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Cannes: “Tori et Lokita”, de Jean-Pierre & Luc Dardenne

Os irmãos belgas, onipresentes no Festival, não inovam em sua forma, mas escalam duas presenças incríveis para seu novo filme.

atualizado

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Festival de Cannes/Divulgação
Tori e Lokita
1 de 1 Tori e Lokita - Foto: Festival de Cannes/Divulgação

O que mais tenho a dizer sobre os irmãos Dardenne? Já ganharam a Palma de Ouro duas vezes e fazem sempre o mesmo filme é o que geralmente digo. Para quem nunca assistiu, qualquer filme deles é interessante (menos um, que identificarei mais tarde), especialmente no uso de não-atores e na maneira quase documental com que retratam seus personagens. Cada exemplar de filme não é só um estudo sobre uma personagem, mas sobre todo um retrato civilizatório. Isolados, cada um uma pequena obra-prima sobre dramas humanos. Assistindo um atrás do outro, porém, fica mais que evidente uma fórmula, e toda fórmula começa a ficar enfadonha.

“Tori et Lokita”, seu novo filme, não é uma partida da fórmula. Existe aqui, porém, um pequeno ajuste. Seus protagonistas são um menino e uma adolescente negros, imigrantes africanos, sozinhos no mundo, buscando a cidadania belga. Logo na primeira cena, oficiais não acreditam muito na história de Lokita (Joely Mbundu), que afirma ter encontrado seu irmão mais novo Tori (Pablo Schils) em um orfanato, ainda na África, depois de anos separados. Como o processo de permanência de Tori está mais adiantado, Lokita pode estar mentindo para ter mais chance de ser aprovada também.

Eventualmente esta dúvida será esclarecida, mas nem importa tanto assim, pois a conexão entre os dois é inegável (mais um resultado do trabalho incrível de Mbundu e Schils). O filme não mostra o que aconteceu até chegarem na Bélgica, apenas que foi o suficiente em uni-los para sempre, venha o que vier. O problema é que são crianças com um futuro incerto, sendo cobradas de todos os lados. São perseguidos pelos traficantes que os trouxeram, cobrando a dívida do tráfico e pressionados pela mãe de Lokita a enviarem cada vez mais dinheiro para sustentar os familiares que ficaram no continente. O trabalho que fazem num restaurante italiano não rende o suficiente, por isso, após cada turno, traficam as drogas que o cozinheiro lhes repassa.

Apesar de sempre tratarem personagens praticamente às margens da sociedade, é muito raro que os Dardennes situem personagens não-brancos no centro de suas histórias, mas o caminho vem sendo trilhado. Em “The Unknown Girl”, uma médica branca investiga a morte de um imigrante e em “Jovem Ahmed”, o personagem principal é um adolescente árabe endoutrinado para o terrorismo. Este último, tão ruim, que eu esperava uma interrupção na experimentação. Desta vez, acertaram em cheio.

Tori e Lokita são crianças boas, carinhosas e atenciosas, capazes de conquistar os corações dos espectadores. Talvez sejam os protagonistas mais capazes disso em muito tempo nesta filmografia. Ver algo de ruim acontecer a eles significa sofrer junto com eles. E, logo do começo, fica bem claro que várias coisas ruins vão acontecer a eles. Afinal, estão bem próximos do final da fila de importância no habitat que ocupam.

Avaliação: Ótimo (4 estrelas)

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