metropoles.com

Análise: decreto de Mourão representa vitória dos que agem nas sombras

Mudança nas regras sobre divulgação de documentos aumenta a margem de manobra dos interessados em esconder o uso do dinheiro público

atualizado

Compartilhar notícia

Daniel Ferreira/Metrópoles
Sessão do Congresso Nacional em comemoração aos 30 anos da Constituição  Brasília(DF), 06/11/2018
1 de 1 Sessão do Congresso Nacional em comemoração aos 30 anos da Constituição Brasília(DF), 06/11/2018 - Foto: Daniel Ferreira/Metrópoles

Quaisquer que sejam as justificativas do Palácio do Planalto, o decreto com mudanças nas regras de acesso à informação representa uma vitória dos que gostam de agir nas sombras. Ao ampliar as categorias de funcionários públicos habilitados a estabelecer o sigilo de documentos oficiais, o governo de Jair Bolsonaro (PSL) facilita a vida de quem não quer ser vigiado pela sociedade.

A mesma penumbra que protege – por razões de Estado – atos legais merecedores dos carimbos de “secreto” ou “ultrassecreto” aumenta também o raio de ação no escuro dos que usam cargos na burocracia em benefício próprio.

Enquadram-se nesse campo todos os tipos de lobistas e corruptos entranhados na administração pública. Na realidade atual do Brasil, essas práticas se espalham pelas esferas federal, estadual e municipal, no Legislativo, no Executivo e no Judiciário.

Desde a sanção da Lei de Acesso à Informação (LAI), em 2012, os brasileiros dispõem de mais instrumentos para fiscalizar a administração pública sem a necessidade de intermediários ou, até mesmo, de fundamentação dos pedidos. Vale o princípio da transparência.

Em casos específicos previstos na LAI, a classificação “secreto” ou “ultrassecreto” de documentos era, até agora, privativa das seguintes autoridades: presidente da República, vice-presidente, ministros de Estado, comandantes militares e chefes de missões diplomáticas e consulares.

Assinado pelo presidente da República em exercício, general Hamilton Mourão, o decreto publicado nesta quinta-feira (24/1) permite que funcionários comissionados, não necessariamente efetivos, também tenham prerrogativa para determinar o sigilo de documentos por até 25 anos.

Isso significa que mais algumas centenas de burocratas, muitos tradicionalmente escolhidos por indicação política, poderão decidir se a sociedade tem ou não direito de conhecer os atos assinados pelas autoridades. Assim, os interessados em jogar nas trevas o que se passa nos gabinetes terão mais cargos a preencher com amigos.

O sigilo de documentos é um tipo de censura que o Estado impõe para vedar a divulgação de informações estratégicas. Na ditadura, a proibição de publicação de notícias contra os interesses do governo levou à falsa impressão de que não havia corrupção nos governos militares.

Agora, ao facilitar o acobertamento dos atos praticados pelas autoridades, o governo de Jair Bolsonaro contribui para reduzir mais uma vez a transparência do governo, duramente assegurada pela lei. Esse movimento, por um lado, contraria o discurso de desburocratização e redução do peso do Estado feito em Davos, na Suíça, pela equipe do presidente.

Em outra direção, o decreto do general Mourão abre mais uma fresta de oportunidades para quem não gosta de que a sociedade veja o que se faz com o dinheiro público.

Compartilhar notícia

Quais assuntos você deseja receber?

sino

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

sino

Mais opções no Google Chrome

2.

sino

Configurações

3.

Configurações do site

4.

sino

Notificações

5.

sino

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?