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Com plenário lotado, Adriana Villela fala com jurados e chora

Juiz direciona as perguntas para saber sobre o relacionamento da acusada de ser mandante do crime da 113 Sul com os pais

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Rafaela Felicciano/Metrópoles
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1 de 1 Julgamento-Villela-1-de-outubro-6 - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

O julgamento de Adriana Villela, denunciada pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) como sendo a mandante do triplo homicídio da 113 Sul, atingiu um dos momentos mais tensos nesta terça-feira (01/10/2019). A acusada chegou de branco ao Tribunal do Júri de Brasília, ao lado dos três advogados, com a filha, Carolina, e o irmão, Augusto. O tempo todo, antes de sentar na cadeira destinada aos réus, abraçou muito os parentes.

O plenário está com os 224 lugares lotados – e pessoas com senha para tentar entrar. No banco dos réus, Adriana responde sempre de olho nos jurados. E o juiz Paulo Rogério Santos Giordano se fixa no relacionamento entre ela e os pais, José Guilherme e Maria Villela. Perguntou, por exemplo, como eles viam as decisões profissionais de Adriana.

Em uma das respostas, a acusada começou a chorar, dizendo que os pais realmente não a apoiavam na carreira escolhida. “É isso que eu tenho para oferecer para o mundo.” E disse a José Guilherme e Maria Villela: “Vocês já ganham muito mais que eu e meu irmão precisamos. Tenho alma de artista e quero ser artista”.

O juiz queria saber se José Guilherme e Maria aceitavam ou queriam que a filha assumisse uma profissão mais rentável. “Eu vi meus pais saírem do zero. Cresci com eles e os vi fazerem concurso e conquistarem tudo o que conquistaram. Eles queriam que eu tivesse um cargo público que me desse estabilidade e fosse artista apenas como hobby. Mas eu dizia que queria ser artista e não outra coisa.”

Olho nos jurados

Durante toda a explicação, Adriana não tirou os olhos dos jurados. “Nós tínhamos um relacionamento amoroso, mas também havia conflitos. Minha mãe não gostava do jeito que eu me vestia. Nem de que discordassem do que ela dizia. Ela era frágil e insegura e se tornou forte pelas perdas que teve.”

Segundo Adriana, era comum, quando jantavam juntos, Maria Villela olhá-la de cima a baixo, com olhar crítico sobre o modo como se vestia. “Isso era motivo de discórdia. Eu só queria ser amada e respeitada pelo jeito que eu sou.”

E apontou que o texto havia sido obtido de forma ilegal. “Essa carta foi apreendida ilegalmente dentro do escritório de advocacia. Fui eu mesma que assinei para que ela pudesse ser apresentada aqui, pela acusação.”

Novamente, com olhar fixo nos jurados, Adriana se dirigiu a eles: “Espero que vocês me ajudem a mostrar o que acontece nos porões da polícia”. O juiz perguntou se ela teve alguma briga mais séria com os pais, e Adriana disse que, na casa, eles respeitavam as opiniões uns dos outros da maneira deles.

Giordano insistiu se o fato do dom artístico não dar a ela o mesmo padrão de vida que tinha com os pais a incomodava. Adriana explicou que se formou em arquitetura aos 23 anos e tinha uma sala no mesmo prédio em que os pais. Simultaneamente, fazia trabalho paralelo de gravura e uma feira no Lago Norte.

“Fiz muitas reformas. Prestei um concurso e tive a certeza que eu não queria aquilo. Minha mãe pediu um emprego público para mim. Fui trabalhar no governo, mas não pagava nem o supermercado. Mas nunca parei de trabalhar, Meritíssimo. Sempre me ocupei”, esclareceu Adriana.

A carta

Logo nas primeiras palavras, Adriana citou a carta usada por Mabel de Faria, então delegada de uma divisão da Coordenação de Crimes Contra a Vida (Corvida). “Toda a acusação que a doutora Mabel fazia naquela época era por causa de uma carta que ela achou da minha mãe para mim, em que a minha mãe era dura comigo. Ela foi a base usada pela delegada Mabel para construir toda uma acusação falsa.”

Nesse momento o juiz Paulo Rogério Santos Giordano pediu que ela falasse mais sobre essa carta escrita pela mãe, Maria Villela. “Em 2006 [o ano da carta], eu passava por um momento ruim. Era o ano em que eu revisava a tese do mestrado, minha mãe e meu irmão me ajudavam. Eu estava com suspeita de câncer na tireoide e, em algum momento, devo ter me desentendido com minha mãe.”

Relacionamento

Antes, neste nono dia do julgamento que já é o mais longo com um só réu na história da Justiça brasiliense, as primeiras palavras de Adriana foram sobre o relacionamento que mantinha com os pais e como eles a viam. “O meu pai e a minha mãe sempre foram pessoas com as quais eu sempre pude contar e, ainda hoje, aqui, eu conto com eles. Até pelos meus advogados”, afirmou Adriana Villela.

