metropoles.com

Limoncello: amarga no bolso, mas salva no paladar

Restaurante italiano aposta em uma decoração robusta, mas a comida entregue não corresponde a toda esta pompa

atualizado

Compartilhar notícia

Divulgação
limoncello
1 de 1 limoncello - Foto: Divulgação

O limão-siciliano está por toda parte. No nome do restaurante, enfeitando as louças com desenhos e nas cores de muitos objetos. Sim, você está no Limoncello, restaurante que pretende ser chique, cobra preços de restaurante Michelin, mas a comida entregue não corresponde a toda esta pompa.

Todos sabem que ser empresário no Brasil é quase um ato de heroísmo. Mas, para combater a alta carga de impostos, inflação e custos trabalhistas, deve-se ter na manga ingredientes como criatividade e opções tão saborosas de corte de carne – como, por exemplo, um músculo cozido por horas – quanto o filé nosso de cada dia (não aguento mais, parece que só existe esta parte óbvia da vaca). O mesmo se passa com os pescados: só se encontra robalo e salmão na cidade. Uma pena, já que a variedade de peixes é enorme, basta boa vontade e criatividade para prepará-los.

Para começar, o cardápio do Limoncello é confuso. Cita regiões italianas, onde alguns dos pratos da carta não são feitos. Soa pretensioso e sem necessidade. Parece que querem embalar uma coisa de um jeito e ela é de outro. Há certa forçação de barra para que se lance o Limoncello a um patamar de Gero. Isso não vai acontecer. São dois bichos distintos.

No Limoncello, o couvert (R$ 39 – a porção) é servido numa louça bonita, imitando uma folha, com tomatinhos cereja temperados com alho, manteiga de erva, muçarela de búfala, azeitonas, parmesão e azeite, acompanhado de pães. Palmas para os tomatinhos e para a manteiga, bem feitos e temperadinhos. Deve-se ter mais cuidado com o pão, que vem frio e murcho.

Divulgação

Estive no Limoncello meia dúzia de vezes, sendo que as três últimas a trabalho para a coluna. Testei o executivo, o almoço normal e o jantar. No geral, os pratos têm porções generosas, chegam quentes à mesa e são bem executados, com um ajuste e outro para fazer. Lembro que o restaurante, em pouco tempo de funcionamento, mudou de chef umas três vezes.

Os principais, com peixe e carne, não valem o preço pagos por eles. O Filé Rossini (foto no alto) – servido com foie gras molho de vinho marsala, risoto de alho negro e couve crocante – custa a bagatela de R$ 129. E o Branzino al Limoncello, robalo em cama de legumes, bisque de camarão com mascarpone, camarões grelhados e couve crocante, “módicos” R$ 119.

O filé veio no ponto certo, com o crispy de couve sequinho. Porém, o risoto não veio como manda o figurino. Precisava estar mais caudaloso, como nas receitas tradicionais. O peixe chegou a contento, com uma bela crosta no exterior e preservando a umidade interna, acompanhado de um bisque aveludado e dois camarões graúdos com bom tempero e textura.

Já a polenta Cacio Pepe (com queijo e pimenta), que comi no executivo (R$ 65 – entrada, principal e sobremesa), estava com pelotas, aqueles grumos desagradáveis. Deveria estar mais lisa e mais encorpada. Não gostei também do sabor do molho de atum que vinha em cima do rosbife. Com certeza foi feito com atum em lata e maionese. Dispensável. Os sabores brigaram, além de não estar gostoso no paladar.

O melhor prato que comi foi o rigatoni com lingüiça, polvo e fonduta de queijo. Massa al dente, intenso no sabor: a vontade era de comer mais e mais. Também estava no executivo, este sim a preços pagáveis. Eis a prova de que é possível fazer boa comida a um preço atrativo.

Para muitos, o ambiente é refinado. Como arquiteta, vejo pinceladas de bom gosto, como o mobiliário antigo, mesas, cadeiras e aparadores. Há bom espaço entre as mesas, o que garante a privacidade dos comensais, além de um jardim ideal para as noites.

Porém, a quantidade de materiais usados me deixa totalmente confusa. Não é harmônico. A casa usa tijolinhos aparentes em duas versões nas paredes; porcelanato no piso; pintura de cimento queimado no teto e o balcão com nova cerâmica texturizada. Lembra-me muito o Palácio Nacional da Pena, em Sintra (Portugal), construído numa profusão de estilos (isso não é um elogio!).

A permanência no restaurante Limoncello é comprometida pela música ambiente. Desagradável. Aquela seleção com músicas cafonas italianas é perturbadora. Não sei o que se passa na cabeça dos donos de restaurantes temáticos, principalmente os italianos, que insistem em colocar música cantadas na língua do país. Convenhamos, a musica italiana é super baixo astral, tirando as histriônicas tarantelas e a insuportável Laura Pausini.

No site, encontra-se o cardápio. Isso demonstra a preocupação do dono com o cliente. Mas o que adianta ter o menu sem os preços? As casas de Brasília precisam muito, mas muito evoluir neste sentido. Informação é tudo. Lembrem-se disso…

Cortês sim; omissa, não.

DEVO IR?
Só se tiver dinheiro sobrando. Há italianos melhores.

PONTO ALTO:
Os pratos são bem executados.

PONTO FRACO:
Os preços dos pratos são exorbitantes. E a música ambiente é insuportável.

Limoncello
402 Sul, Bloco A, Loja 33, 3226-3208.

Compartilhar notícia

Quais assuntos você deseja receber?

sino

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

sino

Mais opções no Google Chrome

2.

sino

Configurações

3.

Configurações do site

4.

sino

Notificações

5.

sino

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?