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Pesquisas agora não indicam o melhor candidato nem quem vai ganhar

Um candidato “sem voto”, aquele que nunca disputou eleições, pode ter potencial de crescimento superior ao de políticos com mandato

Autor Hélio Doyle

atualizado

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Elza Fiúza/ABR
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1 de 1 urna_eleitoral-840×577 - Foto: Elza Fiúza/ABR

A posição atual de um candidato nas pesquisas de opinião não é, seguramente, o melhor critério para dizer se ele tem ou não chances de vencer as eleições de outubro. Aqueles que defendem esse indicador como referência para definir quem deve ser o candidato de um partido ou coligação, ou o usam para antecipar os resultados de outubro, não conhecem o processo eleitoral. Ou fingem desconhecer, por interesse.

Em 1994 o PT, com apoio dos partidos de esquerda, lançou a candidatura do professor Cristovam Buarque para o Governo do Distrito Federal. Cristovam, que tinha sido reitor da Universidade de Brasília (UnB), era pouco conhecido e, no início do primeiro turno, mantinha baixos índices nas pesquisas quantitativas, ficando em terceiro lugar. Sua derrota para o candidato apoiado pelo governador Joaquim Roriz, o senador Valmir Campelo, era dada como certa.

Alguns petistas, com respaldo de jornalistas, passaram a criticar a escolha, argumentando que o deputado Chico Vigilante é quem deveria ter sido o candidato do partido, pois ele tinha mais intenções de voto antes da definição das candidaturas. Algo como 20%, enquanto Cristovam não passava de 5%.

Mas os críticos estavam errados. É comum, em campanhas eleitorais, que militantes, amigos, curiosos e familiares dos candidatos deem palpites e queiram interferir na estratégia e nas táticas estabelecidas, mesmo nada ou pouco entendendo do assunto. Afinal, até mesmo a maioria dos políticos não sabe ler e entender pesquisas eleitorais, limitando-se a interpretações superficiais e conclusões simplistas.

Aqueles petistas e jornalistas não entendiam que o perfil mais amplo de Cristovam aglutinava um eleitorado além dos que votavam no PT, à época na faixa de 25%. O ex-reitor tinha potencial claro de vitória se fosse para o segundo turno. Já Chico Vigilante, profundamente identificado com a imagem do PT, dificilmente passaria dos 30%.

Boeing x teco-teco
O dono do então principal instituto de pesquisa de Brasília, Ricardo Penna, o qual obviamente não era leigo e por isso sabia avaliar corretamente o potencial de Cristovam, explicou o que acontecia de outra maneira: o PT era um Boeing que precisava de muita pista para decolar.

Um teco-teco decola com pouca pista, mas não vai tão longe. Como se sabe, Cristovam cresceu, superou Maria Abadia, do PSDB, e foi para o segundo turno contra Valmir Campelo com apenas 2,47% de diferença. No segundo turno, venceu com 53,89% dos votos.

Não tem sentido, pois, assegurar com base apenas em pesquisas quantitativas, realizadas meses antes da eleição, que um candidato não decola ou não tem chances. Elas são apenas um indicador – e, assim mesmo, somente se interpretadas corretamente – ao qual se somam os levantamentos qualitativos (muito mais importantes), o conhecimento do perfil e do humor dos eleitores e a avaliação das condições de que dispõem os candidatos para fazer a campanha.

Um candidato “sem voto” – modo pejorativo como alguns se referem aos que nunca disputaram eleições – pode ter potencial de crescimento e de vitória muito superior ao de políticos “com voto” (ou seja, com mandato). Especialmente agora, com a enorme rejeição aos políticos e à política tradicional

Isso não quer dizer que esse potencial consiga se concretizar, pois outras variáveis pesam. Um candidato, por exemplo, pode estar inteiramente dentro do perfil desejado pelos eleitores, mas não conseguirá vencer se disputar em um partido sem condições de lhe oferecer a estrutura necessária para que tenha visibilidade.

Sempre é bom lembrar que, entre a definição de um candidato ou chapa e o dia da eleição, há uma campanha eleitoral. E todos conhecem candidatos que dispararam na frente e nem foram para o segundo turno, e outros que demoraram a decolar e ganharam a eleição.

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