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Por que uma menina chorando por sentir-se gorda não deve ser engraçado

Pressão para se adequar à imagem de beleza vendida pela indústria da moda pode levar jovens a desenvolver distúrbios como a anorexia nervosa

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1 de 1 327 - Foto: Istock

Nesta semana, enviaram-me diversas vezes o vídeo de uma menininha de não mais de 6 anos chorando copiosamente porque “o bucho dela estava enorme”. A garotinha erguia a camiseta em profunda agonia, reclamava da barriga e pedia para a mãe não rir, pois o problema era real. Tratava-se de uma garotinha perfeitamente saudável – até mais magrinha, para ser honesta.

Mas os comentários feitos pela maioria das pessoas eram no mesmo tom de zombaria da mãe: uma fofura essa criança se portando como uma “adulta”, chorando porque está “fora de forma”. Que gracinha ela, “toda vaidosa”. Não consegui rir e espero poder te convencer aqui da falta de graça de um vídeo desse tipo – ele é, na verdade, um alerta sobre como nós, enquanto sociedade, estamos submetendo mulheres a padrões de beleza esmagadores e inalcançáveis e expondo meninas a eles cedo demais.

Parece chover no molhado, mas o grande vilão dessa história não são apenas os produtores de desfiles que exigem modelos cada dia mais anoréxicas, mas o uso indiscriminado de Photoshop para manipular os corpos de forma irrealista.

Coloca-se na capa de uma publicação uma barriga criada em computador – sem equivalente na vida real, nem mesmo entre quem gasta horas diárias em exercícios – e resultados similares são prometidos se você comprar a revista e ler aquele supersegredo. Ou vende-se a ideia de que, para se estar na moda, com os looks moderníssimos, você precisa ser magra feito um cabide de roupas – e até os corpos mais esguios são artificialmente afinados para “vestir melhor a peça”.

Quando trabalhei em revistas femininas, inclusive, já ouvi de uma editora mais velha que a função de uma modelo não era ser bonita, e sim “servir de cabide”. O mundo das instagrammers fitness não é menos cruel – e os editores de imagem ficaram cada vez mais simples e portáteis. Um “corpo perfeito” com um clique de aplicativo. Tem adolescentes usando esses apps de forma cotidiana, jamais acreditando serem belas o bastante para fazerem uma postagem com seus rostos e formas originais.

O choro daquela garotinha nos mostra que ela pode estar no caminho para a anorexia nervosa, um distúrbio alimentar caracterizado pela preocupação exagerada com o peso. A pessoa se olha no espelho e, embora extremamente magra, enxerga-se obesa.

Não por acaso, existem nove mulheres com anorexia para cada homem com o distúrbio. Às mulheres é dito que “ser magra é essencial”, “é necessário se cuidar” – magreza excessiva é, então, sinônimo de beleza. A taxa de morte da doença não é nada divertida: 15% a 20%. Então, vamos parar de rir, por favor?

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