Oksana, a veterana da ginástica que já competiu para salvar o filho
Aos 41 anos, Oksana é considerada uma lenda da ginástica e a Rio 2016 foi nada menos que a sua sétima Olimpíada
atualizado
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Quem assistiu à final do salto feminino na ginástica artística, no último domingo, deve ter reparado em uma competidora que destoava das demais. Se, de longe, o porte atlético e o cabelo com franjinha “camuflavam” a ginasta uzbeque Oksana Chusovitina, bastava um close da câmera para perceber os traços de uma mulher madura.
#GinásticaArtistica Aos 41 anos e em sua 7a Olimpíada, #UZB Oksana Chusovitina no salto. ??? pic.twitter.com/HvaQ5P76YW
— Rede do Esporte (@RedeDoEsporteBr) August 14, 2016
Aos 41 anos, Oksana é considerada uma lenda da ginástica, tida como uma modalidade de “adolescentes”. Esta foi nada menos que a sétima Olimpíada da atleta, que estreou nos Jogos em Barcelona, em 1992, quando quase todas as rivais da final de domingo nem sequer tinham nascido. “Como alguém na sua idade se atreve a fazer isso com o próprio corpo?”, disse a também lendária ginasta Nadia Comaneci sobre Oksana.
A longevidade da atleta no esporte seria motivo suficiente para assombro e admiração, mas sua trajetória tem ainda mais detalhes impressionantes. Além de já ter representado três países nas Olimpíadas – a Comunidade dos Estados Independentes (formada pelos países da extinta União Soviética), a Alemanha e o Uzbequistão – Oksana chegou a competir para salvar a vida do filho.
Em 2002, quando o menino Alisher, então com 3 anos, foi diagnosticado com leucemia, Oksana e o marido se mudaram para a Alemanha, em busca de tratamento. A ginasta já era uma figura muito querida no Uzbequistão, mas, por lá, não havia locais adequados para tratar do câncer do garoto, e a família tampouco possuía seguro saúde.O trio passou a viver na cidade de Colônia e Oksana começou a treinar com a equipe alemã. A atleta pediu a cidadania e, nas Olimpíadas de Pequim, em 2008, competiu sob a bandeira germânica. Na época, já com 33 anos, ela ganhou sua primeira medalha olímpica individual, de prata, pelo desempenho nos saltos. O valor que recebia com as premiações ia diretamente para pagar os cuidados médicos do filho.
Pouco depois de voltar para casa vinda de Pequim, contudo, Oksana recebeu o maior prêmio: após seis anos de tratamento, Alisher estava curado. “Com medalha, sem medalha, isso realmente não tem importância quando você ouve uma notícia como essa. Quando seu filho está saudável, você não pode comparar isso a nenhum feito atlético”, disse ela à ESPN.
Nada de aposentadoria
Desde então, quem acompanha as notícias da ginástica aguarda a aposentadoria de Oksana. Em 2012, em Londres, ela chegou a dizer que seria sua última competição oficial, mas mudou de ideia no dia seguinte. Recentemente, ao ser questionada por uma jornalista do “The New York Times” sobre as razões que ainda a mantêm no esporte, ela resumiu: “porque eu gosto”.
Na mesma entrevista, ela confessou que agora é o filho que se preocupa com ela. “Mãe, não complique as coisas. Seja cuidadosa”, diz o jovem de 17 anos, segundo Oksana.
Conselho que ela não parece muito disposta a ouvir. Na final de domingo, a ginasta executou o Produnova, uma acrobacia dificílima, também conhecida como o “salto da morte”. Um forte desequilíbrio na aterrissagem a deixou na última colocação. Mas estar entre as sete melhores do mundo é para poucos – ainda mais considerando seus 41 anos. E, ao que tudo indica, se depender de vontade de Oksana, ainda a veremos competir por mais alguns anos.