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Exclusivo: “Não sou plano B. Sou um soldado do presidente Bolsonaro”, diz Mourão

O vice-presidente deu uma entrevista exclusiva ao Metrópoles durante a Brazil Conference em Boston, nos Estados Unidos

atualizado

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Romério Cunha/VPR
Mourão
1 de 1 Mourão - Foto: Romério Cunha/VPR

Boston (EUA) – O vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) está nos Estados Unidos para uma extensa agenda. A programação inclui a palestra de encerramento da Brazil Conference, fórum de debates sobre o Brasil na Universidade Harvard, viagem para Washington e encontros com a comunidade brasileira. Parece mais uma agenda presidencial, mas Mourão discorda. Afirma que seu papel é atuar como linha auxiliar e facilitar o trabalho do presidente Jair Bolsonaro (PSL).

Nesta entrevista exclusiva ao Metrópoles, Mourão diz não concordar com a visão manifestada por alguns analistas de que representaria um núcleo moderado dentro do governo. Rejeita ainda qualquer espécie de tutela sobre o presidente. O vice também comentou o fato de Bolsonaro, finalmente, ter chamado presidentes de partidos para conversar no Planalto. “É a arte da política”, afirmou. Destacou, porém, que o Planalto não vai cair no “vício” do chamado toma lá dá cá. Sobre a reforma da Previdência, seguiu a linha de Bolsonaro: “Nós não precisamos mais negociar. A discussão está na mão do Congresso”.

Mourão também falou sobre a situação no Ministério da Educação, mas não confirmou a demissão do ministro Ricardo Vélez Rodríguez. Disse que o professor Olavo de Carvalho contribuiria mais se apresentasse ideias de “forma educada”. E Mourão foi também categórico ao responder se seria um “plano B”, caso alguma coisa dê errada no governo: “Não vai dar nada errado. Eu sou um soldado do presidente Bolsonaro”.

O senhor está aqui na Brazil Conference e a sua presença foi muito destacada pelos organizadores. Poucas vezes a gente viu no Brasil um vice-presidente com uma agenda tão cheia de compromissos e compromissos relevantes. O que mudou na Vice-Presidência ou na figura do vice-presidente no Brasil?
Para auxiliar o presidente Bolsonaro, tenho procurado mostrar quem nós somos. Desde a nossa eleição se criou uma imagem distorcida fora do Brasil. Para mudar isso aí, temos de conversar, se apresentar e debater. As pessoas entenderam que nós não iremos contra os princípios da democracia, da liberdade e da justiça. A minha presença aqui é exatamente para isso: atuar junto a um público diferenciado e trazer a nossa mensagem. Com relação ao papel do vice-presidente, eu tenho me colocado como linha auxiliar do Bolsonaro. Busco facilitar os trabalhos que ele precisa fazer e as articulações necessárias. Tenho me comportado dessa forma.

O senhor diria, então, que o seu papel seria uma espécie de relações-públicas do presidente, apagando alguns incêndios em função das declarações polêmicas feitas por ele sobre determinados assuntos?
Eu não me coloco como bombeiro e apagador de incêndios das declarações do presidente. Bolsonaro tem a personalidade dele e uma experiência de 30 anos como político. É um líder e uma pessoa carismática. Eu me coloco sempre como linha auxiliar e alguém para criar facilidades para o trabalho dele.

O senhor tem falado com muitos empresários, políticos e diplomatas. O embaixador alemão, por exemplo, o vê como uma voz moderada dentro do governo. Analistas políticos também têm identificado o senhor dessa forma, assim como o núcleo militar dentro do Planalto. Existe esse “poder moderador”?
É uma interpretação distorcida da nossa presença dentro do governo. Óbvio que o presidente Bolsonaro, por ser oriundo das Forças Armadas, buscou para compor o ministério pessoas capacitadas, que ele conhecia, e alguns, obviamente, vieram dentro das forças. Esse é um aspecto. Agora, essa história de que “grupo militar veta fulano”… Grupo militar não veta ninguém, porque não existe esse grupo. Seria como se nós nos reuníssemos diariamente e buscássemos definir alguma coisa. Não é dessa forma que a gente procede.

