Palcos de Brasília: professoras catalogam história do teatro no DF
Pesquisa começou em 2010 e reuniu todas as reportagens sobre artes cênicas publicadas entre 1972 e 1999
atualizado
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A Universidade de Brasília (UnB) lança, nesta segunda-feira (14/5), o livro e base de dados Inventários de Cenas: Mapeamento de Fontes Sobre o Teatro-DF. De autoria das historiadoras Elizângela Carrijo e Ana Lúcia Gomes, o projeto reúne importante recorte das artes cênicas brasilienses: catalogando 27.641 notícias referentes a espetáculos publicadas entre 1972 e 1999.
Diante da falta de livros e registros que tracem a evolução das artes cênicas na região, Elizângela se inquietou. “Quando você vai contar a história de algo, deve mostrar quem disse, qual a base da sua afirmação. O fundamento são os documentos. Para falar do teatro de Brasília, não se tem uma organização única”, comenta a professora.O estudo começou como um Projeto de Iniciação Científica, em 2010, quando as pesquisadoras selecionaram estudantes da Universidade para folhearem, página a página, os exemplares do arquivo do Jornal de Brasília. Munidos de equipamentos de proteção individual, os alunos recolheram os dados em planilhas que hoje constam na publicação.
“Tenho a impressão de que as pessoas do teatro o praticam, mas não o documentam. Eles mal guardam os cartazes das peças. E quando conservam, o panfleto não tem todas as datas de apresentações”, reflete a professora Ana.
As pesquisadoras esperam, com a publicação, deixar um fio condutor para aqueles que desejam ou precisam estudar a história do teatro brasiliense: por exemplo, a disciplina é cobrada tanto no vestibular como no Programa de Avaliação Seriada (PAS), da UnB.
A necessidade do registro se dá também porque embora a cidade seja muito jovem os primeiros habitantes estão com a idade avançada. “As pessoas estão idosas. Quem vai contar essa história? Aí entra a Universidade como centro de pesquisa, informação e memória”, argumenta Elizângela. Para ela, é preocupante ver a juventude brasiliense desconhecendo, por exemplo, a obra de Hugo Rodas, diretor de teatro uruguaio estabelecido na cidade desde 1975. “Mas a culpa é da moçada ou de quem não contou a eles sobre o Rodas?”, questiona a acadêmica.
Para o próprio Rodas, também professor da UnB, o hercúleo trabalho das pesquisadores merece reconhecimento. “Essa memória é sempre enormemente válida para a vida da cidade. Mas acho que eu mesmo, diretor de 150 espetáculos na cidade, seria incapaz de produzi-la”, aponta. Aos 78 anos, o diretor afirma se interessar mais no presente. “Ultimamente, prefiro estar trabalhando a ser lido. Mesmo aposentado, continuo dando aula. É o meu jeito de me aproximar da juventude, de me sentir jovem”, reflete.
Para o colunista do Metrópoles e dramaturgo Sérgio Maggio, por sua efemeridade, o teatro precisa de registros como o feito pelas historiadoras. “Quando se fecham as cortinas, o espetáculo morre. Fica na memória dos espectadores. Se a gente compuser esses 58 anos de artes cênicas em Brasília, conseguimos traçar a história da capital. A identidade dos palcos brasilienses vive na pluralidade de origens de quem construiu a cidade”, afirma o jornalista, responsável pela série Teatro 061.
O legado da pesquisa, segundo as historiadoras, ainda se estende às políticas públicas relacionadas à arte. “Não tem como fazer leis efetivas sem dados, desconhecendo o objeto de estudo. Só se debate o Fundo de Apoio à Cultura (FAC), o dinheiro e o fomento. Mas cadê a política? E se o estudo indicar que a maior necessidade da cidade é a construção de salas modernas em Brasília?”, indaga a professora Elizângela.
Questionadas sobre o advento do digital, as historiadoras se mostraram céticas. “Para mim, isso de guardar dados na nuvem é o mesmo que guardar coisas num quarto escuro. Se não tiver organização, classificação, indexação e principalmente segurança, tudo pode se perder. A documentação na web exige os mesmos critérios da física”, orienta Elizângela.
Lançamento do livro e base de dados Inventários de Cenas: Mapeamento de Fontes Sobre o Teatro-DF
14 de maio, às 15h, no Auditório Joaquim Nabuco (Faculdade de Direito da UnB, Campus Darcy Ribeiro, Asa Norte). Entrada franca