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Campanha na internet ajuda família despejada antes do réveillon

Família foi obrigada a deixar a casa onde morava no Recanto das Emas após atraso de dois meses no aluguel. Hoje, pai precisa de emprego

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Michael Melo/Metrópoles
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1 de 1 Michael Melo/Metrópoles - Foto: Michael Melo/Metrópoles

“Depois disso, eu aprendi a olhar mais para o outro, assim como esses anjos olharam para a gente”, afirma Ubirajara Melo, 40 anos. Com um sorriso no rosto e a certeza de que a tristeza de hoje ficará para trás, o ex-servente de pedreiro contou à reportagem do Metrópoles como foi se ver obrigado a morar na rua, debaixo de chuva e sem ter o que dar de comer para os seis filhos e a mulher.

Era dia 31 de dezembro, virada do ano, quando Ubirajara e a esposa, Patrícia Sousa, 40, foram despejados pelos proprietários da casa que alugavam no Recanto das Emas, após dois meses sem pagar o aluguel. Não houve piedade. Os donos do imóvel não esperaram pelo ano-novo. Mesmo sem uma ação de despejo, não esperaram que o casal arranjasse outro local para morar. No último dia de 2016, Ubirajara, Patrícia e as seis crianças, que têm entre 11 meses e 10 anos, viraram sem-teto.

A família saiu de casa sem rumo e resolveu ir para a beira do Lago Paranoá ver os fogos que saudavam o ano-novo. Por lá mesmo, na Praça dos Orixás, ao lado da Ponte Honestino Guimarães, montaram uma barraca e ficaram. Desempregado há dois anos e com os bicos de ajudante de pedreiro cada vez mais escassos devido ao problema de visão que quase o deixou cego, Ubirajara passou a vigiar carros em busca de trocados para comprar alimentos.

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A barraca improvisada foi a casa da família desde 31 de dezembro

 

Restos de verduras no lixo e um fio de esperança
Desde o réveillon, Patrícia tentava entreter as crianças, que insistentemente pediam para voltar para casa. Até que um dia, acabou o dinheiro para os alimentos. O casal e as crianças foram, então, até um supermercado do Lago Sul. Na lata de lixo, acharam restos de verduras para uma sopa. E foi naquele momento mais difícil, quando tudo parecia sem solução, que a ajuda inesperada apareceu. Enquanto desciam a ponte, voltando para “casa” com as crianças e os restos de comida, a família foi parada por um homem.

Ele perguntou por que eu estava ali com meus filhos. Fiquei com medo, achei que era a polícia querendo levar as crianças, quase chorei. Mas, na verdade, ele ficou preocupado com os meninos. Ouviu toda a minha história e depois perguntou se eu queria ir lá na casa dele arrumar o jardim, pintar um muro…

Ubirajara Melo

O estranho, um advogado de 38 anos, tem uma esposa, uma médica de 37. E os dois foram verdadeiros anjos da guarda da família que vagava pelas ruas de Brasília. O Metrópoles conversou com o casal, que pediu para não ter os nomes publicados.

Campanha na internet
Ao ouvir a história triste da família de Ubirajara, a médica começou uma campanha na internet. “Eu percebi que ele tem uma deficiência nos olhos, vi que era uma família amorosa, que não se abatia apesar de tudo. Eu lido com todos os tipos de gente, sou médica e, para mim, todos são iguais. Somos todos humanos e ninguém é melhor que ninguém”, explicou.

Com a ajuda de amigos, a médica conseguiu cerca de R$ 2,5 mil. O dinheiro foi usado para organizar as dívidas de Ubirajara e Patrícia, que alugaram uma casa no Recanto das Emas, perto de onde eles moraram a vida toda. Mas a ajuda vai além do dinheiro.

A conta da família no banco foi regularizada, uma consulta oftalmológica para ver o problema de visão de Ubirajara está marcada e ele ganhou até um celular. As crianças receberam roupas e material escolar. Também foram arrecadados alimentos e móveis, já que os proprietários da antiga casa colocaram toda a mobília e demais objetos da família na rua e quase tudo foi roubado.

A mudança está marcada para este sábado (28). O frete já está reservado para levar as malas e a família para a nova casa. Assim, a noite de hoje será em uma cama quente e confortável.

 

REPRODUÇÃO

 

Busca por emprego
Agora, para que tudo volte ao normal, Ubirajara está em busca de emprego para poder bancar as despesas da casa, já que dinheiro doado deve durar pouco tempo.

Tudo o que eu mais quero nessa vida é um trabalho, ser digno, voltar a dar exemplo para os meus filhos. Hoje em dia, aceito qualquer coisa. Sei pintar casa, sou ajudante de pedreiro, mas se puder ser algo na área de limpeza, melhor ainda, porque, como eu não enxergo bem, dá para fazer com tranquilidade

Ubirajara Melo

A boa notícia é que, na segunda-feira (30), Patrícia tem uma entrevista de emprego para uma vaga como empregada doméstica. Quanto às crianças, a família entrou em contato com a Secretaria de Educação para tentar matricular os meninos em escolas e creches.

Michael Melo/Metrópoles
Fogão improvisado tenta garantir a comida para as crianças

Agora, o objetivo é deixar os dias difíceis para trás. “O povo teve muita discriminação com a gente. Achavam que estávamos aqui por preguiça, porque queríamos essa situação. Ouvi muita coisa, muita humilhação. Nunca pensei que fosse passar por isso. Fiquei preocupado com o que seria dos meus filhos, até que esses anjos apareceram”, disse Ubirajara, enquanto Patrícia, calada, chorava.

No fim da conversa com o Metrópoles, Bira, como é conhecido, fez um pedido a quem ler esta reportagem: que comece a ouvir a história das outras pessoas. “Eu nem dormi a noite passada de tanta ansiedade e alegria, sabe? A partir de agora, vou querer saber a história de quem está do meu lado e tentar ajudar mais”, afirmou.

Você pode ajudar Ubirajara com uma vaga de emprego? Ligue para (61) 99853-4432

 

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Bira, com a esposa: “A partir de agora, vou querer saber a história de quem está do meu lado e tentar ajudar mais”

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