Mas vocês conversam, são militares de carreira, generais.
Nem tanto. Cada um está focado dentro da sua área e procura assessorar o presidente dentro dela. Nós temos aqueles ministros que estão dentro do Palácio, como o general Heleno, o general Santos Cruz e o próprio Floriano Peixoto. Outros estão fora e nem comparecem lá diariamente. Eu, por exemplo, fico no anexo. Não existe esse trânsito e essa ligação diária entre nós. Essa questão de “poder moderador” está ligada à ideia de que o presidente seria uma pessoa radical. A coisa não funciona dessa forma. Nós não queremos jamais passar essa ideia de “bombeiros”. É uma complementaridade ao estilo do presidente.

Essa percepção existe, em parte, pelo fato de o presidente ser capitão e seus ministros e muitos de seus auxiliares, generais. O senhor está dizendo que o capitão não é tutelado pelos generais?
Em absoluto. Ele é o nosso comandante. O presidente da República, desde o momento em que foi eleito deputado federal, passou a nos preceder em hierarquia. Em nenhum momento algum de nós olha o presidente Bolsonaro como capitão. Nós o olhamos como presidente da República e comandante em chefe das Forças Armadas.

Na sexta-feira (5/4), houve um debate na Brazil Conference sobre a situação do país pós-eleições e foi inevitável avaliar os primeiros 100 dias do governo Bolsonaro. Participaram Geraldo Alckmin (PSDB), Ciro Gomes (PDT) e Henrique Meirelles (MDB). Ciro Gomes disse que vê muitas dificuldades para o Brasil à frente e acredita até na possibilidade de renúncia do presidente. O que o senhor acha dessa avaliação?
Ciro Gomes manifesta um wishful thinking [uma vontade]. O presidente Bolsonaro não é homem de recuar. Ao contrário: ele é homem de avançar. Essa história de renúncia é totalmente infundada. E nada mais é do que buscar colocar até uma certa confusão no quadro político que nós estamos vivendo. O Alckmin, o Ciro e o Meirelles apresentaram a visão e opinião deles sobre o que está ocorrendo. Mas eles perderam a eleição. Nós ganhamos.

O presidente Bolsonaro se reuniu nesta semana com presidentes de partidos para conversar sobre a reforma da Previdência, ele disse que nunca faria isso. A “velha política” ainda tem força?
Eu não chamo isso nem de velha, nem de nova política. Eu chamo isso de política. A política é a arte de negociar, a arte de buscar o consenso sobre os temas, e você só consegue fazer isso conversando com as lideranças. Se os presidentes lideram e são, realmente, quem tem o comando sobre os integrantes do seu partido, nada mais natural que o presidente Bolsonaro os buscasse. Não vejo aí nenhum demérito. Ao contrário: vejo grandeza do presidente ao assumir essa postura.

Ele demorou a fazer isso? Já deveria ter feito?
O presidente tinha outros problemas em um primeiro momento, sobretudo os de saúde. Desde o início de setembro do ano passado, está sob o risco de cirurgias complicadas. A partir do final de fevereiro, início de março, ele teve as viagens aos Estados Unidos, ao Chile, a Israel. Então, agora, realmente, é que sobrou um tempo, já recuperado fisicamente. Então, não vejo que ele tenha demorado. Era mais um retardo pela situação que ele vinha vivendo.

Mas ele tentou primeiro a articulação via frentes parlamentares. Isso foi um erro? Por que ele não buscou logo os partidos?
Ele fez isso ano passado, ainda na transição, quando reuniu as bancadas. Houve uma reunião com partidos no Centro Cultural Banco do Brasil. O que acontece? Se nós não queremos cair naquela situação onde, para obter o apoio de alguém, eu tenho que entregar ministérios, cargos, se nós não queremos cair nesse…

Toma lá dá cá?
Nesse vício, vamos colocar assim, nós precisamos tentar até achar a fórmula ideal para formar maiorias a cada momento que nós necessitarmos.

