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A vida depois de… ter uma infância humilde e virar professora

Uma das professoras mais reconhecidas em cursinhos para concursos, Rose Vianna conta como sua trajetória perseverante não é muito diferente da vida de vários concurseiros

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Felipe Menezes/Metrópoles
Brasília (DF), 14/07/2016A Vida depois de me tornar professora
1 de 1 Brasília (DF), 14/07/2016A Vida depois de me tornar professora - Foto: Felipe Menezes/Metrópoles

Em Brasília, basta entrar em qualquer cursinho para saber que existe um time de professores que já viraram famosos por sua metodologia descomplicada, específica e indispensável para toda e qualquer prova de concurso público. Quando a dificuldade do candidato envolve as regras e complexidades da língua portuguesa, a maioria das pessoas sempre indica um nome: Rose Vianna.

A professora, que trabalha de segunda a sábado, vive com a agenda lotada por causa das aulas que ministra em cursinhos pelo DF e em sua própria unidade de ensino, o Instituto IRV.  No entanto, a trajetória de Rose nem sempre foi exitosa. Formada em Letras/Português e Literatura em Língua Portuguesa pela Universidade Católica de Brasília e pós-graduada em Português Jurídico, Rose teve uma infância humilde e uma juventude cheia de dificuldades. Contudo, isso não a impediu de acreditar em seu potencial e se tornar uma referência entre os concurseiros brasilienses – que, por meio de suas aulas, conseguiram, assim como ela, realizar sonhos.

A natureza de toda criança está comumente envolvida em algum tipo de brincadeira. Para Rose, a melhor delas era reproduzir todos os elementos de uma sala de aula, no qual seu papel era o mesmo de sempre: o da professora – caso contrário, ela nem aceitaria brincar.

Quadro negro na mão, giz, apagador e o auxílio das irmãs mais novas – que apareciam como as alunas – são imagens que ainda estão frescas na memória da professora de português que teve uma infância muito limitada, financeiramente.

A leitura me cativa, a escrita me cativa. Sempre há uma indecisão das pessoas quando elas vão fazer vestibular. Eu nunca tive isso. Nunca passou pela minha cabeça que eu pudesse fazer outra coisa.

Rose Vianna

Os pais, que cursaram até a quarta série, ajudaram como puderam, especialmente na época da faculdade, que, de acordo com Rose, foi a fase mais difícil de sua vida. “Tive muita dificuldade financeira para pagar o curso. Fiquei quatro anos e meio no curso de letras e o único livro que tive condições de comprar foi um dicionário de Latim que até hoje me lembro que custava R$ 92 ”.

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Fora as dificuldades em adquirir o material didático para o curso, também estavam as renúncias. No intervalo, o dinheiro do lanche dava lugar às fotocópias dos livros para estudar e à passagem de ônibus. Em algumas vezes, quando saía muito tarde da aula, o pai chegou a colocar álcool etílico no carro porque não tinha condições de pagar pela gasolina.

Outro episódio marcante da vida da professora, ela lembra bem, foi em um dia chuvoso na capital. Sua sandália arrebentou quando estava prestes a chegar ao bloco onde teria aula, circunstância que a obrigou a voltar para casa descalça.

Quem passa por isso sabe que não é fácil. É complicado você querer realizar alguma coisa e ter tantas dificuldades. Eu vejo tantas mães incentivando os filhos dizendo ‘faz que eu pago’ ‘faz que eu banco para você’ e eu penso: ‘Meu Deus, eu nunca tive alguém que pudesse me patrocinar’ porque meus pais não podiam.

Rose Vianna

A experiência, ela afirma, a tornou ainda mais perseverante. Todo o esforço foi recompensado quando ela começou a trabalhar na área, mas isso não impediu que viessem novos desafios. Em seu primeiro emprego, o chefe constantemente diminuía o valor profissional da professora, afirmando que ela era boa, mas que outros professores eram melhores.

“Eu disse a ele que ia chegar o momento em que ele me procuraria e não iria conseguir pagar o que eu exigisse. O tempo passou e foi exatamente isso que aconteceu. Ele me procurou e eu já estava muito bem profissionalmente.”

 

Felipe Menezes/Metrópoles

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Em 2011, depois de 4 anos dando aula para o ensino fundamental regular, Rose recebeu uma lista que tinha a frente e o verso lotados de nomes de pessoas que gostariam de ter aulas voltadas para concursos públicos. Mesmo sem ter inicialmente onde se instalar, em três semanas ela conseguiu fechar a primeira turma. De uma pequena sala na Avenida das Palmeiras, a professora logo viria a ter seu próprio Instituto no centro de Taguatinga, que agora tem até estúdio de gravação para plataforma on-line.

Atualmente, cerca de 40 pessoas se inscrevem por lá a cada curso de Língua Portuguesa. Algumas delas chegaram a ser colegas de faculdade de Rose. O número de inscritos triplica quando ela fecha turmas em outros lugares – com vagas que se esgotam em poucos dias por causa do método prático, leve e eficaz.

“Eu trabalho com língua portuguesa há 12 anos. O que percebo é que alguns professores fazem questão de mostrar para o aluno como é complicado estudar e entender as estruturas. Minha visão é ao contrário. O que me motiva é exatamente mostrar como é fácil entender a matéria porque eu vejo meus alunos como sonhadores e entendo o que eles passam, porque eu já estive lá também”

Nas aulas, além de aprenderem tudo sobre locuções adverbiais, verbos, voz passiva analítica e sintética e outros pormenores da língua portuguesa, os alunos têm uma aula de positividade diante das ansiedades de um futuro incerto. Entre a realização de um exercício de acentuação gráfica e outro de conjunções, Rose sempre fala de como é importante encarar a vida com confiança e, principalmente, fé. Para quem está na busca de uma vaga no serviço público, ela é categórica quando diz acreditar que todos podem se superar e conseguir atingir seus objetivos

“Sempre soube que todas as dificuldades eram um processo. Porque eu tinha um objetivo e era determinada. Aparentemente todo o sucesso da empresa parece ser o mérito da minha vida, mas na realidade o mais gratificante é receber notícias de alunos, que assim como eu, realizaram seus sonhos e que eu ajudei nesse propósito. ”

Rose Vianna

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