“Metáfora” desafia a percepção do espectador

Abra a porta da Galeria Fayga Ostrower – e, por favor, não demore a fechá-la atrás de ti. Pisar dentro de “Metáfora”, a exposição dos artistas gaúchos André Severo e Paula Krause ali em cartaz, equivale a mergulhar num mundo paralelo. Nem sempre acolhedor.

A porta fechada garante a imersão absoluta do visitante. Som e imagem. Luz e cor. Tons de cinza pontuam as paredes brancas da Fayga Ostrower, e a luz da porta aberta arruinaria a experiência. Fotografias e vídeos, todos em preto e branco, se alternam pelo ambiente formando uma espécie de videoinstalação imensa.

Cada fração desse todo é assinada pelo casal gaúcho André & Paula, foi pensada como parte de uma experiência única e assim deve ser experimentada. Há elementos estéticos e temáticos que ligam umas às outras, há pontes sonoras e visuais, mas o fio para amarrar esta história ainda tem que ser encontrado.

Trilha sonora impressionista
O mar quebrando na praia, as nuvens se acumulando ao redor de montanhas, as árvores em seu eterno silêncio na mata fechada. Corpos humanos se deixando cair no chão, depois tentando se erguer do chão, em constante desalento sob uma trilha sonora impressionista que evoca sons dessa natureza (hostil).

A narrativa aqui é visual, essencialmente visual, e está tão tênue quanto se fosse um sonho. Ela pode ser contada e recontada, reconstruída a cada passo do visitante, que tem a sala inteira para se locomover e tem as imagens para ordenar e reordenar em sua cabeça.

Agora as palavras estão à deriva. Ficam confinadas em pequenos textos, sob o título geral de “El Mensajero”, datilografados em espanhol e estudadamente mal-iluminados, para que não sobressaiam. Pode-se ler o convite: “Marcha sobre el abismo con los ojos cerrados, balanceándose sobre la cuerda floja…”.

Até 20 de setembro, no Complexo Cultural Funarte Brasíliia, Galeria Fayga Ostrower (Setor de Divulgação Cultural, Lote 2, 3322-2076). Das 9h às 21h. Entrada franca. Livre.