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Boulos ataca Alckmin na vice de Lula: “Não adianta mudar a roupa”

Em entrevista, pré-candidato do PSol ao governo paulista reafirma críticas a Geraldo Alckmin como vice na chapa de Lula ao Planalto

atualizado

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1 de 1 Guilherme_Boulos2 - Foto: Fábio Vieira/Metrópoles

O pré-candidato do PSol ao governo de São Paulo, Guilherme Boulos, não recuou em sua crítica a Lula possivelmente ter Geraldo Alckmin como vice. Boulos é contra a aliança e nem declarações do ex-presidente o demoveram das críticas ao ex-tucano. Em entrevista à coluna, Boulos afirmou que nem uma filiação ao PSB, da centro-esquerda, seria capaz de fazer Alckmin subir em seu conceito.

“Se eu me filiar ao DEM ou ao PSL amanhã, ninguém vai achar que eu sou de direita (risos). Tenho uma história. O Alckmin tem a dele. Não adianta mudar a roupa”, disse Boulos, que comparou Alckmin a Michel Temer, acusado por petistas de ter conspirado pelo impeachment de Dilma Rousseff.

Na eleição estadual, Boulos disputará votos com o petista Fernando Haddad. Nenhum dos dois está disposto a abrir mão da candidatura em prol de uma unidade da esquerda. Boulos pregou união, mas avisou: “O PSol também tem de ter o seu lugar respeitado”.

Leia os principais trechos da entrevista.

O senhor segue contra Geraldo Alckmin ser vice de Lula?

Eu defendo a candidatura do Lula. É quem tem melhores condições de derrotar o Bolsonaro. A tendência no PSol é apoiar o Lula. Isso foi indicado no congresso do partido e haverá uma conferência eleitoral nos próximos meses. Mas o desafio que temos neste ano não é só derrotar o Bolsonaro. É derrotar a política do governo Bolsonaro. E o Alckmin é uma expressão dessa política, com uma agenda econômica neoliberal, uma política feita sem participação popular e que retira direitos. A reação dele quando o Lula falou corretamente em revogar a reforma trabalhista mostra isso. Para reconstruir o Brasil, é preciso ter um programa, que passa, sim, pela revogação dos retrocessos que tivemos nos últimos anos, do teto de gastos, da reforma trabalhista. Isso vai exigir ousadia. Essas não são agendas do Alckmin ou da direita brasileira. Não concordo com a perspectiva de o Alckmin ocupar a vice na chapa do Lula.

A perspectiva melhoraria se Alckmin se filiasse ao PSB?

Não é uma questão de filiação partidária. Se eu me filiar ao DEM ou ao PSL amanhã, ninguém vai achar que eu sou de direita (risos). Tenho uma história. O Alckmin tem a dele. Não adianta mudar a roupa.

O Alckmin estará marcado para sempre por essas críticas à gestão dele no estado? Não tem chance de mudar?

Eu nunca vi o Alckmin fazer qualquer tipo de reconhecimento crítico em relação às políticas que ele fez. Nunca vi o Alckmin fazer isso por ter desvalorizado a educação, tentado fechar escolas em São Paulo. É a política dele. Ele governou São Paulo por três oportunidades. Não se trata só de remoer passados. Tem uma questão política. Não consigo enxergar como o Alckmin agrega em termos de voto. Você acha mesmo que um conservador de São Paulo vai votar no Lula por causa do Alckmin vice? Não vai. E tem o risco político de uma repetição do Temer. Se o governo Lula levar a cabo as agendas esperadas, de combate às desigualdades e programas sociais, vai encontrar resistências. O Brasil de hoje está mais conflagrado. Um setor do mercado, do Centrão, tentando derrubar o governo, e o vice representar essas ideias é muito perigoso.

Se Alckmin for vice de Lula, o senhor defende que o PSol não apoie Lula, ou apoie deixando claro que é contra a aliança?

O Psol tem deixado claro que é contra essa aliança. O apoio ao Lula vai ser definido pelo partido. Eu defendo que o centro do debate do PSol com o PT e o Lula para construir uma aliança seja em torno do programa de governo, com temas essenciais para derrotar o bolsonarismo e a agenda neoliberal.

Na quarta-feira (19/1), Lula disse que esperava ter o Alckmin “junto, sendo vice ou não”, e que não teria “nenhum problema” em compor uma chapa com o ex-governador. A que o senhor atribui essa postura pública do Lula?

É preciso perguntar para ele. Temos uma relação de amizade, de companheirismo e de respeito. Estive com o Lula nos momentos mais difíceis, inclusive quando foi preso. Lula se colocou como parceiro do MTST e de movimentos sociais. Reconheço tudo o que ele representa na história do país. Mas, neste ponto, temos posições diferentes.

Em que pé está sua candidatura ao governo de São Paulo?

Meu foco, que também é o grande foco da esquerda neste ano, é ajudar a derrotar o Bolsonaro. E aqui em São Paulo nós temos de encerrar 30 anos de desastre tucano. O estado parou no tempo, ampliou as desigualdades, se desindustrializou e a gestão pública foi decaindo no Tucanistão. A unidade é muito importante para isso. Vou buscar até o último minuto manter o diálogo com vários partidos do nosso campo. O PSol definiu a nossa candidatura, o PT definiu a do Haddad, e eu espero que a gente possa avançar em algum entendimento. Se for possível, no primeiro turno. Senão, no segundo turno.

O senhor ou Haddad poderiam abrir mão da candidatura em prol da unidade?

Hoje isso não está colocado. O PSol definiu nossa candidatura em um congresso, o PT definiu a do Haddad. Não temos nem nunca tivemos intransigência. Agora, o PSol também tem de ter o seu lugar respeitado. Pela primeira vez em muito tempo, existe a perspectiva de o campo progressista, a esquerda, vencer em São Paulo. E é nisso que aposto. Se a gente consegue a unidade no campo progressista, facilita muito.

Quais são suas principais propostas para despachar no Palácio dos Bandeirantes?

A primeira prioridade é retomar o desenvolvimento econômico do estado no pós-pandemia. São Paulo tem uma rede de universidades públicas, o Butantã, institutos de excelência que poderiam ser focados para um processo de industrialização sustentável e com alta tecnologia. O segundo foco é combater as desigualdades sociais. São Paulo é o estado mais rico do Brasil, tem 30% do PIB nacional, mas tem desigualdades vergonhosas. Faremos investimentos públicos para combatê-las. O terceiro foco é recuperar o serviço público. Os tucanos fizeram um processo de terra arrasada de privatização. O João Doria chegou ao ponto de extinguir a Emplasa, a empresa de Planejamento do estado, que agora contrata consultorias terceirizadas. O servidor é desvalorizado. Eu fui professor na rede pública e sei disso.

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