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PCDF investiga envenenamento de professor em escola da Asa Norte

Nos áudios em que o docente agoniza, ele diz que começou a passar mal após tomar suco oferecido por colega do CEF 410 Norte

atualizado

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Hugo Barreto/Metrópoles
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1 de 1 escola1 - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

A Polícia Civil do Distrito Federal investiga se um professor da rede pública de ensino foi envenenado dentro do Centro de Ensino Fundamental 410 Norte. Odailton Charles de Albuquerque Silva, 50 anos, deu entrada no Hospital Regional da Asa Norte (Hran) em estado gravíssimo na última quinta-feira (30/01/2020).

Enquanto participava de uma reunião na escola onde foi diretor por seis anos, Odailton tomou um suco de uva. Poucos minutos depois, começou a passar mal. Durante a crise, enviou áudios angustiantes a familiares e colegas, pedindo socorro e detalhando seu estado de saúde. O docente chegou a dizer nas gravações de WhatsApp que desconfiava de alguma substância estranha em sua bebida.

“Alguém me ajuda, alguém me ajuda. Eu cheguei aqui, tomei um suco e acho que colocaram laxante, estou com muita diarreia”, disse o educador.

À medida em que os áudios eram enviados, a situação piorava, o que ficou perceptível devido ao tom de voz e pela dificuldade de respiração do professor.

Uma servidora que estava com o docente em reunião e presenciou o episódio telefonou para a esposa de Odailton e informou que ele estava passando mal. A mulher do professor sugeriu que o marido fosse levado ao hospital. O Corpo de Bombeiros foi acionado e conduziu o ex-diretor para o Hran.

O caso foi tipificado como tentativa de homicídio e está sob investigação da 2ª Delegacia de Polícia (Asa Norte). Laudo preliminar com material biológico da vítima, ao qual o Metrópoles teve acesso, constatou que ele teria sofrido intoxicação, provavelmente por algum organofosforado, substância presente em inseticidas e agrotóxicos.

Odailton permanece em estado gravíssimo, sem responder aos estímulos dos medicamentos. Diante da situação, a família decidiu registrar a ocorrência com base no conteúdo dos áudios, que podem apontar o cometimento de um crime.

Segundo a reportagem apurou com pessoas próximas ao professor, ele chegou a relatar dificuldade de relacionamento com uma colega da escola, justamente quem teria lhe oferecido o suco no dia da reunião. Em uma das mensagens enviadas a um amigo que também trabalha na instituição, o docente pontuou que sua interlocutora “estava com a cara de poucos amigos”. Frisou ainda que não queria beber o suco, mas acabou aceitando a bebida para não fazer desfeita. Odailton desconfiava de que a bebida teria lhe feito mal.

O Metrópoles não vai divulgar o nome da servidora porque o caso está sob apuração e a polícia aguarda o laudo definitivo para tirar conclusões. “A investigação não descarta nenhuma possibilidade. As pessoas que prestaram depoimento apresentaram versões divergentes que estão em análise”, disse o delegado-chefe da 2ª DP, Laércio Rossetto. Agentes da PCDF estiveram na escola infantil em busca de provas, mas não localizaram a garrafa de suco.

A instituição de ensino possui câmeras que poderiam ter registrado a dinâmica do incidente, mas, servidores informaram à reportagem, na manhã desta terça-feira (04/02/2020), que os equipamentos estão desligados.

Odailton Charles, ou simplesmente Charles, como era conhecido na escola, foi diretor do CEF 410 Norte por seis anos e, no dia em que passou mal, teria ido ao colégio justamente para passar a função à atual administração.

Tanto amigos como familiares disseram à polícia que Odailton vivia uma fase boa e fazia planos para o futuro. Casado e pai de uma menina de sete anos, o morador de Águas Claras planejava abrir uma empresa de assessoria. Recentemente, ele havia sido promovido pela Secretaria de Educação.

Em nota ao Metrópoles, a Secretaria de Educação disse que “lamenta o ocorrido e irá aguardar as conclusões do inquérito policial”. A direção da escola não quis comentar o assunto.

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