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Somos fruto da convivência com nossa família e nossos amigos

É difícil pra caramba conviver! É puxado ouvir choro, grito, demandas carentes, birra de criança e de adultos

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mão familia
1 de 1 mão familia - Foto: iStock

Mãe de família, tenho tido a oportunidade de conviver num casamento há 16 anos, e ser mãe de três crianças há quase uma década. Além de ser filha e irmã há outros 39 anos.

Devo dizer que toda e cada uma das palavras que aqui escrevo são fruto dessas convivências, que me lançam no fogo que forja o metal nas mãos do Grande Ferreiro.

Se eu sou as palavras, minha família é o papel. Simples assim.

Romântica? Não mesmo… Esse enredo se passa muito mais numa narrativa digna de novela: recheada de baixarias, algazarras e perda de controle. E nem adianta disfarçar.

Mesmo a mais polida das almas sabe o que acontece quando um filho derrama o copo de suco de uva em cima do celular dos pais na mesa do jantar.

É difícil pra caramba conviver! É puxado ouvir choro, grito, demandas carentes, birra de criança (e de adultos!).

É o lar, queridos amigos, a oficina das almas! Quer queiramos ou não. Somos um bicho estranho. Estranho pra valer!

E por mais que a convivência cause profundas dores, são elas que apontam os aspectos de nossa infância espiritual que tanto precisam experimentar os amadurecimentos da vida.

Mergulha na tua vila, e será universal
A frase inspirada em León Tolstoi é a síntese das compreensões mais recentes de minha alma.
Na busca obstinada, sempre sedenta de respostas, garimpei em livros, terapias, cursos e formações espirituais diversas, o preenchimento dos vazios que tanto doem.

Caminhei muito, viajei, paguei caro, li bastante. E, por certo, muitas percepções foram sendo bastante sensibilizadas ao longo desse processo.

No entanto, após as tantas voltas que a vida dá, dei-me conta que a existência, por si só, é a maior escola que cada um pode ter, bem ali, dentro da nossa vidinha, em sua simplicidade, tal qual ela é!

Não sei quantos ‘simples mortais’ terão a capacidade de perceber isso sem antes precisar dar umas boas rodadas pelo mundo. Sei que eu não sou um deles. Precisei girar à beça. Ainda o faço.

Não me arrependo de nenhum dos passos dados, e aqui não me desfaço de qualquer técnica ou filosofia às quais recorri.

Mas não vou deixar de dizer que percebi que a vida é realmente pródiga em nos proporcionar, com precisão, a experiência que tanto precisa ser apreendida.

Encarnação não tem endereço errado
A vida é perfeita, sábia e detalhista. Cada um vem com a sua programação evolutiva específica, delineada e ordenadamente conduzida pelo seu magneto interno: ele, o magneto, atrai exatamente o que todo ser precisa para desenvolver seus mais prementes potenciais.

Percebi que a escola mais perfeita que eu precisava estava bem embaixo do meu nariz, dentro de casa, no convívio com minha família:

  • É aqui que minhas reações violentas explodem de forma desconcertante.
  • É aqui que o medo de ser abandonada mostra seus dentes.
  • É aqui que a mania de controle, para lidar com a insegurança que amedronta minha criança interna, vem à tona.
  • É aqui que as suscetibilidades, fragilidades e terrores mostram sua face.

Para alcançar esse nível de “descortinar interno” numa vivência terapêutica, haja habilidade e responsabilidade na condução de uma catarse! Alguns poucos sistemas confiáveis oferecem isso com segurança, e aqui não me desfaço deles.

No entanto, chama a atenção o fato de que já temos os melhores professores ao nosso lado e costumamos passar despercebidos disso. Todo santo dia, permanecemos cegos, mudos e surdos.

Nesse sentido, sou insistente e sempre repito a frase de Chico Xavier: “Encarnação não tem endereço errado”. Nascemos no lar que precisamos para evoluir e desenvolver os nossos potenciais.

Sobre fugas, ressaca e encontro com o mapa da mina
Diante de toda a confusão que se apresenta no convívio, muitas vezes optamos por fugir. Afundamos nossos olhos nos celulares. Entramos em contato com desconhecidos pelas redes sociais.

Nos ocupamos do que sentem os velhos “amigos” de outrora: descobrimos onde estão passando as férias, jantando ou como celebraram seu aniversário de casamento. Vemos vídeos, memes, notícias tantas.

Pouco focamos nossa atenção na dor do companheiro ao lado. Pouco ouvimos nossos filhos. Pouco reparamos no mar das emoções interiores.

