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Conta de água milionária do Mané é resultado de “ação humana”, diz GDF

O problema seria a abertura “indevida” do registro que regula um dos reservatórios da arena. Sindicância vai apurar se foi sabotagem

atualizado

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Rafaela Felicciano/Metrópoles
Mané Garrincha 1
1 de 1 Mané Garrincha 1 - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

A comissão criada pelo GDF para investigar a conta de R$ 2,2 milhões de água e esgoto no mês de junho do estádio Mané Garrincha investiga se a despesa milionária foi fruto de uma sabotagem ou erro operacional. Segundo a Casa Civil informou nesta terça-feira (25/7), os técnicos chegaram à conclusão de que a “ação humana” causou o desperdício. O problema seria a abertura indevida de um dos registros que regula os reservatórios construídos para armazenar água da chuva na arena. Agora, o que se quer saber é se foi uma atitude deliberada ou não.

“Nós vamos abrir uma sindicância para saber a responsabilidade”, disse o chefe da Casa Civil, Sérgio Sampaio. Ele afirmou que nenhuma hipótese está descartada no momento. A reportagem apurou que o sistema deveria funcionar de forma automatizada, mas como não houve a contratação para esse serviço, o mesmo era executado manualmente. Por isso, a suspeita de que possa ter sido deixado aberto de forma proposital. Assim, a água não foi efetivamente consumida e parou na rede pluvial que desemboca no Lago Paranoá.

Apesar disso, o governo culpa uma ligação irregular que, segundo ele, não estaria na planta original da arena. Isso teria permitido que a água da Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) passasse por um cano e chegasse aos reservatórios de água da chuva. Como ninguém percebeu que os tanques estavam cheios, a água foi parar no lago. No entanto, se o registro estivesse fechado, a ligação clandestina dos canos não teria influenciado no valor final da fatura.

Já há um acerto para que a Terracap, dona do estádio, pague metade da conta astronômica. O caso tomou proporções de escândalo, já que o último jogo no Mané foi em 6 de maio, há mais de dois meses. Diante da repercussão negativa, o governador Rodrigo Rollemberg (PSB) determinou que o caso fosse apurado pela Casa Civil.

De acordo com Sampaio, o alto consumo se deu ao longo de quatro meses: fevereiro, março, abril e maio. “Só veio em um único mês porque o funcionário da Caesb não conseguiu fazer a leitura nos meses anteriores”, disse. A conta de julho também virá alta, R$ 242 mil, contrariando as informações iniciais fornecidas pelo GDF de que estaria na média de R$ 37 mil.

Como mostrou o Metrópoles com exclusividade na última terça-feira (18), a conta de água e esgoto do estádio, com vencimento no dia 20 de junho, atingiu o valor milionário impressionante, suficiente para pagar a fatura por quase cinco anos. Até então, a média não ultrapassava R$ 37 mil.

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Os 94.295m³ (ou 94,2 milhões de litros de água) gastos pelo estádio Mané Garrincha no mês de junho seriam suficientes para abastecer cerca de 20 mil pessoas durante um mês. A quantidade garantiria água para moradores de uma cidade do porte da Candangolândia por 35 dias.

Sem projeto
A torneira dos gastos com água no Mané Garrincha poderia ter sido fechada desde a construção do estádio. Mas, na transição entre os governos Agnelo Queiroz (PT) e Rodrigo Rollemberg (PSB), o GDF fez escorrer pelo ralo o projeto que resultaria na economia mensal de até 58% dos gastos atuais.

Hoje, a média mensal da conta de água é de R$ 37 mil (R$ 432 mil por ano), mas projeções apontam que seria de R$ 15 mil (R$ 182 mil anuais) caso o governo tivesse executado o projeto de manejo previsto originariamente.

O contrato destinado a viabilizar uma gestão diferente para a captação e o uso de água do Mané Garrincha travou entre 2014 e 2015. De acordo com a Fluxus Design Ecológico, empresa que desenvolveu o plano, se a obra tivesse sido executada, resultaria em uma economia anual de R$ 250 mil na tarifa de água e esgoto da arena.

Operação Panatenaico
Apesar de milionária, a conta de água não é o único problema do estádio. Segundo as investigações da Polícia Federal e do Ministério Público (MPF), o pagamento de propina envolvendo o Mané Garrincha chegou a mais de R$ 15 milhões, com superfaturamento de R$ 900 milhões.

Por conta dessas irregularidades, a Operação Panatenaico, deflagrada em 23 de maio, colocou atrás das grades os ex-governadores José Roberto Arruda (PR), Agnelo Queiroz (PT) e o ex-vice-governador Tadeu Filippelli (PMDB), além de sete outras pessoas.

A arena, com capacidade para 70 mil espectadores, foi a mais cara construída para a Copa do Mundo de 2014: R$ 1,5 bilhão. O Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF) apontou que esse valor pode chegar a R$ 2 bilhões, em razão dos últimos aditivos que ainda não foram pagos.

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