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Ter filhos é um momento propício para falar de saúde emocional

Para Cibele Vogel, coautora do livro Conectando Pais e Filhos, autoconhecimento é chave para construir uma convivência sadia com a família

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1 de 1 1206 - Foto: Unsplash/Johann Walter Bantz

Quando eu e Lourenço estávamos grávidos pela primeira vez, um amigo nos presenteou com o livro A Vida do Bebê. De capa azul, imponente e idealizado antes da invenção do Google, esse clássico traz descrições detalhadas a respeito do desenvolvimento das crianças nos primeiros meses de vida. Ensina a fazer papinhas, explica doenças e dá dicas de como dar remédios, entre outras recomendações de ordem prática.

É bem interessante, mas fala pouco sobre o desenvolvimento emocional do bebê e quase nada acerca de nossas próprias emoções como mães e pais. Seria essa uma preocupação mais “moderna”, recente?

“As pessoas sempre se preocuparam muito com os marcos do desenvolvimento físico das crianças, com as doenças. Mas percebemos, ao longo do tempo, que as questões emocionais causam grande impacto para os indivíduos e para dinâmica familiar”, diz a psicóloga Cibele Vogel, uma das coautoras do livro Conectando Pais e Filhos (Editora Conquista).

A obra reúne artigos de psicólogos, psicopedagogos e outros profissionais que trabalham com famílias acerca de temas sensíveis na relação entre pais e filhos, como a idealização, a demonstração de afeto e a educação na era digital. Na entrevista abaixo, Cibele fala sobre a importância do autoconhecimento e da saúde emocional para a educação de meninos e meninas. Confira!

Como surgiu a ideia do livro?
Os diversos profissionais da coautoria trabalham com atendimento a crianças e pais. Na nossa caminhada profissional, percebemos que é necessário abrir espaços de reflexão sobre as posturas adequadas e sobre a maneira com a qual a gente pode atender aos nossos filhos e a nós mesmos, de forma a proporcionar a eles uma educação emocional mais fortalecida e saudável. É um livro de fácil leitura, com capítulos curtos. Esperamos que, depois de conhecer o material, as famílias queiram se aprofundar nesses assuntos.

Arquivo pessoal

Por que a saúde emocional é tão importante na relação entre pais e filhos?
É somente dando foco às emoções que conseguimos desenvolver a autonomia, a vinculação afetiva, a noção de família como algo compartilhado e não como uma instituição que funciona “por decreto”. O investimento em saúde emocional é um dos grandes pilares para podermos enfrentar o cotidiano. Sempre que investimos na saúde emocional das crianças, estamos investindo na nossa também. Ter filhos é um momento muito propício para falar de saúde emocional.

Boa parte dos artigos fala sobre autoconhecimento. Seria essa a chave para uma maternidade/paternidade mais consciente?
Ouso afirmar que o autoconhecimento é a chave para todas as relações humanas. A partir do momento em que reconheço meu potencial, emoções e limitações, percebo que o outro também é feito disso tudo. Crio, então, um espaço de diálogo, reconhecimento e legitimação do sentimento do outro. Isso permite que as relações sejam mais verdadeiras e significativas. Qual é de fato o papel da mãe? E do pai? Existe receita? Abrimos reflexões para as pessoas perceberem que estar em família é uma construção, um investimento diário.

Muitas vezes, o exercício dessa maternidade mais consciente acaba se tornando fonte de (mais) culpa para as mulheres. Como você avalia isso?
A gente só se liberta da culpa por meio de um processo de conhecimento, com acesso a informações, e de autoconhecimento, com as nossas elaborações emocionais e psíquicas. Um passo muito importante nesse sentido é lidar com o real e o idealizado. Na maioria das vezes, chegamos para viver uma situação com um script pronto, que não se confirma. Isso acaba se tornando fonte de angústia: o que eu fiz, onde errei, por que não sinto que a minha vida se transformou nesse lugar fantástico de maternidade?

O que precisamos viver em família não é a sensação de fracasso, mas de construção e de encantamento por aquilo que se conquista diariamente. Nós, mulheres, ainda carregamos o peso social da culpa, por isso é tão importante remodelar a nossa maneira de pensar.

Atualmente, temos acesso a muitas informações sobre os riscos de uma educação baseada na violência e no autoritarismo, mas não é incomum ver pessoas agredindo ou defendendo agressões contra crianças. Como sensibilizar mais pessoas a respeito disso?
Há um número grande de equívocos associados à autoridade e ao autoritarismo. A ausência de uma vinculação significativa faz as pessoas acreditarem no “cumpra-se”, no qual não cabe nenhum tipo de questionamento. A maneira de desconstruir esse modelo é trazendo informação e compartilhando evidências. Tanto o autoritarismo quanto a permissividade são ruins. O limite é necessário, mas é um limite protetor, que permite ao outro conquistar autonomia.

A educação violenta é um resquício cultural de uma educação punitiva, baseada no castigo. A gente aprende consertando o erro, não pelo medo. Mas só consigo oferecer ao outro o que tenho para mim, e muitos pais não conseguem oferecer isso porque não tiveram acesso a uma educação não violenta. Por isso, é importante compartilhar saberes, para que possamos cada vez mais conectar pais e filhos.

Conectando Pais e Filhos
Editora Conquista. Para adquirir, entre em contato pelo Instagram @espontanear

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