Novas casas de apostas vão chegar no Brasil. Como vai ficar o mercado?

No final de 2023, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou a nova lei das apostas on-line, colocando finalmente em prática o processo de regulamentação da indústria — que já se arrastava desde 2018. Foram mais de 100 empresas de apostas que demonstraram interesse em obter a licença para operar no mercado brasileiro regulamentado. Entre elas estão as norte-americanas Draftkings e BetMGM, mas também nomes poderosos na Europa e na América do Sul como a Betclic e a Caliente.

O setor das apostas vai mudar muito nos próximos anos, tanto pela imposição de novas regras quanto pela chegada de novas casas de apostas. Felipe Pereira, editor do Site de Apostas, um dos maiores portais de apostas online do Brasil, deu uma entrevista ao Metrópoles sobre o que podemos esperar nos próximos anos.

Mais de 130 empresas mostraram interesse em obter licença. Podemos esperar um mercado legal com um número tão elevado de operadores?

Não, ou pelo menos não no começo. Essa demonstração de interesse foi feita porque as empresas querem estar a par das condições para obtenção de licença e de todas as normas do processo. Não quer dizer que vão necessariamente avançar para a obtenção da mesma, até porque ela é uma das mais caras do mundo custando cerca de 30 milhões de reais por 5 anos.

Atualmente existem centenas de casas de apostas online disponíveis para os apostadores brasileiros. Grande parte delas irá sair do mercado e apenas as maiores devem obter a licença logo de início. Vamos ver como será o processo de licenciamento que o Ministério da Fazenda irá definir e se irão ter capacidade para se adaptar caso haja uma grande demanda logo de começo.

O que vai mudar depois da regulamentação?

Para os apostadores, o principal será a sensação de segurança. Hoje em dia muitos jogadores novos se questionam se as marcas de apostas são confiáveis e existe muita desconfiança em relação a várias destas empresas. Algumas dessas desconfianças são justificadas, pois existem várias marcas questionáveis abertas para jogadores brasileiros. Além disso, caso os jogadores enfrentem algum problema, eles vão poder recorrer à justiça brasileira para resolver, o que não acontece atualmente.

Em termos do produto final, não acredito que cheguem grandes novidades no curto prazo. Provavelmente vão existir algumas restrições enquanto as empresas se adaptam à regulamentação (e enquanto a própria regulamentação evolui). Também podemos esperar uma queda na qualidade das cotações (odds) oferecidas para compensar a baixa de receita causada pelos impostos.

E para a economia brasileira?

Será bastante positivo, naturalmente. Com a taxação prevista na lei, o governo espera arrecadar uma renda na casa dos bilhões por ano com essa indústria. É muito dinheiro entrando nos cofres públicos, que será direcionado depois para financiar os esportes, o turismo, a educação, a segurança pública, a seguridade social e a até a saúde.

Outro impacto positivo é a obrigatoriedade das empresas de apostas estabelecerem uma filial no Brasil. Isso significa que vamos ter a criação de vários novos postos de trabalho para os brasileiros, com condições dignas e justas.

Que impacto terá a eventual chegada de novas casas de apostas tão grandes quanto a Draftkings e a BetMGM, por exemplo?

Tudo vai depender da forma como chegam ao Brasil. Se chegarem com um produto adaptado às necessidades dos apostadores brasileiros, então acredito que rapidamente se tornem as maiores casas de apostas do país. Estamos falando de empresas com um poder financeiro enorme, com capacidade para montar uma estratégia de marketing que faça com que fiquem extremamente populares no Brasil em muito pouco tempo.

Elas vão trazer também um aumento da competitividade, o que é ótimo para os apostadores. Quando existem marcas trabalhando bem no mercado brasileiro, o nível de qualidade dos outros players tem de acompanhar. Isso significa melhores produtos e melhores ofertas para os apostadores. A Betano é o exemplo perfeito disso, pois o investimento feito pela marca e toda sua inovação fez com que as outras empresas tivessem de se adaptar rapidamente e subir o nível.

Quais serão as principais dificuldades que estas novas casas de apostas vão enfrentar?

A meu ver, a principal dificuldade vai ser compreender o perfil de apostador do cliente brasileiro. Já vimos no passado muitas marcas se darem mal por chegar no Brasil com um produto muito genérico, sem promoções adaptadas e com uma comunicação ineficiente. É preciso haver uma grande adaptação ao país, e isso passa também pelo planeamento certo e pela contratação de profissionais qualificados, experientes e com um grande conhecimento desta indústria no Brasil.

O timing de entrada no mercado também vai ser muito importante. Se conseguirem a licença ao mesmo tempo que as marcas já estabelecidas no país, talvez facilite a adaptação do produto, já que são previstas algumas pequenas mudanças para ficarem em conformidade com a regulamentação.

É óbvio que não vai ser fácil para as novas marcas, pois a concorrência já é muito alta. Mas o nosso povo adora o fator novidade e muitos apostadores vão querer experimentar essas novas plataformas, mesmo já sendo clientes de outras marcas. Acredito que vão acabar tendo muito sucesso aqui no Brasil.