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Cannes: “Les Pires”, de Lise Akoka e Romane Gueret

Este simples e despretensioso drama, sobre uma filmagem que utiliza crianças problemáticas em seu elenco, emerge como um dos favoritos.

atualizado

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Festival de Cannes/Divulgação
Les Pires
1 de 1 Les Pires - Foto: Festival de Cannes/Divulgação

Apresentar um filme sobre fazer um filme corre o risco de resultados pretensiosos e masturbatórios. Afinal de contas, se trata de algo muito conveniente colocar um personagem que é um diretor de cinema no centro de um drama quando este filme em si é regido por um diretor (ou, neste caso, duas diretoras). O personagem-diretor no filme das reais diretoras Lise Akoka e Romane Gueret é por vezes encantador e irresponsável, acolhedor e frio. Gabriel (Johan Heldenbergh, excelente) está rodando um filme de periferia na França, com jovens atores não profissionais, tentando fazer com que estes extraiam de suas próprias vidas, a força de performances fortes e “verdadeiras”.

O triunfo das diretoras, em “Les Pires” é em fazer de Gabriel um coadjuvante, preferindo focar em seus atores e na sua equipe. O próprio Gabriel, no começo do filme, confessa estar atrás de crianças e adolescentes “que não tem uma vida fácil” para trabalhar no filme. Três deles são Ryan (Timeo Mahaut), Jessy (Loic Pech) e Lily (Mallory Wanecque). Ryan é o mais novo–com cerca de 10 anos, morando com a irmã adulta, está lidando com a separação de sua mãe viciada. Jessy acaba de sair do reformatório por envolvimento em um acidente de carro e seu par romântico Lily lida com a perda de um irmão mais novo para o câncer e bullying na escola por uma fama de promiscuidade.

Do outro lado, na equipe do filme, se destacam o próprio Gabriel, Judith (Esther Archambault) é a assistente de direção responsável por lidar com os atores mirins e Victor (Matthias Jacquin), um operador de som que cuida da microfonagem e desenvolve uma conversa fácil com Lily. Se trata, obviamente, de um filme atuado em conjunto, aonde o espectador facilmente confunde ator com personagem.

O destaque especial do filme é não se ater à experiência de uma só pessoa, mas sim misturar a todos em um caldeirão e salpicar cenas individuais de suas vidas além do filme que estão fazendo juntos (dentro do filme). Tudo que poderia ser explorado pelo roteiro o é, a começar pelo ressentimento dos moradores da cidade, duvidosos sobre o que o filme vem a dizer sobre sua comunidade. Alguns acham que, ao escolher jovens tumultuosos como atores, a equipe está rodando o filme para humilhar ou criticar esta população. Por que não focar na equipe esportiva local, uma história de sucesso? Da mesma maneira, os jovens atores sofrem com os ciúmes de seus colegas, preteridos pelo casting.

Dentro da produção, vemos Gabriel beirar limites éticos, em uma cena de agressão envolvendo Ryan, e uma cena de sexo com Jessy e Lily. As questões que norteiam o fazer de cinema são explicitadas e desenvolvidas para quem não conhece e também para quem já sabe como acontece. Estes 3 jovens sequer tem experiência em serem bem tratados e paparicados por adultos, algo que Lily confundirá com amor.

A experiência de uma produção de cinema gera uma família–só que temporária. Esta começa no primeiro dia de filmagem e termina no último. Um perrengue difícil, porém amoroso. Deixa marcas e saudades. Explorar o tema nesta locação, com personagens cujas próprias famílias sofrem de tanta dificuldade, é agridoce.

Avaliação: Excelente (5 estrelas)

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