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Redes sociais entraram de vez na agenda geopolítica, diz pesquisador

“Direita brasileira parece cada vez mais conectada com o manual da direita norte-americana”, diz Carlos Affonso Souza em entrevista à coluna

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Carlos Affonso Souza
1 de 1 Carlos Affonso Souza - Foto: Reprodução

Carlos Affonso Souza, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITS Rio), afirmou que as redes sociais não estão mais restritas ao campo tecnológico e passaram a ser estratégicas nas relações internacionais. Em entrevista à coluna, Souza citou o embate entre o dono do Twitter, Elon Musk, e o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, como exemplo de que o embate digital é cada vez mais político.

“Tanto a discussão sobre o banimento do TikTok nos EUA como a controvérsia de Musk com Moraes mostram como as redes sociais ingressaram de vez na agenda geopolítica”, afirmou o pesquisador, acrescentando: “Como a direita brasileira parece cada vez mais conectada com o manual da direita norte-americana, pode-se esperar que o debate também cresça aqui”.

Na última semana, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, sancionou uma lei que pode banir o aplicativo TikTok do país caso a empresa não rompa laços com sua controladora chinesa. A decisão já virou um assunto na disputa eleitoral por lá. O ex-presidente Donald Trump, que enfrentará Biden novamente em breve, criticou a lei, em uma mudança de entendimento. Em 2020, era ele que queria o aplicativo fora dos EUA.

Leia os principais trechos da entrevista:

Qual a influência os donos das plataformas digitais podem ter em disputas eleitorais? É correta a decisão do Google no Brasil de proibir o impulsionamento de anúncios políticos nesses períodos?

A decisão do Google é uma medida de cautela, mas se por um lado a empresa proíbe anúncios políticos, isso não quer dizer que discussões políticas não irão mirar as suas plataformas. Ainda que não opere mais uma rede social, resultados de busca podem se tornar centrais em discussões políticas, com alegações de favorecimento a candidatos ou visões mais alinhadas com esse ou aquele posicionamento político. Esse tema é recorrente nos Estados Unidos, onde republicanos [partido de Donald Trump] batem na tecla de que funcionários da empresa seriam tendenciosos a favor do partido Democrata [de Joe Biden]. Esse tema é repetido em toda eleição, em toda audiência pública por lá, e como a direita brasileira parece cada vez mais conectada com o manual da direita norte-americana, pode-se esperar que o debate também cresça aqui.

O que um possível banimento do TikTok nos EUA pode influenciar na corrida presidencial?

A aprovação da lei que pode banir o TikTok já é um assunto que movimenta a corrida presidencial, já que o ex-presidente Trump, que procurou forçar a venda do TikTok em 2020, agora se mostra contrário à medida, até para se opor ao presidente Biden. A discussão sobre um possível banimento do TikTok entra nas estratégias de comunicação das campanhas, influenciando na forma como os eleitores percebem a corrida tecnológica com a China, além do impacto que o bloqueio do app poderia ter em seus milhões de usuários.

Esse processo pode ter reflexo em outras empresas do setor?

Caso o TikTok seja banido ou deixe de funcionar nos EUA, o espaço será ocupado. Resta saber se um novo competidor teria velocidade para se tornar uma solução americana, como foi o MySpace em tempos mais remotos da rede, ou se empresas já consolidadas correrão para ocupar o campo.

Há como traçar algum paralelo desse processo com a disputa do Elon Musk com Alexandre de Moraes?

Tanto a discussão sobre o banimento do TikTok como a controvérsia de Elon Musk com Moraes mostram como as redes sociais ingressaram de vez na agenda geopolítica. Seja por sua capacidade de levar conteúdo para milhões de pessoas (o que acende o alerta sobre manipulação e interferência externa, em especial em períodos eleitorais), seja pela atuação de seus donos, que podem estar inclinados para um determinado campo político e usar o poder da rede para mobilizar oposição ou apoio a governos nacionais, a depender de quem estiver no poder. Saber quem controla grandes empresas de tecnologia, em particular redes sociais, é um tema que saiu do noticiário tecnológico e econômico e hoje é definitivamente uma questão estratégica e política.

Qual caminho o TSE deve seguir no processo de regulação do uso da Inteligência Artificial (IA)?

O TSE andou bem na sua resolução ao tratar do tema da IA. Se por um lado me parece que o TSE avança em um terreno arriscado ao responsabilizar as plataformas pela exibição de conteúdo antidemocrático (sem que isso passe por qualquer decisão prévia da Justiça sobre ilicitude do conteúdo), em termos de IA a resolução traz soluções adequadas. A exigência de etiquetagem de conteúdos sintéticos é uma necessidade, mas que será importante acompanhar como isso será cumprido. De modo particular, me parece que a proibição do uso de avatares por parte das campanhas é uma medida salutar. Não contamos com uma educação digital que permita ao eleitor, nesse estado da discussão, discernir o que é a fala oficial do candidato e o que é uma alucinação da IA que poderá ser tomada como discurso oficial.

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