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Amor bandido. Adolescente, ela se apaixonou pelo cara errado

Na minha frente uma adolescente que, nos arroubos típicos da fase, e apaixonada pelo namoradinho, chegou ao cúmulo de cometer um crime

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gabirela
1 de 1 gabirela - Foto: iStock

Crime de roubo cometido por uma mulher. A raridade da situação me fez esperar com o olhar a sua entrada na sala de audiência. Demoro-me no seu rosto. Uma criança! Com a pouca altura e tão magrinha, parecia ter menos de 14 anos. Não deixo de notar que era bonita e tinha uma expressão doce.

Vinha acompanhada pela mãe, uma senhora humilde, vestindo certamente a sua melhor roupa e com os cabelos presos num coque bem apertado. Chega a hora de ela me contar a sua versão dos fatos. Inicio o interrogatório. Sim, a denúncia é verdadeira, tudo aconteceu exatamente daquele jeito mesmo, quando estavam caminhando por uma quadra na Asa Norte.

— Mas você sabia a idade do rapaz?

— Sim, ele era meu namorado.

— Mas você sabia que ele estava armado?

— Sim, ele me mostrou a arma e disse que ia ganhar um celular para mim; eu só não achava que a arma fosse de verdade, nem achava que ele fosse pegar o carro da moça.

— Mas você fez alguma coisa durante o assalto?

— Sim, quando a moça tentou correr, eu segurei no braço dela e falei que ele ia atirar.

A mãe quietinha lá no fundo, chorando contrita, discreta.

Ainda querendo confirmações da participação dela, pergunto como é que ela foi parar naquela situação. Neste ponto, ela começa a chorar um pouquinho também: “Eu gostava muito dele, Dra.”

Não tenho mais dúvida. Na minha frente uma adolescente que, nos arroubos típicos da fase, e apaixonada pelo namoradinho, chegou ao cúmulo de cometer um crime.

Encerro minhas perguntas e nenhuma das outras mulheres presentes (a promotora e a advogada) quiseram fazer outras.

Desligo o gravador e passo às despedidas, já fazendo mentalmente as contas da pena mínima para aquele caso. Roubo qualificado, duas vítimas, corrupção de menor, considerando o mínimo do mínimo de tudo, pouco mais de 6 anos e 4 meses de reclusão. Não cabia nenhum benefício. Um dia, ela seria efetivamente presa.

Já estavam saindo quando a mãe me fala: “Posso fazer uma pergunta?”.

Pode.

— Quando eles vão lá em casa?

— Eles quem?

— A polícia, doutora, quando eles vão levar minha menina? Vai ser ainda essa semana?

Ver aquela mãe, totalmente consciente do erro da sua filha e de que ela seria presa, fez cada fibra do meu coração ranger um pouco.

Explico a ela que realmente sua filha cometeu um crime e receberia uma pena de prisão. Mas que seria intimada para se apresentar e, se assim fizesse, a polícia não iria na sua casa. Parabenizo a mãe por ter acompanhado sua filha, contando-lhe que tenho notado ser cada dia mais rara a presença das famílias nas audiências criminais. A mãe agradece muito, diz que já estava conformada com o fato de que ela seria presa, mas que não queria vê-la saindo da própria casa com a polícia.

Vão embora, de mãos dadas.

Faço um bilhetinho para mim mesma: na sentença, conceder desde logo benefícios de trabalho externo e saídas temporárias.

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