metropoles.com

2016: o ano para mudar comportamentos

Sair de casa para comer é um dos meus maiores prazeres e sei que há muitos que compartilham dessa prerrogativa. Comer algo não é unicamente uma necessidade fisiológica. Comer, em um clima agradável, faz parte de um processo que nutre a alma, que nos relaxa após um dia estressante de trabalho, que enaltece momentos marcantes e de comemoração em nossas vidas. E, para isso, é necessário que o mínimo de etiqueta seja seguido.

atualizado

Compartilhar notícia

Ilustrações: Kácio Pacheco
1 de 1 Ilustrações: Kácio Pacheco - Foto: null

Sair de casa para comer é um dos meus maiores prazeres e sei que há muitos que compartilham dessa prerrogativa. Comer algo não é unicamente uma necessidade fisiológica. Comer em um clima agradável faz parte de um processo que nutre a alma, que nos relaxa após um dia estressante de trabalho, que enaltece momentos marcantes e de comemoração em nossas vidas. E, para isso, é necessário que o mínimo de etiqueta seja seguido.

Infelizmente, sinto que, a cada dia, o brasileiro está mais mal educado. E tal postura independe de quantos anos ele passou em bancos escolares ou do preço a ser pago na conta. Refiro-me à educação da alma, de porte, de índole. Vamos de mal a pior. Quem sabe não está na hora de uma reflexão coletiva sobre o assunto. Quem sabe, em 2016, não criamos coragem para mudar, pois se continuar assim voltaremos à barbárie.

Pois bem, uma cena talvez possa sintetizar esse comportamento desagradável e corriqueiro dos dias de hoje. Estava em um restaurante na semana passada, na hora do almoço, e um senhor bem apessoado, de paletó e gravata, falava aos berros no celular, comia o pão quentinho do couvert e pedia o prato principal para o garçom. Tudo ao mesmo tempo agora. A cena era chocante, de profundo constrangimento.

Primeiramente, não tenho interesse na conversa do homem, mas a sensação é a de que o mancebo quer que todos saibam do seu assunto. Segundo, aprendemos desde criança que não se fala de boca cheia. E terceiro, o atendente não estava entendendo nada do que o dito cujo pedia, pois ele falava – concomitantemente – com o interlocutor do outro lado da linha. Aí, num determinado momento, ele resolve aumentar ainda mais o tom de voz para fazer o pedido, achando simplesmente que é um problema de comunicação.

Somos uma sociedade, vivemos em grupo e, gostando ou não, há regras a serem seguidas. É desrespeito triplo: com quem conversa ao telefone, com o comensal que está no restaurante e com o profissional que o atende. E pasmem, 15 minutos depois de balbuciar o que queria, já com outros comensais à mesa numa conversa de 300 decibéis, ele ainda reclamou duramente porque seu prato não havia chegado. Francamente, quase me levantei e dei umas boas palmadas naquele sujeito.

Não sou fresca, nem preciso estar num monastério, mas a conversa da mesa é da mesa. Não precisa ser do restaurante. A sensação que tenho é que as pessoas estão sendo criadas ao lado de liquidificadores ligados ou minas de carvão. Por isso, só sabem falar arrebentando as cordas vocais. Em alto e péssimo som. Por favor, regule sua voz.

E mais: o que é chegar a um restaurante e ter crianças com seus tablets, também em alto e péssimo som, com filminhos e joguinhos estridentes? Pais, controlem seus filhos ou fiquem em casa. O espaço público não pode ser invadido dessa maneira. É desrespeitoso, desagradável. E vá você reclamar. Talvez ouça um sonoro: “Mas é criança… É assim mesmo”. Desculpe, não é e não deve ser assim. O descanso dos pais não deve ser o meu tormento ou o seu.

Presenciei cenas dantescas e resolvi me respeitar, já que muitos não têm consideração com o espaço alheio. Várias vezes, peço para mudar de mesa ou vou embora quando me deparo com gritos e mau comportamento em restaurantes. Já usei a técnica de olhar de cara feia, mas a grande maioria não se toca. Já não tenho idade para o vizinho de mesa achar que o estou cantando. Em alguns momentos, penso duas, três, dez vezes antes de sair de casa. Ou escolho lugares onde o respeito ainda possa ser um parâmetro de convivência.

Lembro-me de cenas do filme de Fernando Meirelles, baseado no livro de José Saramago, “Ensaio Sobre a Cegueira”, e penso que, muito em breve, caso não mudemos o nosso comportamento nos restaurantes ou em qualquer lugar onde transitamos, estaremos perdidos. À beira da falência da espécie humana. Por um 2016 com mais postura e consideração com o prazer coletivo.

Cortês sim; omissa, não.

DEVO IR?
Sim. Saia sempre, sempre que permitirem você ter bons momentos em um restaurante.

PONTO ALTO:
A esperança

PONTO FRACO:
A atitude humana

Compartilhar notícia

Quais assuntos você deseja receber?

sino

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

sino

Mais opções no Google Chrome

2.

sino

Configurações

3.

Configurações do site

4.

sino

Notificações

5.

sino

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?