uma série de outros homens contam sobre seus vícios, disfunções e o processo de “detox” da pornografia.

Um deles, de 22 anos, por exemplo, conta que entrou no que eles chamam de “PMO” (pornô-masturbação-orgasmo) aos 12 anos e só recentemente descobriu que sua falta de libido e seu baixo desempenho sexual poderiam estar relacionados a isso.

Ele estava há 22 dias “sóbrio”. “Sobre os benefícios, eu sinto mais energia e tenho sonhado mais. Essa energia extra tem me mantido mais fora de casa e mais ativo socialmente. Tenho que dizer, tenho até recebido mais atenção de mulheres. Nada concreto ainda, mas estou mais confiante sobre as oportunidades”.

Relatos assim tem aos montes. Homens de 20, 30 e 40 e poucos anos. O diagnóstico que eles mesmos se dão, no entanto, a tal da disfunção erétil pornô-induzida, ainda não existe oficialmente nos consultórios médicos.

Mas não parece absurda para os urologistas. Na verdade, soa como nova roupagem para o que os especialistas já chamam de “disfunção erétil situacional”, quando a saúde e a anatomia do pênis são normais, mas em algumas situações o homem não consegue manter a ereção.

“As pessoas falam pouco sobre isso, claro, porque ninguém vai querer se expor”, comenta o urologista Eduardo Bertero, chefe do departamento de andrologia da Sociedade Brasileira de Urologia. “Mas já existem alguns trabalhos, inclusive envolvendo neurociência, que dizem que homens que praticam cibersexo têm mais dificuldade em se excitar em outras situações. Só com os filmes”, continua.

Quando o menino é jovem e tímido a coisa fica ainda mais latente, segundo o especialista. Sem coragem de conquistar uma parceira, ele acaba se acomodando nos sites para vivenciar sua sexualidade. “O que esses meninos alegam faz muito sentido. O pornô pode ser legal, até para ser usado em casal, mas com moderação”, conclui.

O mundo XXL
É praticamente impossível encontrar dentro do seu círculo de amigos – e amigas – quem nunca tenha feito uma visita sequer a um site de pornografia gratuita na internet. Em 2013, quando o site canadense Paint Bottle fez sua estreia na rede, revelou que, juntos, os sites de vídeos pornô recebem mais acessos mensais que Twitter, Amazon e Netflix somados.

Outro levantamento, feito pela revista The Week, diz que 12% de todos os web sites hoje são de temática pornô – surgem 266 novos todos os dias. Só nos Estados Unidos, a indústria do pornô cibernético movimenta R$ 7 bilhões por ano. Os dados são de 2014.

Já do outro lado da tela, os dados são menos animadores. Segundo um estudo publicado no Journal of Adolescent Health em 2012, 30% dos jovens com idade entre 18 e 25 anos  já apresentavam algum tipo de disfunção erétil.

Em uma enquete feita pelo jornal The Japan Times, 36% dos adolescentes com idade entre 16 e 19 anos responderam que não têm interesse em sexo, o dobro do que em 2008. De acordo com os defensores do “reboot”, sinais de uma geração que cresceu com pornô acessível, anônimo e gratuito.

“Se a criança começa a ver filme pornô muito cedo e faz dessa atividade sua única forma de aprendizagem sexual, é óbvio que isso vai atrapalhar. Ela pode se tornar uma pessoa pouco sociável nas suas relações afetivas, porque tem receio de não saber ser tão bom ou tão suficiente quanto suas referências”, argumenta Maria Helena Vilela, coordenadora do Instituto Kaplan, em São Paulo, um serviço de educação e orientação sexual.

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O estímulo do pornô, segundo Maria Helena, é tão potente e irreal que se corre o risco de que as expectativas sejam sempre meio frustradas no mundo real. “Ele cria uma referência de sexo que vai deixá-lo inseguro. O estímulo visual é muito alto e isso, às vezes, ele não consegue através do contato natural”, continua.

Diante dessa “doença”, fruto dos novos tempos, a educadora vai na mesma linha dos jovens americanos: não é preciso proibir, e sim ensinar. “Os professores tiram da mão do aluno a revistinha e não aproveitam aquela oportunidade para falar de pornografia. Eles precisam saber que isso não é bom para a saúde sexual deles. Se eles souberem que isso pode deixá-los ‘brocha’ no futuro, eles vão ouvir com atenção”, diz.

Não tem nada a ver com moral. Só com caras querendo ter pênis funcionais.

Gabe Deem no Twitter

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