Diante desse cenário – que superficialmente parece desolador – escolho me acolher, me colocar no colo, respiro e digo: “Calma, Danizinha, fugir é normal. É difícil mesmo encarar essas dores todas de uma só vez! Vamos respirar e conversar com calma?”.

A hora em que a ressaca bate, é o momento perfeito para lambermos nossas próprias feridas. É a hora de ligar o som bem alto, e celebrar o encontro com o mapa da mina.

Justo ele, que até então estava perdido nas estantes da velha biblioteca: nos vemos caminhando por seus empoeirados corredores e, de repente, o mapa-pergaminho-das-emoções-perdidas se solta de uma prateleira esquecida e cai diante de nossos pés, clamando por ter seus enigmas interpretados.

Uma lida por vez
Muitas discussões entre casais, irmãos, pais e filhos, por motivos banais, mostram em suas entrelinhas a disputa de poder, o desprezo pelo sexo oposto, o veneno do ciúmes, a violência disfarçada em lágrimas vitimizadas, o fantasma da culpa traduzido em matizes mil. Apenas algumas entre outras tantas chagas.

Não há guru no mundo, pastor, papa, reunião mediúnica, livro sagrado ou viagem à Índia que me ensine o que posso aprender numa rodada de brincadeiras com meus filhos. Cada um sabe onde seu calo aperta, eu sei do meu.

Dia desses tive uma experiência transcendental ao me observar apavorada diante da algazarra dos três filhos, disputando uma propriedade do Banco Imobiliário, como bárbaros.

Ok, crianças fazem isso! Não foi o comportamento delas que me chamou a atenção, mas, antes, como EU me senti naquele instante.

A perda do controle, o medo de como-eles-serão-um-dia, a frustração que sinto diante da desordem manifestada pelo desejo de outrem, enfim, mil e um aspectos que pipocam na hora do convívio.

Isso, para citar um exemplo que só-parece-bobo, mas que me foi absolutamente magistral.

As delícias do autoacolhimento
No momento de silêncio seguinte ao ocorrido, repassei as cenas em minha mente, e fui submetendo-as ao pente fino nas reações descabidas.

Longe de me culpar, fui investigando amorosamente minhas entranhas. “Gritei por que? Senti o borbulhar da frustração pra que?”.

Acolhi minhas naturais manifestações, gostosa e calmamente. E em seguida, convidei-me a refletir: “Estamos aprendendo, eu e eles! Precisamos ter o espaço de testar, de cair, errar. Vamos rir mais das besteiras!

Como diz o Mestre Gurulino, ‘o humor salva a paciência, que salva o amor, que salva o mundo’!”.

Revisitei as cenas e as recriei com as melhores reações que consegui vislumbrar. Dali em diante, fiquei ligada para a próxima vez que o copo de suco cairia, porque ele vira de novo, é certo!

Ensaiei minhas novas reações. Fiquei plena de deliciosas expectativas, uma alegria de quem está doido para chegar em casa e usar a roupa nova da sacola recém-saída da loja.

Me vi quase ansiosa para ver chegar o dia em que a oportunidade se apresentaria novamente! A hora chega, e lá estou eu, empolgada, disposta, animada para estrear os músculos mais treinados.

Por menor que seja a mudança, ajo diferente. Em seguida do novo desfecho, me acho a tal! Veni, vidi, vici: vim, vi, venci! Consegui!

Permito-me comemorar-me, celebrar-me! Até a próxima queda, pelo menos. Só que agora, uma queda sempre seguida de acolhimento, conversa e convites novos a mim mesma!

A vida segue, a e a gente vai se construindo, se ensaiando, se testando, na bendita escola do convívio.

Regra de ouro vem de um transbordar interno
Descobri que sou minha melhor amiga, parceira, treinadora, atacante número um do meu time. Sou tudo pra mim!

Entendi que a regra de ouro do Cristo se baseia exatamente nisso: em me amando, transbordo amor aos demais!

Quando consigo observar as manifestações da minha infância espiritual, sem julgar ou condenar, mas com a objetividade serena de quem se auto-analisa de uma forma ousadamente pragmática, posso ir além e realmente amadurecer.

Observo, acolho minhas necessidades, valido-as, esclareço-as, faço novos convites mais maduros a mim mesma, revisito as cenas, revivo, ensaio novas reações, vou criando algo diferente nesses diálogos internos, que sabe-se lá Deus onde vão dar…

… só sei que vão frutificar, certamente, num lugar muito mais florido, onde sopra a brisa leve dos dias ensolarados e livres, que tanto anseiam por ser vividos.

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