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Parada LGBT colore Esplanada dos Ministérios por direitos iguais

Organização espera, ao menos, 100 mil pessoas durante todo este domingo (14/07/2019)

atualizado

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André Borges/ Metrópoles
parada lgbt 20
1 de 1 parada lgbt 20 - Foto: André Borges/ Metrópoles

A 22ª parada LGBT de Brasília começou por volta das 14h deste domingo (14/07/2019) em frente ao lugar mais icônico da capital: o Congresso Nacional. De cima de um dos sete trios elétricos que acompanham o protesto, a organização lembrou que a homofobia foi tipificada como crime análogo ao racismo e pediu que a lei fosse respeitada. “Lugar de homofóbico é na cadeia!”, afirmaram os coordenadores. A expectativa era de que, ao menos, 100 mil pessoas comparecessem ao evento. À noite, este número chegou a 160 mil, segundo a própria organização. Em nota, a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF) informou que não fez a estimativa de público do evento.

Esta edição da Parada também se posiciona firmemente contra as políticas exercidas pelo governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL). Entre gritos de “Ele não”, slogan que ficou bastante conhecido durante as eleições do ano passado, os participantes demarcaram a postura de enfrentamento ao chefe do executivo federal brasileiro.

O coreógrafo Kenny Rodrigues levou sua Companhia de dança para se apresentar no evento. Ao lado da amiga Kamila Machado, Rodrigues se aqueceu ao som de Single Ladies, famoso hit da diva pop norte-americana, Beyoncé. “Minha expectativa para hoje é maravilhosa, estamos no maior evento do DF. É um privilegio ser artista participante”, comemora Rodrigues.

Para Kenny, ver a Parada se formando com as cores do arco-íris e cheia de alegria foi um alívio. “Depois da eleição do Bolsonaro, temi que não tivesse a parada, bem como qualquer outra intervenção artística no país”, afirma o dançarino.

A Parada Gay deste ano foi em homenagem a Stonewall,  a batida no bar nova-iorquino Stonewall Inn, que virou um marco da história da diversidade mundial. O dia em que foi marcado pela violência policial, quando membros da corporação agrediram gays, travestis e transexuais que estavam no local, virou motivo de força e luta. O fato ocorreu em 28 de junho de 1969. Este ano, o protesto saiu de frente ao Congresso e retorna na altura da Torre de TV, passando, novamente,  pela Rodoviária do Plano Piloto e encerrando, por volta das 21h, no Museu Nacional.

Esta foi a primeira vez que o publicitário Lucas de Assis participou da Parada, convencido pelos amigos Viviane Pires e Cassandra Trovão. O trio adora se montar na balada e bolaram uma fantasia em conjunto: entre o sol e a lua, uma nuvem com as cores da bandeira do movimento.

Lucas optou por marcar presença neste domingo porque acredita que é preciso celebrar, mas também lutar por diretos. “Não faz sentido despolitizar a Parada”, reclamou, referindo-se à manifestação alternativa ocorrida em dia 30 de junho. “Eu acho que a Parada tem que ser política. Começou assim”, relembra, referindo-se à insurreição de Stonewall.

As amigas Jeniffer Lemos, Maiza Felix e Ultielle Rocha combinaram de ir juntas à manifestação. “Eu nem sei em quantas paradas já fui. Vinha quando adolescente, dava uma desculpa para minha mãe”, conta Maiza, aos risos.

O trio acredita que a resposta à política conservadora está no tamanho da parada: elas acreditam que, a deste ano, será a maior de todas. “Assim a gente mostra para esse governo que estamos aqui e somos contra eles. Espero que lote”, afirma. “Fogo no parquinho!”, brincou Jeniffer.

 

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Além dos protestos políticos, a 22ª Parada LGBT também tem manifestações contra qualquer  gesto de intolerância, seja onde for, inclusive dentro de templos religiosos. Presente na Esplanada, a reverenda Tati, da igreja anglicana de Brasília, prega que “Deus ama todas as pessoas e não faz distinção entre ninguém”. “Ele nos criou como somos e merecemos ser amados como somos. Ninguém tem o direto, em nome da fé, de dizer o contrário”, bravejou.

Ludmila Santiago, transativista da Nave Trans, levanta a bandeira do respeito à transexualidade e aos direitos iguais. “É muito importante ocupar os espaços, ainda mais na situação em que o país se encontra. Não estamos pedindo aceitação! Nossos corpos existem na sociedade. Não vamos deixar que o fascismo nos engula”, disse.

O deputado distrital Fabio Felix (Psol) marcou presença na manifestação e reforçou o discurso político, contrário a qualquer forma de preconceito. “Estamos vivendo um tempo muito difícil no país, de ataque aos nossos direitos. A parada deste ano tem que ser muito forte e combativa, porque lembramos de LGBTs que morreram em Stonewall por nossos direitos”, disse. Acompanhado da deputada federal pelo PT, Érika Kokay, Felix enalteceu que a homofobia é crime e que é importante que aqueles que insistirem em cometer a arbitrariedade seja punido.

“Esse fascismo que colocou a faixa presidencial no peito quer tirar nossos direitos. Ele foi eleito porque o Brasil tem um preso político chamado Lula, que ousou dar direitos à população, inclusive LGBT. Eles acham que nossos corpos são feitos de átomos. Somos feitos de historia, de luta e de liberdade. Ele nos quer de volta no armário. Mas nós explodimos os armários”, disse a a petista.

O coordenador-geral da 22ª Parada do Orgulho LGBT de Brasília, Michel Platini, disse que os 160 mil presentes são uma resposta ao governo. “Teve um grupo pró-Bolsonaro que organizou uma parada em apoio ao governo e deu só 150 pessoas. Isso aqui é a resposta aos governos Bolsonaro e Ibaneis”, disse. Sobre a gestão local, Platini reclama que o Conselho de Direitos Humanos do DF está fechado desde janeiro. “Ele sucateou a Diversidade e o atendimento em pronto-socorro à população trans. A violência não acaba sozinha. Precisamos de políticas públicas para combatê-la”, finalizou.

Ocorrências

Durante todo o evento, não foram registradas casos de violência. Ao final do protesto, por volta das 21h45, a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) disse que, durante uma patrulha, foram encontrados 14 celulares dentro de um veículo, nas proximidades da Torre de TV e da Rodoviária do Plano Piloto. A corporação diz os aparelhos foram furtados durante a Parada do Orgulho LGBT e dizem que o bando fez um arrastão durante o evento, furtando os equipamentos das pessoas presentes. Todos suspeitos foram encaminhados para a 5ª Delegacia de Polícia (Área Central).

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