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Brasília: a nossa aldeia para educar crianças

Debaixo do bloco, meninos e meninas vivem a infância. E eu aprendi a me conectar com meus vizinhos

atualizado

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Felipe Menezes/Metrópoles
pilotis Brincalhaço no bloco H da 312 sulL
1 de 1 pilotis Brincalhaço no bloco H da 312 sulL - Foto: Felipe Menezes/Metrópoles

“É preciso toda uma aldeia para educar uma criança”, diz o famoso provérbio africano – e é fácil lembrar de familiares e amigos mais próximos quando se pensa nisso. Mas a noção de aldeia, de comunidade, é muito maior, especialmente para quem, como eu, se esforça para ver os filhos brincando ao ar livre, fora do apartamento. Vale a pena, não só por eles, mas pela gente – mães e pais – também.

Ser mãe me permitiu ter um contato com a comunidade de uma forma que eu nunca havia imaginado. Hoje, eu sei quem mora ao lado da minha casa, sei quem tem filhos, as idades dos filhos, sei quem tem animais de estimação e sei quem não gosta de crianças. Conheço o senhor que alimenta os gatos da rua e a senhora que rega as mudas da quadra, mesmo quando é época de chuva.

 

Giovanna Bembom/Metrópoles

Também fiz amigas, conheci as areias dos parquinhos e me preocupei com a manutenção dos brinquedos. Tudo isso talvez não fosse tão intenso em uma cidade que não Brasília. Foi na quadra, nos pilotis, sob as árvores, que eu tive a chance de me conectar com meus vizinhos.

Debaixo do bloco, eu sou a “tia”, a “mãe do Miguel”. É o lugar onde os estranhos comentam como Miguel gosta de jogar bola ou como Solano cresceu ou como, ainda ontem, eu andava por aí com um barrigão. E pronto, não somos mais estranhos.

Na quadra, as crianças fazem corrida de carrinho, de bicicleta, de patinete e de patins; “caçam” as mangas, as pitangas e as amoras; pulam nas poças; voltam imundas para casa. Eu, que fui criada em uma cidade gaúcha de clima úmido e gelado, tão diferente daqui, aprendi o poderoso significado da expressão “pode descer?”.

Por tudo isso que a proibição da presença de crianças debaixo do prédio em uma quadra da Asa Sul soou tão absurda, uma tentativa de arrancar da cidade uma das suas principais características. Ainda bem que a reação foi rápida, leve e bem-humorada.

Que meus filhos e os filhos de todos os brasilienses possam usufruir, cada vez mais, dos espaços públicos. Que os sorrisos e as brincadeiras – e os choros, por que não? – sigam trazendo cor à nossa comunidade, deixando-a sempre viva.

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