“Certa vez, eu disse a eles que meu desejo e minha maior ambição era que meu trabalho criativo ajudasse muitos a melhorar de vida. E eu fiz isso um pouco. Até que, de repente, a vida me deu um tropeção e meus pais foram assassinados.”

De acordo com Adriana, apesar de ser “uma filha bastante rebelde”, o pai, José Guilherme, admirava isso nela. “Sem dúvida, eu devo ter desrespeitado eles algumas vezes na minha vida. Mas, especialmente quando esse crime aconteceu, a minha família vivia um momento de muita felicidade. Eu havia acabado de terminar o meu mestrado e meu pai dizia que finalmente eu estava no meu lugar.”

Lado financeiro

Adriana também detalhou a relação financeira existente entre os familiares. “Eles sempre me apoiaram. Meus pais faziam uma poupança e nela eles não mexiam. Eles me ajudavam quando entravam outros recursos, mas nunca me inteirei disso. Porque, quanto eles ganhavam, não era assunto dos outros, somente deles. Foi muito vexaminoso para mim ter que responder quanto eu ganhava de mesada.”

Para ela, a acusação do crime de parricídio é muito mais grave do que o de homicídio. “Porque ele mancha a imagem dos meus pais e isso não aconteceu. Ninguém da minha família poderia fazer isso.”

A acusada falou sobre a pressão sofrida, na época do crime, por Mabel de Faria. A delegada era a então chefe de uma divisão da Coordenação de Crimes Contra a Vida (Corvida). “Imaginei que a doutora Mabel me levaria para a delegacia. Não foi isso que ela fez: me levou para a Colmeia, onde passei alguns dias, sem ter feito nada para isso”, contou Adriana.

“Mas não reclamo. Lá, eu fui muito melhor tratada do que na Corvida. Toda a acusação que a doutora Mabel fazia naquela época era por causa de uma carta que ela achou da minha mãe para mim, em que a minha mãe era dura comigo. Ela foi a base usada pela delegada Mabel para construir toda uma acusação falsa.”

Sem respostas à acusação

A defesa de Adriana Villela informou que ela não vai responder nem ao MPDFT nem aos assistentes de acusação. Foi um pedido de ordem assim que iniciou a sessão. Ela só falará com juiz, defesa e jurados. O procurador Maurício Miranda registrou protesto de que o contraditório fica prejudicado com a decisão.

Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, advogado da acusada, explicou. “Nós entendemos que a prova está pronta e ela vai responder a quem tem que responder. Pra as outras partes, ela não vai responder. Pode haver tumulto e isso é ruim para o processo. Isso é uma orientação técnica”, disse.

Kakay confirmou a importância desta terça-feira, uma vez que Adriana vai falar. “Ela foi massacrada durante todo esse tempo de uma forma cruel e injusta, sem nenhum fiapo de provas contra ela. Com versões desencontradas e polícias divididas além de prisão de delegada. Com uma farsa que foi o tom dessa investigação. É extremamente importante que a ré faça a autodefesa.”

Emocional

Sobre o emocional da ré para o interrogatório, Kakay disse que “Adriana está preparada para isso há 10 anos”. “Costumo dizer que ela morreu duas vezes: no dia que os pais foram mortos com a Francisca e a segunda quando a acusaram sem nenhum tipo de prova”, discursou o advogado.

“Ela tem uma espiritualidade e fé muito grandes e enfrentou tudo com muita dignidade. Tenho muita tranquilidade que hoje ela vai contar a história verdadeira com o coração.” De acordo com o rito do julgamento, o juiz pergunta primeiro, seguido dos promotores e advogados. Os sete jurados, se quiserem, podem fazer questionamentos por meio do magistrado, no final.

Dinheiro

Segundo a acusação, Adriana contratou Leonardo Campos Alves, porteiro do edifício onde moravam os pais, para matar os advogados e a empregada do casal, por R$ 60 mil. Ele, por sua vez, teria prometido dar R$ 10 mil a Francisco Mairlon Barros Aguiar para executar o crime. Sobrinho de Leonardo, Paulo Cardoso também foi acusado pelo esfaqueamento do trio. Os três foram condenados e estão presos.

O advogado de Adriana, Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, afirmou à imprensa que os depoimentos selecionados pela acusação são “quase um ato desesperado do Ministério Público”. “Entendo que é desleal, porque deveria ter explicado minuciosamente que são depoimentos posteriores à confissão”, afirmou.

Os advogados também reproduziram algumas mídias e documentos, como um depoimento no qual o irmão de Adriana, Augusto Villela, fala à PCDF. “A Adriana tinha conflitos normais com a mãe. A tônica dos conflitos não era dinheiro”, frisou. A arquiteta e jornalista é acusada de ser a mandante do triplo homicídio de José Guilherme, Maria Villela e da empregada do casal, Francisca Nascimento Silva. Eles foram mortos a facadas – 73 no total –, em 28 de agosto de 2009.

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