Educação, cultura e esporte: o oxigênio que pode tirar o Brasil da UTI
Por que não estamos discutindo essa conjunção para o próximo mandato a presidente? O temor é de que esses temas passem batidos nos debates
atualizado
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As eleições de 2018 surgem como um assombro diante da sociedade brasileira. Forças da ultradireita crescem e ameaçam o sentido de progresso social que o país conquistou nas últimas décadas. Querem barrar as conquistas de populações historicamente massacradas, como índios, quilombolas, negros, mulheres e LGBTQI+. Querem pôr armas nas mãos do dito “cidadão de bem” para que ele se defenda das barbáries cotidianas, aquelas que o Estado tem sido incapaz de enfrentar com políticas públicas audaciosas.
Nas rodas de conversas, o assunto é pautado pelo extremo. Esquerda versus direita; direitos humanos versus tempos de exceção; religião versus Estado laico. Seguimos esse debate estéril, como um povo infantilizado, enquanto mulheres são diariamente mortas pelos homens que um dia juraram amá-las, travestis são espancados até a morte em vias públicas e jovens negros e negras massacrados nas periferias.O Brasil grita por socorro e ninguém quer meter a colher
Temo que debates urgentes e preciosos, como o da cultura, da educação e do esporte, sejam lançados para escanteio. Dentro dessa guerra ideológica que se desenha, ninguém talvez queira falar de esperança, de afetos e de alternativas para toda essa onda de ódio.
O poder da tríade educação-cultura-esporte é a alavanca para uma nação que respeita seu cidadão independentemente de cor da pele, gênero, posição social e condição intelectual
São três pilares capazes de alterar a sensibilidade do humano diante da vida. Educação não vem só de berço. É preciso experimentá-la, nas escolas, como um potente âmbito de conhecimento. Uma escola atrelada à cultura e ao esporte é capaz de projetar vidas para fora dessa ignorância que presenciamos no dia a dia, sobretudo nas redes sociais, quando alguns humanos abrem os porões da alma para soltar as suas feras devoradoras.
É difícil acreditar que um jovem mergulhado num ambiente de conhecimento, cultura e esporte seja capaz de desenvolver um olhar preconceituoso sobre o outro. Esse universo lúdico e poderoso é capaz de dissipar as dores sociais. Quem experimenta essa vivência sabe que o racismo, a homofobia, a transfobia, a lesbofobia, a intolerância religiosa, a gordofobia, o feminicídio, o machismo, o sexismo e a misoginia não são termos do cruel dicionário de Mimimi, como querem pensar alguns defensores desse Brasil da barbárie.
Juntos, educação, cultura e esporte ensinam a se colocar no lugar do outro, a entender que o mundo não gira em torno do umbigo. Ensinam também que não precisamos pensar da mesma maneira e acreditar no mesmo deus para sermos cordiais uns com os outros.
Nenhum sentimento de desprezo resiste a uma experiência de educação, cultura e esporte feita com ética e humanismo. Ninguém que compreende o sentido filosófico de competir numa atividade esportiva é capaz de desprezar o adversário. Ninguém que é sensibilizado pelo teatro, pela música, pela dança, pela literatura, pelas artes visuais e pelo cinema de arte exclui a diversidade humana.
Quem aprende se eleva. Não existe a hipótese do conhecimento, como chama de verdade, fazer um aprendiz se virar contra o outro da própria espécie. O respeito à vida está na educação, no esporte e na arte. Não só a vida humana como a do animal. Quando um adulto ensina uma criança a maltratar um bicho, ela aprenderá que o valor da vida está somente entre os seus.
As escolas brasileiras precisam se conjugar com essa experiência integral de cultura e de esporte como alavancas de conhecimento. Tenho olhado com atenção os discursos dos candidatos e candidatas à Presidência da República e esse tema passa adormecido.
Ao contrário, surgem como forma de negação. Querem uma escola apática, incapaz de acolher crianças em suas individualidades. Querem uma escola tecnicista, sem a discussão humana como tema central. Querem uma escola sem arte, fechada para as atividades culturais. Querem uma escola intolerante e de uma religião só. Querem uma escola sem a festa do grito de gol. Querem uma escola de professores acuados e amordaçados. Querem a censura.
Talvez, pior, queiram o horror, a idade das trevas