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Covid: elevar cobertura vacinal exige busca ativa, dizem especialistas

Estudiosos são unânimes ao ressaltar a importância de campanhas que chamem a população para se vacinar. Aglomerações de fim de ano preocupam

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Rodrigo Estrela/Ascom Aparecida de Goiânia
Aparecida de Goiânia inicia vacinação de dose de reforço em idosos
1 de 1 Aparecida de Goiânia inicia vacinação de dose de reforço em idosos - Foto: Rodrigo Estrela/Ascom Aparecida de Goiânia

Com 73,9% da população acima de 12 anos totalmente vacinada, o Brasil vivencia cenário um pouco mais confortável da pandemia de Covid-19. Em abril, o país chegou ao triste recorde de 4.249 óbitos registrados em 24 horas.

Agora, o índice de casos e óbitos é o menor desde abril de 2020, com média móvel de mortes abaixo de 250. Para não repetir o caminho europeu – recrudescimento da pandemia, principalmente entre os não vacinados –, é necessário cautela. 

Saiba mais sobre a variante Ômicron do coronavírus:

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Especialistas ouvidos pelo Metrópoles analisam o que é preciso para aumentar o percentual da população totalmente imunizada contra a Covid-19. Ter alta cobertura vacinal no país é a alternativa mais eficiente para barrar novas variantes – como a Ômicron, identificada na África do Sul, mas que se espalha velozmente pelo mundo

O Brasil tem, atualmente, sete casos confirmados da variante. Dois homens e uma mulher em São Paulo, dois homens no Distrito Federal e duas pessoas no Rio Grande do Sul (o sexo delas não foi divulgado). Todos foram vacinados e apresentam apenas sintomas leves ou estão assintomáticos.

Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações, aponta três pilares essenciais para a proteção efetiva: cobertura vacinal elevada, completa e homogênea. “Vacinar um número maior de habitantes, consequentemente incluir adolescentes e, assim que possível, crianças também”, receita.

“Duas doses para o maior número dessa população-alvo de vacinação, base de vacinados grande com alta e homogênea cobertura. Homogeneidade quer dizer sem bolsões de baixas coberturas e oferecendo doses de reforço à medida que a proteção vai se perdendo”, explica Kfouri.

Campanha com eficiência

Para Carla Domingues, epidemiologista e ex-coordenadora do Programa Nacional de Imunizações (PNI), é necessário acelerar a vacinação antes das aglomerações de fim de ano. “Precisamos garantir que até 15 de dezembro tenhamos pelo menos 80% da população com a segunda dose e que os idosos, profissionais de saúde e pessoas imunossuprimidas tenham recebido a dose de reforço.”

A epidemiologista considera que o percentual de pessoas que ainda precisam ser imunizadas é relativamente pequeno, mas não é hora de baixar a guarda: “Com a diminuição drástica de casos, a população tende a achar que não precisa mais ser vacinada”.

“O tema tem de ser abordado o tempo todo, a fim de que a população entenda o risco que teremos de uma nova onda se todos não estiverem devidamente vacinados. Não vimos o ministério definir uma meta de vacinação, que deveria ser de 90%, como fazemos todos os anos para a vacina da gripe. Desta forma, cada estado e município precisará desenvolver estratégias locais para atingir essa meta”, analisa.

De acordo com o consórcio de veículos de imprensa, 73,9% da população com 12 anos ou mais no país estava totalmente imunizada até quinta-feira (2/12). Ou seja, já recebeu duas doses ou a vacina de dose única. O número corresponde a 135.164.013 dos quase 182 milhões de brasileiros, nessa faixa etária, com o ciclo vacinal completo.

Renato Kfouri concorda com Carla Domingues e reforça que, com baixa percepção de risco, a adesão diminui entre primeira e segunda dose, além da dose de reforço. “Esse talvez seja o grande desafio que a gente vai enfrentar daqui pra frente: continuar convencendo as pessoas a manterem a vacinação em dia, mesmo a doença estando num momento mais tranquilo.”

