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Cancelamento de planos de saúde: lembre-se de que você é só custo

Milhares de brasileiros tiveram seus planos de saúde cancelados, apesar de pagarem mensalidades caríssimas. As causas vêm de todos os lados

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Agência Brasil/Arquivo
Imagem colorida de carteiras de planos de saúde -- Metrópoles
1 de 1 Imagem colorida de carteiras de planos de saúde -- Metrópoles - Foto: Agência Brasil/Arquivo

Ninguém se importa com a sua morte, a não ser a sua família (talvez não toda) e os seus amigos (talvez não todos). Para o governo, qualquer governo, e para as operadoras de planos de saúde, você é só custo.

Mesmo que se pague uma fortuna mensal por um plano de saúde, há sempre uma conta que pode colocar você no lado vermelho da planilha. É o que descobriram milhares de brasileiros que tiveram seus planos cancelados unilateralmente.

Não importa se o cliente está se tratando de câncer, passou dos 90 anos ou tem um dependente com autismo, a letra fria do contrato prevê que a operadora do plano de saúde pode limá-lo a qualquer tempo no caso de prejuízo. 

Para defender-se, as operadoras dizem que o cidadão com plano cancelado pode mudar para outra operadora, sem passar por período de carência. É piada: torna-se praticamente impossível para alguém nessa condição ser aceito pela  concorrência.

As operadoras estão livres para expulsar clientes de planos por adesão, só não podem romper contrato unilateralmente no caso de planos empresariais ou individuais — que, hoje, são praticamente impossíveis de ser feitos. Os planos de adesão são aqueles feitos por intermédio de sindicatos e associações. Mais de 6 milhões de brasileiros estão nessa condição de total insegurança dos planos de adesão.

Quando um plano mostra a porta de saída para um cliente, a única porta de entrada realmente garantida para ele é a do SUS. Ou seja, a porta do inferno, razão pela qual os planos de saúde privados se multiplicaram.

Os custos médicos dos planos de saúde realmente inviabilizam o negócio tal como os seus donos conceberam, com margem de lucro percentualmente pequena, mas bilionária na grana absoluta. A medicina ficou mais sofisticada, e a Justiça obrigou a que as operadoras incluíssem nos benefícios tratamentos caríssimos e ilimitados. Além disso, há um evidente exagero na quantidade de exames que os médicos pedem a quem tem plano de saúde. Não menos problemático, hospitais particulares se transformaram em hotéis de luxo para cobrar os tubos por internações. 

Da parte dos clientes, eles igualmente perderam o pé: corre-se para o pronto-socorro por qualquer febre, a fim de não se ter qualquer gasto com consulta médica.

O resultado é que as despesas explodiram para as operadoras e também para os clientes, que não só viram as mensalidades dispararem, como passaram a pagar taxas altas de coparticipação.

Temos, assim, encrencas de todos os lados: governos incapazes de manter um sistema de saúde pública decente para todo mundo e que se fiam na iniciativa privada para resolver boa parte do problema; empresas que, no vácuo governamental, venderam o que não podem fornecer para dezenas de milhões de pessoas; encarecimento natural, médicos, hospitais e clientes que vão dependurando a conta como se não houvesse buraco a cobrir. É uma mistura de incompetência, leniência, ganância, irresponsabilidade e desperdício.

A disfuncionalidade é ampla, geral e irrestrita. Mais do que nunca, é preciso lembrar: você é só custo. Ninguém se importa com a sua morte. Por isso mesmo, é preciso repensar — e mudar — tudo.

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