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Crítica: “Eros” mostra bailarinos como eróticos amantes

A peça reúne beleza e sensualidade em um clima de despojamento e simplicidade

atualizado

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Maíra Zannon/Divulgação
Eros Créditos Maíra Zannon (3)
1 de 1 Eros Créditos Maíra Zannon (3) - Foto: Maíra Zannon/Divulgação

Como o desejo sexual se apropria do nosso corpo e se transforma em movimento? Essa é uma questão que norteia “Eros”, encenação em cartaz no Teatro Garagem até este domingo (18/3), e, em breve, nos teatros Sesc do Gama e de Ceilândia. Os quatro bailarinos em cena representam, simultaneamente, um único papel: o de amante. Não o que mantém casos extraconjugais, mas sim aquele que ama.

“Eros” é a primeira obra da chamada Trilogia do Amor, que, depois do olhar erótico, abordará aspectos mais fraternos e universais do sentimento. Sua mentora é a bailarina e professora Elisa Teixeira, estreante na criação de espetáculos exibidos no circuito cultural da cidade. Para desenvolve-lo, Elisa bebeu na fonte de um solo que dançou no passado, inspirado no livro “Fragmentos de um Discurso Amoroso”, de Roland Barthes, e também da mitologia grega.

Assim como no amor físico, o toque tem lugar de destaque. A intimidade entre os bailarinos é evidente e a carga sensual se intensifica e diminui ao longo da apresentação. Os movimentos têm a descarga emocional e a duração do encontro amoroso. A fricção das peles e os movimentos sinuosamente encaixados dão a tônica do gestual de “Eros”.

Apesar de se debruçar sobre a eletricidade do encontro, Elisa buscou inspiração em outros momentos amorosos, como o turbilhão do êxtase, a agonia da saudade, o abismo de sentir. Embora passeie por esses momentos, o espetáculo baseia-se em uma gama relativamente pequena de ações físicas.

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Não há cenografia. As performances ocorrem dentro de um galpão, o palco aberto, em seu estado cru. Tampouco a iluminação se destaca. Lá e cá, injeta um pouco de cor no quadro. Em um jogo de entrar e sair da própria pele, os atores vestem e se desnudam de suas roupas brancas e pretas.

A trilha sonora elegante, assinada por Luiz Olivieri, quase não se faz presente. A maior parte da coreografia é feita em silêncio, embalada pela respiração e pelos passos dos bailarinos no tablado. O silêncio e a repetição de movimentos trazem a sensação de que a montagem se estende além do necessário.

Algumas escolhas coreográficas surpreendem: as batidas do coração de um amante são sempre feitas pelas mãos do parceiro. Em alguns momentos, a vertigem amorosa é representada por corpos que andam pelas paredes, em ângulos paralelos ao chão. Outro acerto é ampliar a sexualidade e inserir cenas entre os performers homens e as mulheres em separado. O encontro dos dois bailarinos em torno de um cigarro, por exemplo, reúne beleza, simplicidade e erotismo.

O despojamento traz a impressão de que o espectador teve acesso à sala de ensaio e está diante de um work in progress, e não de um trabalho pronto. Talvez por isso a própria criadora defina o trabalho como uma encenação, e não um espetáculo. Este minimalismo, presente no conceito e na execução de “Eros”, gera admiração e incômodos na mesma medida.

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