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Roubos crescem em bairros nobres e capital tem 16 assaltos por hora

Com aumento de roubos em bairros nobre e no centro, capital paulista tem 16 assaltos registrados por hora em 2022

atualizado

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Reprodução/Startup Gabriel
Assalto em São Paulo em 2022
1 de 1 Assalto em São Paulo em 2022 - Foto: Reprodução/Startup Gabriel

São Paulo – Francisco Machado, de 68 anos, só circula pelas ruas do centro com o vidro do carro fechado. O medo reflete uma rotina de aumento de roubos que ele testemunha diariamente na capital paulista, onde 16 assaltos a cada hora foram registrados ao longo de 2022.

“Vários amigos já se mudaram daqui e foram morar em outras cidades, em busca de mais segurança para os filhos e maior qualidade de vida”, diz Machado. A região na qual ele mora e bairros nobres da capital foram os que tiveram a maior alta no número de roubos.

Ao todo, foram 143.936 assaltos registrados na cidade de São Paulo no ano passado, um aumento de 12% em relação a 2021, segundo dados da Secretaria da Segurança Pública (SSP).

Levantamento do Metrópoles mostra que entre as áreas mais afetadas pelo boom da violência estão a Consolação, Campos Elísios, Sé e Santa Cecília, na região central, além de Perdizes, Pinheiros, Jardins e Itaim Bibi, áreas ricas da cidade – enquanto distritos da periferia chegaram a ter menos roubos em 2022 (veja gráfico abaixo).

Criminalidade

No centro, se tornaram comuns relatos de ataques de gangues da bicicleta, que tomam principalmente o celular do pedestre, e de ladrões que miram carros parados em semáforos. Morador da região há quase três décadas, Francisco Machado relaciona a alta de crimes patrimoniais à degradação urbana.

“Toda área degradada atrai a criminalidade. Na segurança, essa regra é infalível”, afirma. Ex-presidente do Conselho de Segurança (Conseg) de Santa Cecília, Machado atualmente é ativista do desmonte do Minhocão, viaduto sob o qual se abrigam famílias em situação de rua e usuários da Cracolândia.

Com alta de 67% no roubos em 2022, Pinheiros, na zona oeste, sofreu com uma série de roubos praticados por falsos entregadores de delivery. Na Rua Mateus Grou, câmeras de segurança chegaram a flagrar dois assaltos à mão armada em menos de 24 horas, praticados em abril.

Na primeira ocorrência (vídeo acima), à luz do dia, o criminoso aborda um rapaz que caminhava com o cachorro, ameaça a vítima com um tiro para cima e chega a correr atrás dela pela quadra. Horas depois, um casal de pedestres também é assaltado e perseguido (vídeo abaixo).

 

Crimes mais elaborados, que demandam planejamento dos bandidos, também foram registrados em bairros nobre. Em agosto de 2022, uma quadrilha especializada em desviar dinheiro, via Pix, chegou a alugar uma sala comercial no mesmo prédio de uma administradora de bens no Itaim Bibi, na zona oeste, invadiram o escritório e roubaram R$ 14 milhões.

O caso deu origem à investigação que resultou com 34 presos em janeiro de 2023. A Polícia Civil também recuperou cerca de R$ 4 milhões roubados.

Perfil dos roubos

O perfil de assaltos no Estado, elaborado pela SSP, aponta que o celular é o item cada vez mais visado pelos ladrões, constando como objeto roubado em 67,3% das ocorrências de 2022. Em 2021, o indicador era de 63,5%.

Do total de roubos no Estado, o balanço aponta que 22,5% foram contra transeuntes e 3,4% contra comércios. Esses indicadores são, proporcionalmente, menores do que em 2021 – quando a pandemia de Covid-19 era ainda mais aguda e, mesmo assim, 26,1% dos assaltos haviam sido praticados contra transeuntes e 4,3% contra comércio.

Ex-secretário nacional de Segurança Pública e coronel reformado da PM, José Vicente Filho avalia que, para conseguir redução efetiva dos roubos, é necessário investir mais fichas na prevenção de casos – e não só reprimir quando um assalto ocorre.

“A Polícia Militar, principalmente, faz o mapeamento dos pontos de maior incidência. Até recentemente, os roubos de celular aconteciam a uma média de 18 metros de distância um do outro”, afirma. “Mas só mandar o patrulhamento para essas regiões não resolve. É preciso saber por que o crime está aumentando naquele local. Muitas vezes, é um grupo pequeno de assaltantes que provoca a alta incidência: cabe à Polícia Civil identificar quem são e ir atrás dos bandidos mais operantes.”

Em 31 das 93 delegacias de São Paulo, no entanto, o número de roubos em 2022 contrariou a tendência de alta da capital e recuou na comparação com o ano anterior. Na maioria dos casos, a redução de assaltos aconteceu em áreas da periferia – incluindo os bairros do Parque Bristol, Cidade Tiradentes e Parelheiros (gráfico abaixo).

Déficit policial

Frear o aumento de roubos na capital é um dos principais desafios de segurança da gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos), que assumiu o governo de São Paulo em janeiro e já acendeu o sinal de alerta para esse tipo de crime.

Secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite aposta em operações de repressão e no deslocamento de policiais militares para as áreas de maior incidência para reduzir os indicadores. Entretanto, ele admite que o número atual de agentes de segurança disponível não seria suficiente para “evitar que todos esses crimes cessem de uma hora para outra”.

“Ninguém está aqui para tapar o sol com a peneira, nós herdamos a pior defasagem do efetivo policial da história de São Paulo”, declarou o chefe da SSP na semana passada. “Estamos trabalhando com efetivo com defasagem de 15% da Polícia Militar, o que representa mais de 10 mil homens, 25% da Polícia Técnico-Científica e quase 33% da Polícia Civil.”

Segundo Derrite, com o quadro de hoje, é necessário escalar agentes que trabalham na folga, no chamado “bico oficial”, para fazer o policiamento ostensivo e cobrir regiões de maior incidência.

“Em 2022, tínhamos uma média de 25 armas de fogo apreendidas. Hoje, são 40 armas de fogo. Eram 222 prisões em flagrante por dia. Agora, são 256”, afirma. “O reflexo disso, a gente vai ver daqui a dois meses. Certamente (os registros de crimes) vão cair por conta da produtividade operacional.”

O que diz o governo

Em nota enviada ao Metrópoles, a SSP afirmou que os casos ocorridos nos bairros nobres, que tiveram alta nos roubos, são investigados com o apoio da 3ª Delegacia Seccional (Oeste) e que 55 suspeitos foram presos nas áreas do 14º DP (Pinheiros) e 15º DP (Itaim Bibi) em janeiro deste ano.

A secretaria afirmou ainda que “o combate à criminalidade em São Paulo é uma das prioridades da atual gestão” e que “determinou o reforço no policiamento em todo o Estado por meio da Operação Impacto, com o objetivo de ampliar a ação ostensiva, potencializar a percepção de segurança e reduzir os indicadores criminais”.

Ainda segunda a pasta, entre os dias 11 e 29 de janeiro, foram 778 detidos, 54 armas de fogo retiradas das ruas e mais de uma tonelada de drogas apreendida na capital e na Grande São Paulo.

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