Isso não representou uma perda de tempo muito grande no encaminhamento da reforma da Previdência?
Não vejo dessa forma. Se o Congresso quiser dar velocidade à reforma, ele dá. Em menos de 24 horas, a Câmara votou e aprovou a emenda do orçamento impositivo. Ou seja, quando quer, faz.

A proposta de reforma da Previdência não é fácil de aprovar, tem muitos aspectos impopulares. Até onde o governo estaria disposto a ceder, a negociar? O que poderia ser cedido aqui e ali para se chegar a um consenso e a proposta ser votada?
Eu não vejo que o governo tenha mais que negociar. O governo entregou a proposta que considera fundamental para o país. A discussão, agora, está na mão do Congresso. É isso que o presidente tem caracterizado. É uma responsabilidade do Legislativo avaliar a proposta e dizer: “Isso aqui nós consideramos ok. Isso aqui nós não consideramos ok”. Esse é o jogo democrático. O governo não tem mais o que ceder. Ele entregou aquilo que nós consideramos fundamental.

Tanto Ciro quanto Alckmin disseram que tem uma pegadinha na proposta de reforma: passar uma lei de idade limite de aposentadoria do servidor público abriria a possibilidade de reduzir o tempo de trabalho dos ministros do Supremo Tribunal Federal. Se alguns deles se aposentarem mais cedo, o governo passa a nomear até seis novos ministros. A oposição está dizendo que isso não passa.
O que se buscou colocar na lei ordinária é a questão da idade limite, não de baixar a vigência atual da PEC da Bengala. Por que o que vai acontecer? Como nós estamos vivendo cada vez mais, o limite de idade terá que ser mudado sequencialmente. Então, será menos custoso para o governo ter uma maioria simples para aprovar uma mudança. Essa é a visão do governo.

No Brasil, o Ministério da Educação, uma das pastas mais importantes em qualquer país do mundo, está afundado numa série de intrigas internas. Vélez será mesmo demitido? Há um substituto em vista?
Não sei de nada disso. O ministro Vélez está tentando reorganizar a situação no ministério com as dificuldades obviamente existentes. E o presidente está atento ao que está acontecendo.

Bolsonaro indicou que o ministro será demitido. Será mesmo?
Não vejo que o presidente tenha indicado que sim. O presidente está com um olhar muito aproximado sobre o que está ocorrendo ali.

O senhor atribui ao professor Olavo de Carvalho alguma responsabilidade nesse quadro de instabilidade dentro do MEC?
Se atribui muita coisa ao Olavo de Carvalho sem ele ser o responsável. Não é porque algumas pessoas dentro do ministério comungam das ideias dele que podemos responsabilizá-lo. Não vejo essa influência e essa, digamos, ameaça que significaria alguma pressão vinda do Olavo de Carvalho.

Seria positivo que ele fosse mais contido nos comentários que faz nas redes sociais? Ele não acaba contribuindo para um ambiente de muita instabilidade em alguns setores do governo?
Comentário de rede social você vê ou não vê. O general Santos Cruz já respondeu ao Olavo nesse sentido. Olavo pode contribuir mais se ele colocar coisas propositivas e não criticar em excesso.

Ele contribuiria mais ficando calado?
Não digo ficar calado. Mas você pode apresentar suas ideias de forma mais educada.

O senhor vai ter um encontro com imigrantes brasileiros aqui na sua agenda? Quando esteve em Washington, o presidente Bolsonaro disse que os brasileiros vêm para os Estados Unidos sem boas intenções, depois se corrigiu.
Vou me encontrar com imigrantes brasileiros. São pessoas que moram aqui e votaram na gente. Na região metropolitana de Boston, tivemos em torno de 80% dos votos. As pessoas querem me conhecer, conversar e apresentar suas ideias.

O senhor é o plano B, caso dê alguma coisa errada no governo?
Não. Jamais. Não vai dar nada errado no governo. Sou um soldado do presidente Bolsonaro.

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