Busca ativa

Kfouri aponta que, hoje, há condições de se fazer uma busca ativa da população que não se vacinou ou está com doses atrasadas: “Esta é a primeira campanha que a gente faz com registro nominal dos vacinados. Todas as campanhas até então eram com número de doses aplicadas. Nessa, a gente sabe quem é, o seu CPF, seu endereço, seu WhatsApp, seu e-mail… Enfim, dá pra entrar em contato”.

Para Marcelo Gomes, coordenador do InfoGripe e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o hábito arraigado do brasileiro de se vacinar não deve tirar a preocupação do momento: “É importante ter essa mobilização por parte das instituições, das secretarias municipais de Saúde, das secretarias estaduais de Saúde e do próprio Ministério da Saúde“.

Comprovante de vacinação

“A gente sabe que as vacinas que estão sendo oferecidas pra nossa população são seguras”, explica Gomes. “Então, exigir, para convívio em comunidade, em determinadas situações, que seja obrigado estar vacinado não é nenhum absurdo, muito pelo contrário, é uma ação de proteção à comunidade.”

A conversa sobre obrigatoriedade da vacinação é espinhosa, mas estados e municípios têm optado por exigir a comprovação na entrada de eventos. No Distrito Federal, por exemplo, o comprovante será necessário para quem frequentar shows e competições esportivas profissionais e amadoras.

“Sempre que algum país anuncia restrições a não vacinados, o que acontece? Uma corrida em busca da vacina”, lembra Gomes. Carla Domingues concorda e explica que o comprovante poderia ser utilizado como uma ação complementar: “Exigir que para frequentar locais de aglomeração, ambientes de trabalho, escola e lazer todos devam estar com o esquema completo”.

Monitoramento da situação epidemiológica

A ex-coordenadora do Programa Nacional de Imunizações explica como o monitoramento da situação epidemiológica pode ser feito de maneira eficiente, a fim de evitar surpresas. “Temos que fazer o monitoramento indireto da circulação viral, por meio da taxa de positividade de testes para Covid-19 e taxa de transmissão viral”, exemplifica Carla.

“Podemos definir como parâmetro de alerta o aumento sustentado em duas ou três semanas consecutivas desses indicadores”, continua. Dessa maneira, é possível acompanhar mudanças na velocidade de transmissão com mais rapidez.

Devido ao número elevado de vacinados, Marcelo Gomes alerta sobre o perigo de só se testarem hospitalizados: “A gente tem tendência a uma proporção maior de casos leves e até mesmo assintomáticos. Se a gente não tem uma testagem ampla, só testa preferencialmente hospitalizados, começamos a perder a mão em relação a qual é o real cenário epidemiológico que estamos vivendo”.

“O Brasil testa pouco e testa mal”, aponta Carla Domingues. “O sequenciamento genômico, para identificação das variantes que circulam no país, deveria ser em torno de 5% das amostras que foram testadas positivamente. O país faz em torno de 1,5% de testes para a realização da genotipagem, o que dificulta o monitoramento.”

Kfouri ressalta que a testagem não deve ser feita sozinha, e sim como parte de uma política pública com rastreamento: “Vem acompanhada de isolamento e quarentena”.

Fim de ano

Período marcado pelas reuniões sociais, o fim de ano preocupa pelo risco de avanço na transmissão. “É natural a gente ter uma exposição muito maior”, lembra Gomes. “Isso pode levar a um aumento no número de casos, especialmente se a gente não privilegia o uso de máscara, vacinação, locais abertos e ventilados.”

A cautela e a manutenção das medidas de proteção também são ressaltadas por Carla Domingues. “Os países que, ao chegarem no patamar de 60% da população vacinada, abriram mão dessas medidas, agora estão vivenciando a quarta onda”, relembra.

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